O Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde, disponibiliza dados que mostram quais pesticidas foram encontrados na rede de abastecimento de água dos municípios brasileiros de 2014 a 2017. Nas cidades que compõem a 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, cuja sede é Presidente Prudente, em média 24,8 agrotóxicos foram detectados. O levantamento contempla 49 cidades regionais e mostra ainda que, em média, 10,2 deles estão associados a doenças crônicas, como o câncer. Para quem entende do assunto, apesar de certa quantidade estar permitida em lei, a constante exposição pode ser maléfica a longo prazo.
A legislação brasileira permite, para cada tipo de substância, uma quantidade limite. Por exemplo, no caso do glifosato, considerado um dos maiores problemas, no Brasil a lei impõe até 500 microgramas por litro, o que na Europa gira em torno de 0,1. Quem analisa a situação é a professora de Química da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Patrícia Antunes, que resume o cenário em uma palavra: dilema.
Isso porque, segundo ela, vivemos em uma região agroindustrial, de muita agricultura. Desta forma, o uso do agrotóxico, apesar de não ser bem visto por muitos, não é ilegal. “Então, para que haja um aumento na produção de alimentos, faz-se o uso. Mas existe o problema relacionado à saúde. O que cabe, agora, é buscar alternativas que possam amenizar, como a proibição de algumas substâncias, que a exemplo da Europa, não se usam mais”, diz.
E quando se fala em efeitos, Patrícia destaca que se trata de uma cronicidade. Ou seja, eles tendem a aparecer daqui a 20 a 30 anos, ou menos tempo em alguns casos. O que vai determinar, ainda de acordo com a especialista, é a exposição. “Por mais que o estudo mostra que em alguns casos a quantidade encontrada ainda está dentro do permitido, a constância é o que dificulta. Estudos mostram a diminuição da audição, bem como na diminuição da produção de espermatozoide, pensando na reprodução humana e na ingestão de tais substâncias”, argumenta.
O que ela não deixa de destacar também é o fato de que o agrotóxico, mesmo sendo “aplicado de uma maneira local”, é um problema mundial. “Pois ele tem a capacidade de trânsito, seja pelo ar, água ou terra. Além de ser persistente e demorar muito para se decompor”, finaliza.
Tratamento
Responsável pelo abastecimento de 36 dos 53 municípios da região, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), afirma que a água fornecida pela empresa não está contaminada. “A companhia garante a segurança do abastecimento da população, por meio de testes diários realizados em laboratórios certificados pelos órgãos competentes. Sempre que necessário, para segurança da população, os testes são refeitos”, pontua.
Ademais, a companhia também reitera a legislação brasileira, e que na própria pesquisa divulgada, é possível verificar que dos 36 municípios operados pela Sabesp na 10ª região administrativa, em 34 deles não há registro de agrotóxicos acima do que é estabelecido na legislação. “Quanto aos outros dois municípios, Estrela do Norte e Pracinha, a Sabesp verificou que os dados do Sisagua não conferem com os registros da companhia no período da pesquisa, sendo que nesses municípios também não há agrotóxicos em quantidade maior do que o limite estabelecido na lei”, conclui.
Saiba mais
Além do número de agrotóxicos na água, por cidade, os dados permitem também enxergar a concentração dessas substâncias, que é medida em microgramas por litro. O Sisagua reúne os resultados de testes que medem a presença de 27 agrotóxicos na água que abastece as cidades. As informações são enviadas por autarquias estaduais, municipais e empresas de abastecimento. A lei brasileira determina que os fornecedores de água no Brasil são responsáveis por realizar os testes a cada seis meses e apresentar os resultados ao governo federal.
Fonte: Sisagua
Dados regionais
MUNICÍPIOS |
QUANTIDADE DE AGROTÓXICOS LOCALIZADOS |
ASSOCIADOS ÀS DOENÇAS CRÔNICAS, COMO CÂNCER |
Adamantina |
27 |
11 |
Alfredo Marcondes |
27 |
11 |
Álvares Machado |
27 |
11 |
Anhumas |
23 |
8 |
Caiabu |
27 |
11 |
Caiuá |
27 |
11 |
Dracena |
27 |
11 |
Emilianópolis |
27 |
11 |
Estrela do Norte |
27 |
11 |
Euclides da Cunha Paulista |
23 |
8 |
Flora Rica |
14 |
7 |
Flórida Paulista |
27 |
11 |
Iepê |
* |
* |
Indiana |
* |
* |
Inúbia Paulista |
27 |
11 |
Irapuru |
27 |
11 |
Junqueirópolis |
27 |
11 |
Lucélia |
23 |
8 |
Marabá Paulista |
17 |
8 |
Mariápolis |
27 |
11 |
Martinópolis |
* |
* |
Mirante do Paranapanema |
27 |
11 |
Monte Castelo |
27 |
11 |
Nantes |
27 |
11 |
Narandiba |
27 |
11 |
Nova Guataporanga |
27 |
11 |
Osvaldo Cruz |
27 |
11 |
Ouro Verde |
7 |
3 |
Pacaembu |
27 |
11 |
Panorama |
* |
* |
Paulicéia |
27 |
11 |
Piquerobi |
16 |
8 |
Pirapozinho |
27 |
11 |
Pracinha |
27 |
11 |
Presidente Bernardes |
27 |
11 |
Presidente Epitácio |
27 |
11 |
Presidente Prudente |
27 |
11 |
Presidente Venceslau |
27 |
11 |
Rancharia |
27 |
11 |
Regente Feijó |
27 |
11 |
Ribeirão dos Índios |
27 |
11 |
Rosana |
15 |
8 |
Sagres |
27 |
11 |
Salmourão |
27 |
11 |
Sandovalina |
23 |
8 |
Santa Mercedes |
16 |
8 |
Santo Anastácio |
27 |
11 |
Santo Expedito |
27 |
11 |
São João do Pau d'Alho |
27 |
11 |
Taciba |
27 |
11 |
Tarabai |
27 |
11 |
Teodoro Sampaio |
16 |
8 |
Tupi Paulista |
27 |
11 |
MÉDIA |
24,8 |
10,2 |
*sem informação
Fonte: Sisagua