Os truques do inimigo

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 17/02/2019
Horário 08:20

Poderíamos afirmar, sem medo de errar, que de vez em quando nos parece difícil falar sobre o pecado. É difícil reconhecermos nossa condição, pois passamos de um tempo em que tudo era pecado para outro em que nada é pecado. Esta não é uma questão marginal na fé, não é um detalhe menor, senão um tema central, pois se eu não for pecador, não preciso ser salvo, e se não preciso de salvação, por que preciso de Cristo-Salvador?

A história da criação e da queda (Gênesis, 1-3) nos dá algumas pistas. A primeira é que o pecado é mentiroso, o engano da serpente se torna o primeiro episódio da ruptura entre Deus e o homem. Hoje o primeiro engano é que não levamos em conta o tentador, parece que o demônio, o diabo, o mal, são personagens de contos míticos ou pelo menos de outros tempos e que nos faz viver completamente despreocupados e desarmados diante de sua realidade. Como já afirmava C.S. Lewis em “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, com o progresso científico, nossa razão tem sido obscurecida pelo conhecimento mais básico do nosso ser humano.

Mas voltando ao texto bíblico, temos de ressaltar que o engano do diabo, da serpente, é apresentar Deus como aquele que limita nossa vida, que corta nossa liberdade e rouba nossas possibilidades. A serpente ressalta que Deus proibiu comer de todas as árvores do jardim, o que é simples e claramente uma mentira, no entanto, entra em nosso subconsciente e nos apresenta uma dúvida sobre as intenções de Deus, com razoável aparência. Isto não é o que acontece em muitos dos ambientes anti-fé, nós não ouvimos que as religiões são apenas proibições que restringem a liberdade do homem. Por exemplo, pensemos no apelido com o qual a encíclica “Humanae Vitae” de S. Paulo VI é aplicável também a “Evangelium Vitae” de São João Paulo II: a “encíclica do Não”, destacando o que o tentador fez com Eva, a enganação de que Deus limita nossa liberdade.

Em terceiro lugar, é o que tanto pode nos assombrar toda a nossa vida, a aparência de bem do pecado. Verdadeiramente a Eva é atraente a ideia de transgredir a regra, a única imposta por Deus no paraíso, acreditando que quebrando-a teria um benefício. Mais ou menos elaborada, essa forma de pensamento afeta a todos nós, desde o filho mais velho da parábola do Filho Pródigo, não nos são estranhas aquelas piadinhas em que é dito preferir o inferno porque nele as pessoas seriam mais divertidas, mais interessantes – enquanto, os bons seriam chatos.

Em último lugar, descobrimos que o pecado acaba com a harmonia dos relacionamentos, Adão e Eva não parecem mais os mesmos, vergonha e pudor surgiram entre eles, como em seus corações há recantos e fendas, eles não podem mais ser mostrados como são, mas, infelizmente, não afeta apenas eles, senão também o seu relacionamento com Deus, que deixa de ser o amigo com quem andar no final da tarde, para se tornar aquele de quem nos escondemos. Nosso mundo está tão cansado de fugir de Deus que prefere pensar que Ele não existe...

Sem ter chegado ao resultado do drama, o Evangelho vem ao nosso encontro, Jesus vem curar a nossa surdez: “Efetá”, “Abra-te”, com esta palavra cura o surdo-mudo. Que melhor oração para hoje do que humildemente pedir a abertura de nossos ouvidos, dos ouvidos do coração, para poder reconhecer os truques do inimigo e ficar com a melhor parte, o transbordante amor de Deus?

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

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