Multidão silenciosa

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 19/08/2018
Horário 05:40

Foi dada a largada. A propaganda eleitoral iniciou no dia 16, após a inscrição dos pretendentes aos cargos eletivos no pleito de 7 de outubro. O cidadão-eleitor terá quase dois meses para conhecer pessoas, partidos e propostas. Homens e mulheres que pretendem representá-lo em vários níveis da estrutura governamental do estado. Cada eleitor deverá escolher um presidente da república, dois senadores da república, um deputado federal, um governador estadual e um deputado estadual. Com a alastrada sensação de paciência curta entre o povo, com menos tempo para campanha, os candidatos deverão sobretudo reconquistar a confiança dos eleitores.

O descrédito com o homem-público (o sujeito político partidário) é quiçá o grande desafio dessas eleições. Especialistas apontam as notícias falsas (chamadas Fake News) como principal fator desequilibrador do “jogo eleitoral”. De fato, a indústria produtora de notícias falsas é imensa e o seu consumidor nem sempre vai à procura dos fatos. Representantes de tribunais eleitorais (superior e regional) já se manifestaram na tentativa de garantir a lisura do processo combatendo as fake news. Nesse cenário de quase-bagunça, tem também a ruidosa desconfiança contra as urnas eletrônicas.

O calendário determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ser seguido sem maiores dificuldades. A situação sui generis de determinado candidato (preso!) gera desconforto e instabilidade, afinal, quando um grupo partidário roteiriza a narrativa visando os próprios interesses tumultua o processo. Faltou-me acenar para a crise da representatividade dos eleitos. Já faz algum tempo que esse tópico é debatido. O cidadão não se reconhece naquele outro cidadão eleito para representá-lo no governo ou no legislativo. A cultura de benesses aos políticos e os jogos dos subterrâneos palacianos indicam que povo e políticos distam algumas léguas um do outro.

Não sendo cientista político, considero-me apenas um observador do quotidiano. Não sendo isento de paixões nem de vieses ideológicos, pretendo ver e ouvir para ter o que dizer nas arenas saudáveis os dados disponíveis a um e outro grupos. Compilei os números das eleições municipais de 2016 no município de Presidente Prudente para ilustrar o que disse acima e para sinalizar alguma direção. De todo modo, permaneço aberto ao contraditório próprio aos debates. Conforme o site Placar das Eleições do Portal UOL, temos: total de eleitores habilitados: 169.288 (100%). Votaram: 126.492 (74,72%). Não votaram: 42.796 (25,28%).

Agora, vejamos os números obtidos pelos candidatos. Nelson Bugalho: 33.209 (29,46%) foi eleito prefeito municipal [recebeu 19,6% do total de eleitores habilitados]. Fabio Sato: 32.175 (28,54%) [19% dos habilitados]. Agripino Lima: 30.224 (26.81%) [17,85% dos habilitados]. José Lemes Soares: 11.349 (10,07%) [6,70% dos habilitados]. Daniel Grandolfo: 778 (0,69%). Prof. Donizete: 425 (0,38%). Dodô: (-). Brancos: 4.996 (3,95%). Nulos: 8.772 (6,93%). Dos 126.492 votantes, 13.768 (10,88%) foram ‘não-válidos’, enquanto 112.724 (89,12%), válidos. Total de votos, digamos, ‘não-válidos’: 56.564 [33,41%, observe que são 13,81% a mais que o candidato eleito]. O município tinha em 2016 cerca de 220.000 habitantes; sendo assim, apenas 51,24% escolheram os representantes da população total.

Esse sistema estaria adequado às reais necessidades da população? Visto que a abstenção (nulos e brancos) favorece o sistema e os políticos de sempre, em artigo passado, sugeri o protesto pelo voto. Não deixar de votar. Comprometer-se com uma escolha ao ponto de poder exigir do seu escolhido um comportamento coerente com suas promessas de campanha e as necessidades da coletividade. Essa multidão silenciosa (ausente nas votações) está gritando e desequilibrando o jogo. Não sem-sentido, muitos eleitores acabam escolhendo salvacionistas de plantão oferecendo o que não poderão entregar. Os candidatos deveriam, a meu ver, tentar conquistá-la dando-lhe voz e vez. Mas, como?

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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