Moradores relatam receio e apreensão em Venceslau

Possível resgate de uma facção na P2, descoberto há mais de um mês, ainda mexe com a população pelo reforço policial na cidade

REGIÃO - GABRIEL BUOSI

Data 15/11/2018
Horário 06:14
Marcio Oliveira - Caminhão de choque faz monitoramento dentro da P2 e na porta de entrada da unidade
Marcio Oliveira - Caminhão de choque faz monitoramento dentro da P2 e na porta de entrada da unidade

Após pouco mais de um mês que foi noticiado um suposto plano de resgate de membros de uma facção criminosa na Penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, conhecida como P2, em Presidente Venceslau, a reportagem retornou ao município para ver como anda o policiamento local, até então reforçado com a presença de 150 novos oficiais, e entender como esse cenário impactou o dia a dia da população da cidade. O clima de apreensão, que para alguns representa o medo e para outros a certeza de um ambiente seguro pela quantidade de policiais nas ruas, é bem retratado por uma entrevista em especial. “Essa quantidade de pessoas revela que esse suposto plano é algo muito maior do que nós moradores imaginávamos e certamente traz medo sim. Normalmente a cidade, mesmo policiada, não costuma ver tantas equipes nas vias e isso é preocupante, mas confortante ao mesmo tempo”, afirma a assistente social Regiane Santana, de 28 anos.

No dia 10 de outubro, quando o juiz de Direito corregedor da P2, Gabriel Medeiros, determinou o isolamento do aeroporto municipal, a fim de evitar um possível resgate de membros da facção criminosa, a reportagem encontrou logo na base da Polícia Militar Rodoviária, antes da entrada do município, a presença da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), e no trevo que dá acesso à unidade e ao aeroporto estava um caminhão de choque que fazia o monitoramento do local, ação compartilhada em todo o município também com equipes do GAC (Grupo de Artilharia de Campanha) e GOE (Grupo de Operações Especiais), somando 150 novos oficiais na cidade. Ontem, no entanto, o trevo já não contava com tais equipes, o que poderia aparentar um cenário mais tranquilo. No entanto, ao passar pela portaria de entrada da P2, foi possível notar a presença de não apenas um, mas dois caminhões de choque da corporação, que protegem o local junto com as viaturas da Rota.

Para entender um pouco melhor sobre este trabalho de monitoramento, a equipe de Regimento de Cavalaria Nove de Julho, com sede em São Paulo, afirma contar com 11 oficiais em Presidente Venceslau, sendo que cinco deles ficam montados em cavalos da raça brasileiro de hipismo, animais que auxiliam no trabalho efetivo. “O policiamento montado, muitas vezes, se torna mais eficaz, devido ao nosso ângulo de visão em cima do cavalo. Percebemos pela aproximação das pessoas e pelos depoimentos, que a presença da polícia como um todo diminuiu a criminalidade local e estamos muito felizes com a receptividade que tivemos aqui”. O grupo é dividido em dois, sendo um deles com três e o outro com dois cavalos, em ações de vistoria em toda a cidade. Questionado, o grupo afirma estar há 13 dias em Venceslau, mas ressalta que a presença se dará “enquanto for necessário”.

A voz dos moradores

O morador do Residencial Olga Rheingantz Elliz, Odair Estevam, 44 anos, que fica entre o Aeroporto Municipal de Presidente Venceslau – fechado por causa do suposto resgate desde o dia 10 e repleto de veículos espalhados pela pista - e a P2, afirma que já comprou o imóvel sabendo da presença dos dois locais, mas disse que a suposta ação da facção traz apreensão aos moradores. “Percebo que o policiamento melhorou e a presença de pessoas estranhas aqui diminuiu desde o mês passado. Estou há 11 anos aqui e é a primeira vez que vejo algo parecido”, comenta. Ainda conforme Odair, existe certa falta de informação sobre o ocorrido por parte das autoridades, o que aumenta a tensão.

O aposentado de 79 anos, Tarcílio José da Mota, por sua vez, ressalta que a “enorme quantidade” de oficiais no município deveria ser vista como uma forma de proteção aos moradores, já que eles estariam treinados e prontos para um possível combate. “Claro que no começo a gente fica apreensivo, mas sabemos que é para o nosso bem”.

PRINCIPAIS OCORRIDOS APÓS A INTERCEPTAÇÃO DO RESGATE

- Treinamento com armas de guerra

Conforme noticiado no dia 7 de novembro, os agentes da Polícia Militar que atuam na segurança do perímetro da P2 teriam recebido treinamentos reforçados com armas de guerra, após a descoberta de um plano estimado em R$ 100 milhões para resgatar os chefes da facção criminosa. Conforme noticiado por este diário, “o plano previa a ação de mercenários estrangeiros, dois helicópteros de guerra, lança-mísseis e metralhadoras”.

- Justiça prorroga fechamento de aeroporto

No dia 9 de novembro este periódico informou que a Justiça havia prorrogado para o dia 26 do mesmo mês o fechamento do Aeroporto Municipal de Presidente Venceslau. A decisão foi anunciada pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) por causa do fim do prazo de isolamento determinado pelo juiz Gabriel Medeiros.

- MPE analisa transferência de presos da P2

Na manhã do dia 9 de novembro, promotores de Justiça regionais se reuniram na sede do MPE (Ministério Público Estadual), em Presidente Prudente, onde participaram de um encontro junto ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Poggio Smanio. Entre os assuntos estava a segurança em Presidente Venceslau. “O deputado federal Major Olímpio [PSL], eleito ao Senado a partir de 2019, encaminhou um ofício ao procurador-geral para que ele peça as transferências dos chefes da organização a um presídio federal, o que, segundo afirma, ‘está sendo analisado’”.

- Promotoria vai à Justiça para transferir chefes de facção

No domingo, a “Folha de São Paulo” divulgou que, diante da resistência do governo Márcio França (PSB) em transferir chefes da facção para presídios federais, o Ministério Público de São Paulo decidiu apresentar sozinho um pedido à Justiça para tentar a remoção, por avaliar que há risco de resgate na unidade estadual onde eles estão. O pedido, envolvendo de 15 a 20 integrantes, deveria ser feito, conforme a “Folha”, nesta semana.

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