Na semana, este periódico publicou reportagens referentes ao Natal. Numa delas participei como entrevistado. A espiritualidade natalina e a juventude. Os jovens vivem o espírito do Natal? As futuras gerações terão um Natal cristão para comemorar a depender de como vivemos o evento hoje? Na bem-escrita matéria, o jornalista foi fiel às minhas palavras. Ao lê-las no impresso, a primeira reação foi de questionamento. Eu não estaria pessimista ou talvez alheado ao que as pessoas em derredor vivenciam? Afirmei que “o espírito natalino, pelo menos, até onde minha vista alcança e meu coração sente tem-se perdido. Infelizmente.”
Vejo profunda mutação na sociedade de consumo. A vida espiritual parece não ser forte (interior) o suficiente para vencer os apelos insistentes das lampadinhas e ofertas. Além de comida e bebida, reunir família e amigos, é preciso viajar e experimentar tudo o que há pra viver. Muitos cristãos trocam a missa por motivo qualquer: do tempo chuvoso ao churrasco na chácara, passando pela simples preguiça dominical. Nessa época do ano, então, as visitas tornam-se a justificativa principal para ausentar-se da liturgia do nascimento do Salvador na comunidade.
Em artigo passado – “liberdade espiritual” – citei o papa Francisco: “há uma doença contra a generosidade (o socorro aos pobres): “a séria doença do consumismo” que consiste em “comprar sempre coisas, gastar mais do que precisamos”, “uma falta de austeridade de vida”. Essa doença nos fecha os olhos e o coração, estreita os horizontes da existência e nos faz apenas sofrer, sem sentido, pois o coração humano não foi feito para acumular coisas.” Inquieta-me bastante a indiferença gerada pela busca do prazer pretendido no ato de comprar. O consumismo consome.
“É esta a festa que agrada a Deus? Que Natal gostaria Ele?”, perguntou o papa durante a sua catequese semanal com o tema “Natal: as surpresas que agradam a Deus”. “A festa do Natal está próxima; mas há o perigo de errar a festa. Se o Natal se reduzir a uma bela festa tradicional, no centro da qual estamos nós e não o Deus Menino, será uma ocasião perdida”. Após o alerta, implorou: “Por favor, não mundanizemos o Natal!” que é “celebrar o inédito de Deus, ou melhor, um Deus inédito, que subverte os nossos planos e expetativas”.
“Celebrar o Natal é acolher na terra as surpresas do céu. O Natal deu início a uma nova época onde a vida não se programa, mas se doa, onde se deixa de viver para si mesmo segundo os próprios gostos, a fim de se viver para Deus e com Deus, porque Ele é Deus-conosco. Este ano teremos Natal se, como José, dermos espaço ao silêncio; se, como Maria, soubermos dizer a Deus: ‘Eis-me aqui’; se como os pastores sairmos dos nossos lugares para ir a Jesus; se, como Jesus, nos aproximarmos de quem está sozinho.”
O Natal é a revanche da humildade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre o tumulto, da oração sobre o “meu tempo”, de Deus sobre o meu “eu”. Celebrar o Natal é fazer como Jesus que veio até nós. “É caminhar em direção a quem precisa de nós. “Não será Natal se procurarmos o brilho cintilante do mundo, se nos enchermos de presentes, almoços e jantares, mas não ajudarmos pelo menos um pobre que se assemelha Deus, porque no Natal Deus veio pobre” ao mundo. Francisco, ao final, desejou um “feliz Natal, cheio das surpresas de Jesus! Estas poderão parecer incômodas, mas são os gostos de Deus.”
Seja bom o seu dia (feliz Natal) e abençoada a sua vida. Pax!!!