Presídios

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 03/07/2018
Horário 04:18

Na primeira noite, eles se aproximam/e roubam uma flor do nosso jardim./E não dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada./Até que certo dia, um deles/entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e,/conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada. (Maiakoovski).

Há 50 anos, o sociólogo Darcy Ribeiro falou: “Se os governos não construírem ‘escolas’, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios.” Aconteceu! E com a queda da educação, a mídia tenta formar mentes operárias do consumismo. Enquanto ocorre, por um lado, a manipulação e alienação das pessoas, por outro, a ética, os valores humanos passam a inexistir em todas as áreas e, principalmente, nas escolas públicas e privadas que deveriam ser formadoras do caráter das nossas crianças e jovens. Nessa perspectiva, o que esperar senão a multiplicação de presídios?

Soma-se ainda o apetite de prefeitos para trazer mais penitenciárias aos municípios justificando que elas constituem alavanca da economia. Se assim é, chegamos ao fim do mundo! Em Presidente Prudente e região, está concentrado um dos maiores redutos de presídios do país. Vivemos cercados de  grades, reféns do medo e da insegurança. Pasme, leitor, ainda assim, a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) declarou a construção de mais duas unidades prisionais na nossa região: Caiuá e Marabá Paulista. A população dessas cidades precisa estar consciente de que tem poder e não deve permitir, afinal prefeitos não têm função de mandar, mas de se submeter ao desejo da coletividade. Estudo de Paulo Henrique Lobato (jornalista) afirma que um presidiário custa ao governo 11 vezes mais do que um aluno da rede estadual de ensino. Pois é, se há presídios, por que se importar com remuneração de professores e com a qualidade do ensino, não é? Hoje as escolas não ensinam, as igrejas não catequizam, os partidos não politizam, os presídios não ressocializam. 

E dizer que delinquente é delinquente para sempre é o mesmo que dizer que criança pobre não aprende. É evidente que os detentos devem ter vida digna com trabalho de ressocialização para conduzi-los à mudança de conduta.  É evidente que é preciso salvar as escolas para oferecer a todos formação pessoal e profissional e, consequentemente, diminuir a delinquência. É evidente, que só é possível fechar penitenciárias melhorando a educação.

Maiakovski, o poeta, foi devorado pela Revolução Russa de Stálin. Seu poema de dor nos conduz à reflexão de duas vertentes: por um lado, a insegurança que hoje se vive lado a lado aos presídios; por outro, o horror de pensar em retorno de estado ditatorial.

Prezado candidato à eleição, lembre-se de que você, como homem público, será vigiado, criticado, e denunciado. Lembre-se também de que existe a lei da causa e efeito: todos os homens são livres para agir e realizar suas escolhas, entretanto, são inevitavelmente e, por toda vida, escravos das consequências das suas escolhas e atos. Finalizo este artigo, declarando que acredito que há algo mais poderoso que a intenção de políticos corruptos, mais poderoso que a deflagração de presídios, mais poderoso que a crise que o nosso país atravessa, mais poderoso que a desilusão do povo brasileiro: creio na ideia maravilhosa de que “a hora chegou”.

 

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