Porta estreita

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 12/01/2020
Horário 06:00

Sobre a polêmica do especial de Natal do Grupo humorístico Porta dos Fundos – produzido e veiculado numa plataforma de streaming [conteúdo de internet]– compartilho da argumentação do padre Assis – jesuíta mineiro – divulgada numa rede social. Como a polêmica ganhou novos capítulos nos tribunais de justiça, um juiz determinou a retirada, depois o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a retirada da plataforma, a discussão migrou para o campo da censura (Deus nos livre!). CNBB, entidades cristãs e padres se manifestaram. Senti-me também impelido a comentar após ouvir o discurso do papa Francisco à Cúria Romana em dezembro.

Porque vivemos numa época em que as mudanças se dão assaz velozes, devemos nos deixar questionar pelos desafios do tempo presente e iniciar processos, não ocupar espaços! Para o Papa, a memória não é estática, mas dinâmica. E ao tratar da Evangelização – a primeira e mais importante tarefa da Igreja – ele constata: há gente ao nosso redor, especialmente nos grandes aglomerados urbanos, que ainda não recebeu o anúncio do evangelho. Urgem outros «mapas» e outros paradigmas que nos ajudem a situar novamente os nossos modos de pensar e as nossas atitudes.

Sem meias-tintas, Francisco sentencia que “já não estamos na cristandade!” Hoje, – diz – já não somos os únicos que produzem cultura, nem os primeiros nem os mais ouvidos. “A fé já não constitui um pressuposto óbvio da vida habitual; na verdade, muitas vezes é negada, depreciada, marginalizada e ridicularizada”, pois o tecido cultural não é mais unitário nem guarda os valores e apelos da fé “em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé”.

Padre Assis pontua: “blasfêmia e sátira estão em dois campos de sentido diferentes. A blasfêmia é uma possibilidade de desvio dentro da comunidade de fé. A sátira é uma linguagem e um recurso crítico do campo das artes, de tipo humorístico”... O “alvo” da blasfêmia é Deus. O “alvo” da sátira é a imagem de Deus projetada publicamente por aqueles que dizem crer n’Ele. Os que se utilizam da sátira falam sobre nós, nossas crenças, nossas práticas; não sobre Deus”. (...) Um grupo de humor não tem, em si mesmo, compromisso com o Jesus dos Evangelhos. As igrejas cristãs, essas, sim, deveriam sempre ter”.

Aumentaremos “a fama de Jesus” (cf. Lc 5,15) e O defenderemos pelo testemunho da nossa fé, pelo diálogo e a busca do bem-comum, não pela intransigência, gritaria e perseguição aos que pensam e atuam diferente de nós. A nossa é a “Porta Estreita” (cf. Mt 7,13).

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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