Pesquisa revela presença média de 24,8 tipos de agrotóxicos na água

Para especialista em Química, apesar de algumas quantidades serem permitidas por lei, exposição constante pode ser maléfica a longo prazo

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 18/05/2019
Horário 04:00

O Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde, disponibiliza dados que mostram quais pesticidas foram encontrados na rede de abastecimento de água dos municípios brasileiros de 2014 a 2017. Nas cidades que compõem a 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, cuja sede é Presidente Prudente, em média 24,8 agrotóxicos foram detectados. O levantamento contempla 49 cidades regionais e mostra ainda que, em média, 10,2 deles estão associados a doenças crônicas, como o câncer. Para quem entende do assunto, apesar de certa quantidade estar permitida em lei, a constante exposição pode ser maléfica a longo prazo.

A legislação brasileira permite, para cada tipo de substância, uma quantidade limite. Por exemplo, no caso do glifosato, considerado um dos maiores problemas, no Brasil a lei impõe até 500 microgramas por litro, o que na Europa gira em torno de 0,1. Quem analisa a situação é a professora de Química da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Patrícia Antunes, que resume o cenário em uma palavra: dilema.

Isso porque, segundo ela, vivemos em uma região agroindustrial, de muita agricultura. Desta forma, o uso do agrotóxico, apesar de não ser bem visto por muitos, não é ilegal. “Então, para que haja um aumento na produção de alimentos, faz-se o uso. Mas existe o problema relacionado à saúde. O que cabe, agora, é buscar alternativas que possam amenizar, como a proibição de algumas substâncias, que a exemplo da Europa, não se usam mais”, diz.

E quando se fala em efeitos, Patrícia destaca que se trata de uma cronicidade. Ou seja, eles tendem a aparecer daqui a 20 a 30 anos, ou menos tempo em alguns casos. O que vai determinar, ainda de acordo com a especialista, é a exposição. “Por mais que o estudo mostra que em alguns casos a quantidade encontrada ainda está dentro do permitido, a constância é o que dificulta. Estudos mostram a diminuição da audição, bem como na diminuição da produção de espermatozoide, pensando na reprodução humana e na ingestão de tais substâncias”, argumenta.

O que ela não deixa de destacar também é o fato de que o agrotóxico, mesmo sendo “aplicado de uma maneira local”, é um problema mundial. “Pois ele tem a capacidade de trânsito, seja pelo ar, água ou terra. Além de ser persistente e demorar muito para se decompor”, finaliza.

Tratamento

Responsável pelo abastecimento de 36 dos 53 municípios da região, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), afirma que a água fornecida pela empresa não está contaminada. “A companhia garante a segurança do abastecimento da população, por meio de testes diários realizados em laboratórios certificados pelos órgãos competentes. Sempre que necessário, para segurança da população, os testes são refeitos”, pontua.

Ademais, a companhia também reitera a legislação brasileira, e que na própria pesquisa divulgada, é possível verificar que dos 36 municípios operados pela Sabesp na 10ª região administrativa, em 34 deles não há registro de agrotóxicos acima do que é estabelecido na legislação. “Quanto aos outros dois municípios, Estrela do Norte e Pracinha, a Sabesp verificou que os dados do Sisagua não conferem com os registros da companhia no período da pesquisa, sendo que nesses municípios também não há agrotóxicos em quantidade maior do que o limite estabelecido na lei”, conclui.

Saiba mais

Além do número de agrotóxicos na água, por cidade, os dados permitem também enxergar a concentração dessas substâncias, que é medida em microgramas por litro. O Sisagua reúne os resultados de testes que medem a presença de 27 agrotóxicos na água que abastece as cidades. As informações são enviadas por autarquias estaduais, municipais e empresas de abastecimento. A lei brasileira determina que os fornecedores de água no Brasil são responsáveis por realizar os testes a cada seis meses e apresentar os resultados ao governo federal.

Fonte: Sisagua

Dados regionais

MUNICÍPIOS

QUANTIDADE DE AGROTÓXICOS LOCALIZADOS

ASSOCIADOS ÀS DOENÇAS CRÔNICAS, COMO CÂNCER

Adamantina

27

11

Alfredo Marcondes

27

11

Álvares Machado

27

11

Anhumas

23

8

Caiabu

27

11

Caiuá

27

11

Dracena

27

11

Emilianópolis

27

11

Estrela do Norte

27

11

Euclides da Cunha Paulista

23

8

Flora Rica

14

7

Flórida Paulista

27

11

Iepê

*

*

Indiana

*

*

Inúbia Paulista

27

11

Irapuru

27

11

Junqueirópolis

27

11

Lucélia

23

8

Marabá Paulista

17

8

Mariápolis

27

11

Martinópolis

*

*

Mirante do Paranapanema

27

11

Monte Castelo

27

11

Nantes

27

11

Narandiba

27

11

Nova Guataporanga

27

11

Osvaldo Cruz

27

11

Ouro Verde

7

3

Pacaembu

27

11

Panorama

*

*

Paulicéia

27

11

Piquerobi

16

8

Pirapozinho

27

11

Pracinha

27

11

Presidente Bernardes

27

11

Presidente Epitácio

27

11

Presidente Prudente

27

11

Presidente Venceslau

27

11

Rancharia

27

11

Regente Feijó

27

11

Ribeirão dos Índios

27

11

Rosana

15

8

Sagres

27

11

Salmourão

27

11

Sandovalina

23

8

Santa Mercedes

16

8

Santo Anastácio

27

11

Santo Expedito

27

11

São João do Pau d'Alho

27

11

Taciba

27

11

Tarabai

27

11

Teodoro Sampaio

16

8

Tupi Paulista

27

11

MÉDIA

24,8

10,2

*sem informação

Fonte: Sisagua

 

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