Produtores recorrem ao queijo para aumentar renda

Descontentes com “baixo preço” que empresas de laticínios pagam pelo leite, trabalhadores viram a necessidade de diferenciar o produto que colocam no mercado

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 16/02/2019
Horário 05:20
José Reis - Cerca de 100 produtores receberam capacitação para fomentar produção do queijo
José Reis - Cerca de 100 produtores receberam capacitação para fomentar produção do queijo

Em Narandiba, a produtora rural Maria Cristina Pereira da Silva, 44 anos, é conhecida por abastecer as escolas do município com as hortaliças que cultiva em sua própria propriedade. Embora esteja satisfeita com a rentabilidade do negócio, ela vê grande parte de sua produção ser desperdiçada nos períodos de recesso escolar. Interessada em investir em uma atividade que agregue mais valor ao que produz, a moradora aceitou o convite de participar de um curso de capacitação promovido pela Prefeitura de Presidente Prudente, em parceria com instituições de ensino superior e de formação e assistência técnica, para aprender as técnicas de confecção e comercialização do queijo artesanal. A matéria-prima já está disponível, já que seu marido recolhe leite todas as manhãs, no entanto, ainda falta o know-how necessário para empreender a atividade.

Hoje, cada litro de leite é repassado por R$ 1,25, o que, segundo Maria Cristina, gera um lucro “muito pequeno” quando comparado ao faturamento que poderia obter com a oferta de um produto diferenciado ao mercado. A ideia é que, após a conclusão do curso, a produtora consiga colocar o plano em operação em menos de um ano. A única burocracia que encontra é a regularização do negócio junto aos órgãos de vigilância sanitária, considerando que o município onde mora ainda não dispõe de um SIM (Serviço de Inspeção Municipal) constituído. “É preciso que um vigilante vá até à minha casa, dê uma olhada na minha estrutura e ateste as condições de higiene para que eu possa dispor minha produção no mercado”, relata.

Enquanto alguns ainda pensam em rentabilizar a confecção do queijo artesanal, outros já transformaram a atividade em seu principal negócio. É o caso do produtor rural de Presidente Bernardes, Antônio Sérgio Mendonça, 45 anos, que, descontente com o baixo preço pago pelos laticínios, resolveu agregar valor ao produto. Uma parte do leite que colhe todas as manhãs continua indo para as empresas, mas a outra é transformada em queijo artesanal, vendido nas feiras livres de sua cidade. Desde que investiu no negócio, ele conseguiu dobrar sua renda e, para não ficar para trás, resolveu aprimorar suas técnicas no curso em questão. A única barreira é que a comercialização dos queijos está limitada às feiras. Como não dispõe das documentações e licenças necessárias para ampliar sua oferta, Antônio não é capaz de por o produto em supermercados, por exemplo. “No entanto, estou correndo atrás para regularizar a situação e conseguir vender a minha produção total”, comenta.

Dificuldades

Um dos professores envolvidos na iniciativa, Alexandre Bertoncello, explica que a burocracia é justamente um dos problemas que barram o desenvolvimento dos pequenos produtores de queijo. Contudo, destaca que os municípios já estão mexendo os pauzinhos para mudar este cenário. Tanto que, na semana que vem, um consórcio se reunirá para discutir a instituição do SIM em cidades da região. “Está todo mundo se empenhando para treinar esses pequenos produtores e, depois, garantir uma inspeção mais ágil para a chegada dessa produção ao mercado em geral”, expõe.

O diretor da Etec (Escola Técnica) Professor Doutor Antônio Eufrásio de Toledo, Claudemir Monteiro, aponta que a unidade tem concedido o seu espaço para que cerca de 100 produtores rurais tenham acesso a todo o conhecimento necessário para vender o queijo artesanal de forma eficiente. “Isso envolve desde a preparação do campo até a gestão dos recursos financeiros. Os produtores passam a ter noções, por exemplo, sobre quais animais devem possuir, o que precisam melhorar no pasto e qual deve ser o processo de higiene para assegurar que este produto ganhe valor e qualidade incontestáveis”, pontua.

Publicidade

Veja também