Paixões pessoais e nacional

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 17/06/2018
Horário 07:05

Há quatro anos, já de paciência curta, o brasileiro desconfiava das falcatruas político-econômico-empresariais nas construções-reformas das “arenas” (estádios) de futebol – o que, agora, sabemos eram suspeitas válidas; fomos campeões no desvio, no esbanjamento e deixamos um legado de dívidas, “elefantes brancos”, obras inacabadas etc, enquanto o país segue na banguela das crises política, econômica e moral. Surgiu até o movimento “não vai ter copa”. Ao final, a copa aconteceu, o povo comemorou, a alegria superou as mazelas e, de quebra, o fatídico “7 a 1”. Este ano o evento da Fifa acontece na Rússia (hoje, domingo, o Brasil enfrenta a Suíça. Quem vencerá?).

Por aqui, o clima nacional não é dos melhores e isso não tem a ver necessariamente com os jogadores e o selecionado nacional, mas com o Brasil e os brasileiros. A política obnubilou a paixão nacional, chamada futebol. A política conspurcou um dos símbolos do povo. Antes, ópio do povo. Agora, coisa de “mortadela x coxinha”. O que não faltam são pessoas falando e publicando a fim de “mitar”. Pessoas pedem perdão ao Brasil por não torcerem pela sua seleção porque há no país violências, injustiças, falta educação, saúde e emprego... Há quem não torcerá porque a camisa do time (associada à CBF – Confederação Brasileira de Futebol) foi usada para, no dizer desses, sustentar o “golpe parlamentar” que defenestrou da presidência da República a senhora Dilma Rousseff.

Já citei nesse espaço, sem aprofundar, a expressão “transparência do mal” – título de um livro do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard. Adélia Prado, referindo-se a essa expressão, afirmou: “o mal está tão disseminado, tão generalizado, tão enraizado que ele está transparente. Você não vê mais “aqui é ruim”, “aqui é bom”... está tudo uma coisa ruim, uma comida envenenada”. Concordo. O ar está praticamente irrespirável nalguns ambientes. Há uma disputa de narrativas. Certo e errado não parecem distintos. Um e outro lado defendem suas posições e argumentam. Como ninguém se escuta, o diálogo fica truncado, impossibilitado. Quantos estão esperando ocasião para se ofender e ofender. Dizer palavra que fere e ter motivos para juntar-se aos iguais e deitar mais palavras contra outros.

Diria, numa linguagem religiosa, que o diabo semeou cizânia e nos deixou digladiando entre nós e está assistindo a tudo, lá, quietinho e “feliz” (na ilusória hipótese de que ele saiba o que é ser feliz). Pior, refestela-se com a certeza de que uns e outros se acusam, enquanto o verdadeiro causador sequer é lembrado. O esporte, prática que ajuda a formar caráter pela disciplina, empenho, solidariedade/fraternidade, respeito e tolerância pelo outro (pelo diferente), parece estar em segundo plano. Os homens dos negócios esportivos e políticos deixaram-se corromper e corrompem ao ponto de sequestrar todo um povo e alimentar distâncias e fronteiras, infelizmente.

Durante Audiência Geral na Praça de São Pedro, o papa Francisco, na véspera do início da competição (13/6) manifestou-se: “Amanhã terá início o Campeonato Mundial de Futebol, na Rússia. Desejo transmitir a minha cordial saudação aos jogadores e aos organizadores, assim como a quantos seguirem através dos meios de comunicação social este acontecimento que supera todas as fronteiras. Possa esta importante manifestação desportiva tornar-se ocasião de encontro, de diálogo e de fraternidade entre diferentes culturas e religiões, favorecendo a solidariedade e a paz entre as nações.” Palavras reforçadas via rede social no dia seguinte (14/6): “Espero que este evento esportivo seja uma oportunidade válida de encontro e de fraternidade”. Vamos torcer pela vitória da seleção e pela vitória do Brasil sobre todas as forças que o destroem.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

Sandro Rogério dos Santos é pároco do Santuário Diocesano Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, situado no Jardim Maracanã, em Presidente Prudente. Contato: padre@santuariosantateresinha.com

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