Com a proximidade das festas de fim de ano, famílias começam a traçar planos sobre onde passar o Natal e o ano-novo. Para alguns, no entanto, o destino permanece incerto neste período. Mesmo sem qualquer perspectiva de mudança de vida, moradores de rua de Presidente Prudente torcem por um ano melhor e mais generoso. É o caso de Silvana Pereira de Matos Silva, 42 anos, que chegou ao município há aproximadamente um mês. Ela conta que deixou Teodoro Sampaio para tentar uma oportunidade de emprego em Prudente, contudo, a promessa de recomeçar a vida em uma nova cidade não ocorreu conforme previra. Sem ter para onde ir, as ruas lhe acolheram e serviram de “lar” enquanto não consegue um trabalho. A situação de instabilidade, contudo, não a impede de comemorar o Natal e, inclusive, fazer votos para a data. “Espero muita saúde, paz, alegria no coração e que todo morador de rua respeite o outro, porque somos uma família”, expõe.
Antes de deixar Teodoro, Silvana relata que trabalhou em uma casa de família como cuidadora, mas resolveu pedir as contas quando sua patroa quis “ter o controle da sua vida”. “Eu não permito que ninguém mande em mim”, afirma. Esta é a sua primeira experiência na rua e ainda está aprendendo a se adaptar às condições precárias que o espaço urbano oferece. “Agora entendo o sofrimento dessa gente, que precisa se virar para tomar banho e comer. Eventualmente, ganho uma marmita, mas não como sozinha. Se vejo alguém com fome, reparto a comida e deixo de me alimentar para ajudar o outro”, comenta.
Embora ainda não tenha conquistado um endereço, Silvana não pretende se acomodar. Ela adianta que, assim que conseguir um emprego, vai sair das ruas e ir atrás de uma moradia. “Gosto de andar com os meus próprios pés. Nunca dependi de homem nenhum”, acrescenta a desempregada, que até divaga sobre o que faria se ficasse rica. “Caso eu ganhasse na loteria, ia dar uma casa para todo mundo que considero aqui, porque é ruim viver sem lar e comida”, diz.
Para sobreviver nas ruas, Silvana conta com a ajuda de Jânio de Ramos Oliveira, 58 anos, que se tornou seu maior amigo. O morador de rua é natural de Presidente Venceslau e chegou a Prudente após ser expulso de casa em virtude de sua dependência ao álcool. Sem ter aonde recorrer, pegou sua bicicleta e veio parar no município, onde está desde 2015. Diferente de Silvana, Jânio não é tão otimista. Para este Natal e ano-novo, sua expectativa é “conseguir atravessar o ano”. Porém, se mostra ambicioso ao pedir tempos de paz. “É uma pena que vivemos em meio a uma guerra. Quando termina uma, nasce outra pior”, relata.
“Entregue ao mundo”, como ele mesmo diz, Jânio quer conseguir um endereço para morar. Em relação ao alimento, não faz tanta questão, já que “dá um jeito de comer em qualquer lugar”. E também não pretende voltar a trabalhar. “Trabalhar para quê? Não tenho ninguém”, lamenta. Após sua vivência nas ruas prudentinas, decidiu acolher Silvana para orientá-la sobre “os lugares certos e os errados”. Junto à nova amiga, ele até se permite estabelecer uma meta para o Natal. “Estamos querendo ir ao Balneário [da Amizade]. É mais sossegado para colocarmos a cabeça no lugar”, pontua.
Alternativa
A SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) informa que não há ações programadas para pessoas em situação de rua, contudo, promoverá almoços de Natal e ano-novo para cerca de 40 acolhidos no Centro de Referência da População Migrante de Rua, a antiga Casa de Passagem. A pasta esclarece que os leitos não estão integralmente ocupados, portanto, novos candidatos poderão ser acolhidos. A unidade está localizada ao lado do prédio da SAS, na Rua Napoleão Antunes Ribeiro Homem, 431. O telefone para contato é o 3223-6252.
