“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?”. Perguntou a rainha para o seu espelho. E o espelho respondeu: “Você, rainha, é a mais bela aqui, mas Branca de Neve, que está morando com os sete anões bem longe, é mil vezes mais bela”. Lembram-se da Branca de Neve e os sete anões? Para quem assistiu ao jogo da Copa do mundo entre Brasil x México, observou bem o pisão que o jogador mexicano deu no tornozelo de Neymar. A cara da inveja da rainha, ao ouvir a resposta do espelho, é a mesma cara do jogador Miguel Layún, ao pisotear o “camisa 10” da seleção brasileira.
A rainha, após a resposta do espelho, vai à busca de destruir sua rival oferecendo a ela uma maçã envenenada. A inveja é um dos sentimentos mais arcaicos ou primitivos que instintivamente emerge em nosso universo psíquico. Elaboração e repressão são heranças, fruto da civilização, com relação aos sentimentos como inveja, ciúmes, raiva e agressividade que inconscientemente erupcionam como os vulcões. Civilizados, na maioria das vezes, vamos em direção para que, quase todos, sejam contidos e domesticados. Não temos escolhas, tampouco, podemos atuar.
Há na história, em sua trajetória pela civilização em direção à contemporaneidade, algumas situações reais, bíblicas e mitológicas de atuações levando a uma grande tragédia como, por exemplo: irmão matando irmão, pai mata filho e vice versa, etc. É algo que surge impulsivamente e vai tomando conta e invadindo. E vamos, sem controle, desejando o mal para o outro. Desejamos o que o outro tem. Queremos “ser” o outro. Inveja-se jeitos, maneiras, sorrisos, cabelos, corpo, pernas, sucesso, fama, mesmo número de “curtidas” nas mídias, profissão, etc. do outro.
Quem sabe o que Miguel Layún desejava era só pisar de mansinho em Neymar para tentar “incorporar” algo idealizado por ele mesmo, que só o “camisa 10” possui. A inveja nem sempre se dirige ao desejo por algo material, por exemplo, carro, televisão, viagem, etc. Muitas vezes não temos pulsão de vida (eros), e sim pulsão de morte (tanatos). Não desejamos ou alegramos com nada. Mas desejamos a vitalidade, espontaneidade, alegria do outro. O que o outro sente ou vibra com determinados objetos é o que realmente incomoda.
Há pessoas que se realizam plantando uma horta no seu pequeno quintal. E o vizinho ao lado, não achando sentido naquele “olhar de felicidade plena”, pela simples hortinha e o mais importante, sentindo ausência e vazio interno nele próprio, vai acabar por contagiar o ambiente por um sentimento de amargura, secando tudo. E o fundamental: secando a si mesmo.
A inveja é uma semente estéril. Nada fecunda. Não podemos forçar a natureza. A capacidade, criatividade e potencialidade é um atributo gratuito e para todos. O que naturalmente brilha, passa antes por lapidação. Todas as pedras são brutas, assim como o diamante. O sucesso só acontece quando há esforço, treinamento, trabalho e muito suor. Tudo o que sentimos deve ser refletido, e a inveja nem sempre é negativa ou maléfica. Pode ser considerada como uma mola propulsora para uma grande largada na vida.