PAI-MÃE

Há muito pai-mãe. São pais também “mães”. Pai naturalmente “mãe”. Homens com instinto maternal. Há famílias em que a mãe não tem essa condição por uma infinidade de fatores e situações, e o pai entra para suprir essa falta. O homem desempenha muito bem essa função. E há mãe-pai. Há mulheres que são os dois. Na ausência, por falecimento do pai ou qualquer outra situação, a mãe acaba por ter de assumir as duas funções.

Há pai que é ausente mesmo presente. O pai do século 21 vem ocupando espaços que antes não adentrava. Ele assume muitas funções relevantes na vida dos filhos. Atualmente, o pai tem participado mais ativamente de funções onde somente a mãe fazia-se presente. Vai a reuniões escolares, leva para as atividades extraescolares, passeiam em parques, zoológicos, cuidados higiênicos, fazem dormir, colocam no berço, trocam fraldas, etc. Os pais da contemporaneidade querem participar ativamente da vida dos filhos. O que vemos hoje corresponde a uma verdadeira revolução, tanto no papel da mulher quanto nas configurações familiares. A mulher vem conquistando seu espaço no mercado de trabalho. A liberação sexual alterou a estabilidade da constituição familiar, levando a uniões sem casamento, separações, famílias reconstituídas, etc.

As mudanças na legislação permitiram que casais homossexuais tivessem reconhecimento legal e pudessem assumir na criação de filhos. As novas técnicas reprodutivas também redesenharam completamente as configurações familiares, Entre as inúmeras possibilidades, temos as hetero, as homo e as monoparentalidades. A sociedade atual se defronta com novos desafios, como adoção de crianças por casais homoafetivos.

A família hoje é definida como o lugar em que se tecem os vínculos que ligam os indivíduos entre si, apresentando muitas outras configurações, as quais nós, psicanalistas, teremos que enfrentar na prática clínica e incorporar teoricamente para não ficar à margem das mudanças sociais. Acredita-se que qualquer tipo de família possa construir uma estrutura triangular com funções simbólicas, independentes do sexo dos seus componentes, permitindo à criança a entrada na cultura e um bom desenvolvimento psíquico. A psicanálise tem se ocupado com essa nova forma de constituição familiar, tentando entender o caminho que está tomando a subjetivação humana diante de toda essa complexidade.

Há um embaraçamento com a teoria do pai, mãe, da família, obsoleta em relação à realidade da evolução contemporânea. Não podemos negligenciar ou ficar indiferente à mutação em que a constituição familiar vem sendo apresentada a nossa realidade. Quais serão os reflexos da subjetividade de cada indivíduo no futuro, fruto dessas novas constelações familiares. O que sabemos é que, não importa como a família seja constituída, referências como limites, leis, valores, regras e pudor são fundamentais. As figuras subjetivamente representadas como a mãe e o pai na constituição familiar são primordiais. Toda criança tem de aprender a refrear seu desejo e moderar seu prazer.

 

 

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