O valor da vida humana

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 12/02/2019
Horário 05:02

O artigo do dia 3 deste mês do pároco Sandro Rogério dos Santos relata observação da viagem feita pelo papa no Panamá: “levantavam as crianças como que dizendo ‘este é o meu orgulho, a minha riqueza’. E questiona: “No inverno demográfico que estamos vivendo na Europa, qual é o orgulho? O turismo, a casa, o cachorrinho? Ou levantar uma criança?”. A insensibilidade tem aumentado na modernidade e , de fato, a valorização do ser humano e a relação saudável entre as pessoas é algo que parece “coisas do passado”.

Há tantas crianças que morrem de fome em seus países e na fuga depois de viagens catastróficas, pedem socorro em fronteiras. O fato é que são proibidas de entrar nesses países que se tornaram ricos por explorarem até os ossos os pais e outros ascendentes dessas mesmas crianças com férrea colonização, guerra pelo petróleo etc. Velhos, adultos e crianças que morrem em fronteiras constituem incômodo às nações ricas; porque a dor que dói mesmo é perder grana com a queda na bolsa de valores, por exemplo.

Hoje há nas famílias um apreço especial aos animais domésticos e isso é bom. Os animais têm direito à alimentação completa, moradia, carinho, cuidados com a saúde. Mas e o ser humano? Pode morrer de fome, de frio, de abandono?  Em São Paulo existem hotéis seis estrelas para cães, um luxo outrora jamais visto. Preço? Maior que hotel cinco estrelas de humanos. E tem mais: a concorrência é tão grande que exige reserva antecipada, enquanto crianças morrem de frio, de fome, de abandono. É isso que o mundo está virando? Vejo tantas vezes a pergunta a um casal: tem filhos. Resposta: “Temos dois ou três ou quatro cachorros”. Os cães, todos sabemos, são amigos do homem, mas soa estranho passarem à condição de filhos, não é não?

A vida humana tornou-se um “paciente grave”, esse paciente grave é vítima do descaso de outros seres humanos, dos poderes públicos, da mídia, e pede medicamento. A medicação preventiva é, ao mesmo tempo, o respeito pela dignidade, o apreço ao valor inviolável que é o fundamento jurídico da Constituição Brasileira. No entanto, na prática vem perdendo o significado e as grandes mazelas não são sentidas como trágicas, pelo contrário, trágica é qualquer perda desde que seja material. E as pessoas assim vão sendo descartadas, outros levadas pelo barro, como aconteceu em Mariana (MG), em Brumadinho (MG) e etc. Pasme, leitor! O presidente da Vale, Fábio Schvartsman, e demais diretores, estão livres e soltos, ninguém foi preso desde a tragédia de Mariana. E ganham R$1,5 milhão por mês.

No Brasil há de se rever os valores. O Chefe da Nação, do Estado, os senadores, deputados, prefeitos, vereadores, saibam que o povo brasileiro quer simplesmente “sarar” do abandono, das mortes de trabalhadores-escravos de milhares de corporações assassinas. Como ensinou o papa: “O bem e a felicidade que enche o coração não está no que vestimos, nos sapatos de etiqueta ou no excesso da conta bancária; a plenitude encontra-se em sermos sensíveis, em aprender a chorar com os que choram, em aproximar-se de quem está triste, em deixar chorar sobre o próprio ombro, no abraço”.

Publicidade

Veja também