O Carneiro do Neif Taiar

O Espadachim, um cronista que não contem glúten

OPINIÃO - Sandro Villar

Data 07/04/2020
Horário 05:03

No domingo ensolarado, saio à rua e, pé ante pé, olho para os lados para ver se não tinha algum fiscal da "operação cata véio" e, como não vi ninguém, sigo em frente, ao contrário do Brasil, num passo quase de tartaruga nada ninja. Caminho um pouco mais, já que a "sirene" não tocou, e dou de cara com o meu amigo Osmar, dono do bar que leva o nome dele.

"O Neif Taiar morreu. A Cintya, filha dele, me mandou mensagem pelo WhatsApp", contou o Osmar. Minha reação: "Não brinca. Meu Deus!" "Está aqui a mensagem, vou ler para você", acrescentou.

Por anos a fio, o Neif, que foi embora deste insensato mundo aos 83 anos, foi um dos jornalistas mais respeitados e influentes de Presidente Prudente. Sua coluna no “Oeste Notícias” era a mais lida do jornal. Que eu me lembre, fundou pelo menos dois jornais: “Folha da Região” e “Entre Aspas”, este bastante criativo.

Neif também era radialista. Tinha um vozeirão. Fez também um trabalho muito bonito contando a história política e econômica dos municípios da Alta Sorocabana. Tudo incluído em disquetes. A meu ver, trabalho de fôlego.

Neif não era cardiologista, mas asseguro-lhes que era meu amigo do peito. Rimos muito, contestamos muito, mas tudo de um jeito civilizado. "O Neif Taiar era o tipo do sujeito que você gostava ou não", contou o Ricardo Torquato, jornalista que dá aulas na FAI.

Aliás, o Torquato me contou um "causo" - ou uma historinha hilária - envolvendo o Neif.  Fato "venéreo", como diz o Paulinho Gogó. Se me permitem um "segundo, aliás", eu queria falar com o Neif sobre esse "acontecido", mas ele já quase não falava.

O Neif apresentava um programa noturno na Rádio Piratininga - ou Rádio Difusora, não se sabe ao certo - e uma noite, depois de encerrar o programa, foi embora e deu carona para o operador de som e mais uns amigos.

Ao passar por uma rua, o Neif atropelou um animal de tamanho respeitável. Foi um deus nos acuda. Ele e os amigos desceram e identificaram o bicho: era um carneiro que ali mesmo bateu as patas e arrepiou a lã. Já que o cordeiro não sobreviveu, que tal um churrasco de carneiro na madrugada?

Levaram o carneiro para a casa de um deles, limparam o bicho e "brasa debaixo dele", se me permitem a expressão. Neif e os amigos se empanturraram de tanto comer carne de carneiro e, claro, com cerveja e uma cachacinha.

No dia seguinte - ou na noite seguinte -, o Neif apresentava o programa e tocou o telefone. Do outro lado da linha, como diziam os locutores de antanho (palavra bonita esta, hein?), estava uma ouvinte desesperada, com a qual o apresentador conversou no ar.

"Seu Neif, roubaram o meu carneiro. Meu bicho de estimação sumiu ontem à noite", disse a pobre senhora. Foi aí que acendeu a luz vermelha na cabeça do Neif. Enfim, caiu a ficha. Quase aos prantos, a ouvinte pediu ao jornalista que a ajudasse a encontrar o carneiro, missão impossível àquela altura.

Condoído com o drama da ouvinte, o Neif falou com ela sem rodeios, porque isto é festa de Barretos. "Acho que será difícil encontrar o carneiro, mas não se preocupa. Eu vou comprar um carneiro e lhe dou de presente. Onde já se viu. São uns canalhas esses ladrões", disse o apresentador. E acrescentou: "A senhora pode escolher qualquer tipo de carneiro, grande ou pequeno, que eu pago".

Mais aliviada, a mulher desligou o telefone e, fora do ar, o Neif, como bom "turco", foi claro com os amigos que estavam no estúdio. "Seguinte: vamos "rachar" esse carneiro. Cada um dá uma graninha". Dias depois, a mulher ganhou um carneiro comprado "por meio de uma vaquinha", ainda não virtual.

Para encerrar este papo, acho que não é exagero acrescentar que o Neif Taiar combateu o bom combate e deixou sua marca no mundo. Fará falta!

DROPS

Filme da semana no Cine Brasil: "Ciúme de Homem", estrelando Mito e Mandetta.

Eu mandetto no Mandetta.
(Bolsonaro, segundo o cartunista Aroeira)

Novidade na política: surgiu a figura do presidente operacional.

P.S.: Na coluna de sábado, 4/4, grafei errado o nome do estúdio Atlântida. Errei ao escrever Atlântica. Desculpas póstumas ao diretor Carlos Manga e aos comediantes Oscarito e Grande Otelo.

 

 

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