Presidente Prudente sedia Encontro Regional do Sisem

Reunião, que ocorreu no Centro Cultural Matarazzo, discutiu detalhes do Cadastro Estadual de Museus; 12 cidades participaram em busca de esclarecimentos sobre o assunto

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 21/02/2018
Horário 14:22
José Reis, Estiveram presentes no encontro representantes de cidades da região
José Reis, Estiveram presentes no encontro representantes de cidades da região

Representantes de museus e instituições museológicas da região de Presidente Prudente participaram na tarde de ontem, no Centro Cultural Matarazzo, do primeiro Encontro Regional do Sisem-SP (Sistema Estadual de Museus), da Secretaria da Cultura do Estado, em que a pauta era além de debater diversas frentes, detalhar o CEM-SP (Cadastro Estadual de Museus). Até o fim do mês, estão marcados mais seis encontros pelas RRs (Representações Regionais) do Sisem-SP para esclarecimentos sobre o assunto.

Estiveram presentes, a fim de receber esclarecimentos sobre o cadastro e aproveitar para expor assuntos relacionados aos seus museus e/ou instituições, representantes de Adamantina, Álvares Machado, Iepê, Junqueirópolis, Martinópolis, Parapuã, Pirapozinho, Presidente Epitácio, Porto Primavera, Regente Feijó, Rosana e da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia / Universidade Estadual Paulista) campus local duas participantes, a professora doutora Ruth Künzli, antropóloga e arqueóloga, criadora do “Museu Etnográfico” (1972), hoje Cemaarq (Centro de Museologia, Arqueologia e Antropologia) e Nikele Maiara Milani, assistente de suporte acadêmico do centro de museologia prudentino.

Davidson Kaseker, ou apenas David, diretor do GTC (Grupo Técnico de Coordenação) foi quem recebeu os participantes. Questionado sobre o objetivo deste cadastramento e sua relevância, ele expõe que todas as RAs (Regiões Administrativas) estão organizadas com representações regionais que têm o papel de articular os museus da região, discutir suas prioridades e encaminhar essas demandas para a unidade museológica da pasta estadual. E a partir de então, que esta possa prestar o devido atendimento aos solicitantes, visto que a missão do sistema é apoiar os museus com orientações técnicas, assessoramento.

“Este cadastro, além de identificar as instituições, atende uma regulamentação, legislação federal e estadual, para realmente identificar e distinguir instituições que abrigam acervos das demais instituições culturais no sentido de que o próprio Estatuto dos Museus estabelece um conjunto de parâmetros técnicos para dizer como devem funcionar os museus”, destaca o diretor.

Valentina Terescova Romeiro Flores, diretora do Museu e Arquivo Histórico Prefeito Antonio Sandoval Netto, diz que o evento foi esclarecedor e que a participação das 12 cidades e da Unesp os deixou contentes, pois o encontro é de suma importância para os museus e instituições da região ligadas a museologia, para que tenham esse acesso ao Sisem, ao CEM e para tirar dúvidas mesmo de como funciona essa relação de parceria do Estado com os municípios.

“Sediar um evento dessa magnitude e poder fazer essa articulação dos municípios da região com o sistema mostra que somos um polo importante, através da Secult [Secretaria Municipal de Cultura]”, afirma Valentina que é a representante regional do Sisem-SP em Presidente Prudente.

 

Fonte de informações

David menciona que esse encontro deve ser realizado periodicamente ao longo do ano, mas na pauta de ontem, especificamente foi feita de maneira clara a apresentação do CEM, - lançado em 2016, e que em junho passou da fase piloto para todo o Estado.

O diretor explica que o cadastro é gratuito, tudo feito online e que vai aferir se todas as atividades dos museus tanto na área de salvaguarda de acervo, preservação, documentação e pesquisa, como na área de exposição, comunicação, ações educativas, gestão e governança.

“Ao final do levantamento teremos um conjunto de informações sistematizadas de todos os museus paulistas, uma fonte de informações muito preciosa, como: quantas pessoas trabalham num museu, quantos visitantes se têm em todos os museus do Estado, quanto de orçamento está sendo investido neles, dentre outras que estrategicamente irão nortear políticas públicas. Além de permitir que pesquisadores, estudantes, profissionais de museus, empresas na área de museologia possam usufruir dessa fonte de dados”, acentua o representante estadual.

 

Visibilidade maior

David ressalta que para as instituições museológicas também acaba sendo importante porque além da inserção nesse cadastro, ganham uma visibilidade maior com o grande público, e ao preencher as informações ela se obriga a levantar uma série de dados que nem mesmo tinha sobre si, que é o que vem acontecendo e muito.

Com base nesse diagnóstico que é feito, ele diz que técnicos do Sisem vêm e fazem uma visita às instituições, o que gera quase que uma consultoria individualizada, pois se tem uma radiografia da instituição tanto do ponto de vista técnico como também uma análise situacional que é feita tentando levantar o ponto de vista da equipe do museu.

“Como a equipe se enxerga com a sociedade e seu corpo técnico com seus mantenedores [geralmente em museus privados]. É importante que a equipe amadureça essa visão do seu lugar na sociedade. Qual a sua estrutura de poder. O que permite que esta venha desenvolver um plano estratégico para se reposicionar perante o seu público. Essa é a ideia do cadastro”, acentua o diretor.

 

A demanda é grande

Segundo David, em um mapeamento feito em 2010 foi identificado que de 415 instituições 220 eram museus públicos, municipais. “Esses, em geral, são os primeiros que sofrem em uma crise econômica, em uma redução orçamentária. A Cultura de modo geral ocupa um lugar ‘modesto’ na composição dos orçamentos públicos e dentro dela os museus é uma fração disso tudo. Uma grande dificuldade é ter equipes dimensionadas e qualificadas de maneira adequada. Às vezes até tem um certo número de integrantes, mas que nem sempre são funcionários de carreira e sim que ocupam cargos de comissão e a cada quatro ou dois anos são substituídos”, explana.

Conforme o diretor, o desafio é grande, mas o papel do Sisem é qualificar essas equipes e tentar fortalecer os museus no sentido de que conquistem o seu lugar. Por que não pode apenas criticar o poder público, as autoridades, mas buscar meios de êxito, pois existe uma demanda grande de implantação de novos museus.

“Recebemos semanalmente uma a duas cidades interessadas em abrir um museu. Na própria história brasileira na virada do século 19 para o século 20 tínhamos dez museus. Nos anos 50 já eram 250, nos 70 somavam 2.400. Hoje o Ibram [Instituto Brasileiro de Museus] estima que são 3.700. Isso significa que o museu é um equipamento cultural que de alguma maneira corresponde às necessidades do mundo contemporâneo e tem sobrevivido nessa fase de tantas mudanças, dinâmica da contemporaneidade”, pontua.

 

Participação

Embora não seja a responsável pelo Museu Histórico Manoel Francisco de Oliveira, de Álvares Machado, uma das coordenadoras do setor de Educação, Cultura, Esporte e Lazer, Lairce Maria Avelaneda Furuya, expõe que veio participar do encontro “para buscar novas ideias de como trabalhar. Entendimento e qualificação”.

Ruth Kunzli, antropóloga e arqueóloga, criadora do “Museu Etnográfico” (1972), hoje Cemaarq, uma reunião dessas é basicamente importante para que as pessoas participantes se posicionem em como estão os museus que trabalham, uma vez que sempre tem coisas novas, modernas e por outro lado também surgem problemas.

“Então é um momento de ‘tomar um pouco de pé’ e conversar com uma pessoa que é voltada inteiramente para os museus. São várias as dificuldades enfrentadas pelos museus. Uma delas, ela diz que conseguiu mobilizar o público, no sentido de cativar. Mas, uma questão muito importante é a de verba que está diminuindo cada vez mais, como tudo no governo. Então, pensou em cortes, os primeiros são na Cultura. Logo, os museus estão enfrentando muitas dificuldades para sobreviverem”, frisa a antropóloga.

Ruth então acentua que isso é algo que precisa ser repensado em âmbito governamental. Por isso é importante discutir com pessoas do governo para ver o que pode ser feito.

“Temos trabalhado ‘com a cara e a coragem’ porque na realidade não possuímos condições de contratar museólogos. Então o que fazemos, treinamos as pessoas, trabalhamos com elas, mas precisava ter uma política estadual para que cada museu tivesse um museólogo, se possível contratado pelo Estado para que possa fazer um trabalho bem feito. Não digo que não fazemos, pelo contrário, às vezes a gente extrapola, em termos de esforço, de buscar meios para implementar bem os museus”, enfatiza.

 

É importante caminhar!

Ruth cita um período feliz em que tiveram um projeto na faculdade chamado “Museu Escola Dialogando com a Interdisciplinaridade”, que fizeram junto com o pessoal da Pedagogia para criar uma linguagem apropriada para cada turma, porque recebem desde os “catataus” (criancinhas) até universitários. Então é preciso uma linguagem diferente.

“Fazíamos esses trabalhos com os monitores para que eles aprendessem a passar os conteúdos sem serem chatos. Uma das melhores épocas do nosso museu foi em um período em que havia um convênio, o FDE [Fundação de Educação] e o projeto ‘Lugares de Aprender’ que previa ônibus para transportar as crianças e lanche. Tínhamos visitas todos os dias de manhã e à tarde. Era maravilhoso! A primeira coisa que eles cortaram quando começou engrossar o problema do dinheiro foi o rompimento de contrato com o FDE. Ou seja, por conta disso diminuiu o número de alunos. Às vezes a gente dá um passo adiante, de repente cortam um passo da gente, mas o importante é continuar caminhando”, acredita a professora.

Publicidade

Veja também