Memórias e desafios

Este texto tem o tom de um depoimento que, para ser feito, exige tratar um pouco da experiência que vivi, a qual efetivamente, como todos os tipos de experiência, se desenvolvem em dado espaço-tempo. Qual foi o tempo que vivi como parte do movimento estudantil? Em que espaço se inscreveu essa vivência?

Antes de descrever esse espaço-tempo, ainda preciso lembrar que o modo como cada um de nós reconhece e recupera o passado têm relação direta com a forma como construímos a relação entre memória individual e memória coletiva. Se outros depoentes da minha faixa de idade estivessem escrevendo, com certeza, revelariam a pluralidade de olhares que se pode desenvolver sobre o mesmo conjunto de fatos, sobre o mesmo pedaço de tempo, sobre a mesma experiência vivenciada na década de 1970. Essa diversidade é consequência tanto da singularidade do ponto de vista a partir do qual cada um olha e vê o mundo, como decorre de selecionarmos, na memória, fatos que foram os mais significativos.

No caso de um período de exceção na vida política brasileira, marcado pelo autoritarismo, é provável que mais que esquecer (perder a lembrança de), nós somos levados a olvidar (perder a memória de), olvidar aquilo que é doloroso demais lembrar. O diapasão entre o total esquecimento e a fantasia heroica sobre o que foi vivenciado é grande: espero não cair em nenhuma das duas pontas dessa régua.

No livro Estratos do Tempo, do historiador Koselleck, publicado pela primeira vez no ano 2000 em alemão, o autor: “...atenta para o fato de falar sobre tempo utilizando metáforas, pois é uma figura de linguagem capaz de representar o tempo em movimento, ou seja, perceber o tempo histórico como linguagem. Sendo assim, as metáforas tempo/espaço é a forma mais nítida de expressar as experiências do tempo, já que o tempo se desenrola em um espaço”.

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