O que é Natal mesmo?

Ontem conversei com Ela, que não conversou comigo. Conversei, mas Ela, não. Estávamos ocupando o mesmo espaço, alguns centímetros de distância. Eu estava ligada de corpo e alma em sintonia nesse espaço, Ela não. O corpo d’Ela estava ali, mas sua alma vagava a quilômetros de distância. Sua alma entrou pela tela e o raio de diâmetro aumentou muito e percebi que Ela se perdeu. Queria estar com todos e com tudo. Mas percebi que não ficava com ninguém, nem comigo, nem consigo, nem com seu umbigo.

Ela chorou pelas perfeições dos cabelos, roupas, carros, viagens, festas, cores, mares, restaurantes do Outro. Ela chorou, pois viu que tudo do outro é mágico. Ela adentrou para além do oceano. Ela foi tão longe que o céu não foi o limite. E eu tão perto com coração aquecido. Ela queria, sonhava, idealizava delirando, hipnotizada vivia a vida dos outros. Invejava, sentia ciúmes, revolta, raiva, ódio e espanto. O que era realmente seu ignorava e não vivia. E eu ali e ela tão longe.

Como ficará ao longo dos anos, a insistente indiferença que toma conta da raça humana? Onde iremos chegar?

Então, senti-a tão fria e já sem cor. Tudo seu não tinha muita graça. Só o que via do outro reluzia. Ela tão pálida, não queria viver sua vida. Emocionalmente não trocava afeto. Pelo túnel da tela vivia, e encontrava sentido na energia do outro. O virtual era essencial. O real ficava mirrado e em inanição. O ilusório inflado cheio de “vida”. Chamava por Ela para dar um abraço, mas estava cega, muda e surda. Os sinos badalando, as luzinhas e pisca-pisca, o bolo natalino, presente sobre a mesa, a mirra no ar não chamava atenção.

Ela estava indiferente. Ela era alienada. Disse a Ela com os braços abertos: Feliz Natal. Ela indagou sem entender bem o que significava Natal perguntando: “O que é Natal mesmo?”. Não estaríamos vivendo a era da indiferença? A banalidade toma conta, deixando marcas como ondas na areia do mar. Estamos construindo castelo na areia? E os registros emocionais que formam nosso repertório de memória? Como ficará ao longo dos anos, a insistente indiferença que toma conta da raça humana? Onde iremos chegar? Qual o limite na fronteira da realização de nossos desejos? Na rinha de cães que brigam até a morte? Feliz Natal para todos vocês, leitores fiéis.

 

 

 

 

 

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