Meio ambiente aguarda plano B

OPINIÃO - Maurício Waldman

Data 19/01/2019
Horário 05:30

Diante de problemas como a expansão do lixo, da escassez de água e das dificuldades energéticas, ninguém põe em dúvida a seriedade da crise ambiental. Pois então, impõe-se demarcar alternativas colocadas ao alcance das coletividades para superar os dilemas pautados por numerosos impactos ambientais. É neste plano de expectativas que o autor deste texto recua mentalmente para dez anos atrás, quando foi gentilmente convidado para integrar seleto grupo de ambientalistas históricos na recepção que o Banco Bradesco organizou no Masp (Museu de Arte de São Paulo) para homenagear Lester Brown, renomado estudioso norte-americano da área ambiental, que na ocasião, visitava nosso país.

Este evento de 2009 foi mais que legítimo. Explico a razão: Na folha de serviços de Brown, para além de 50 livros traduzidos para 40 idiomas e 30 prêmios internacionais (inclusive o Premio para o Ambiente da ONU de 1987), consta também a fundação do Worldwatch Institute e do Earth Policy Institute, entidades de ponta na defesa do meio ambiente e da análise ambiental.

Brown foi inúmeras vezes definido como um dos mais influentes pensadores mundiais. Guru do ecologismo, a influência de Brown no ideário moderno confirma-se pelo fato da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, a maior do mundo, ter solicitado previamente, pela primeira vez na sua história, notas e manuscritos de Brown, uma personalidade ainda viva, para serem resguardados pela instituição.

Autor de “Plano B 4.0: Mobilização para salvar a Civilização”, obra lançada no Masp, esta, enfatiza os planos do sábio: inovação tecnológica, energia solar, ecoefiência, economia verde e recuperação do lixo, que sua na ótica, não seriam medidas meramente ambientais. Também devem gerar emprego, acelerar a economia e produzir riqueza. Isto é: ecologia não é estagnação, mas sim, progresso e desenvolvimento.

Certo é que este elenco de axiomas poderia genericamente sinonimizar Brown às narrativas ruidosas da legião de ativistas das ONGs (organizações não-governamentais) ou dos que se dedicam a nebulosas iniciativas sustentáveis com resultados muitas vezes discutíveis. Mas, não é disso que se trata. Sendo tecnólogo de formação e com títulos na área da administração, o decano da ecologia é sumamente um homem prático, que oferece soluções, reposicionando o desenvolvimento sem negá-lo. Daí que, coerentemente, Lester é professor honorário da Academia Chinesa de Ciências e circula com desenvoltura tanto entre ativistas quanto no meio empresarial e corporativo.

No mais, Brown entende que a força básica da transformação decorre dos procedimentos concretos das pessoas, com ou sem ONGs, com ou sem Estado. Boas propostas e agendas de boas práticas ecológicas reclamam cidadãos em movimento, assumindo a parte que lhes cabe na dinâmica geral de mudanças. Lester recorda que representantes nos parlamentos, conselhos e entidades, suplementam causas endossadas pela população. Mas não as substituem. Baseado na antropóloga Margareth Mead, uma das suas autoras prediletas, Brown recorda que pequenos grupos de cidadãos podem mudar tudo. Pois na realidade, é exatamente isso que tem sempre acontecido.

Numa avaliação precipitada, alguns poderiam argumentar que as ideias de Brown não são aplicáveis em realidades diferentes dos EUA, não fazendo sentido, por exemplo, para o Brasil. Há que defenda que o país necessita de mais Estado, mais representantes e mais legislação. Mas, foi exatamente este o caminho que colocou o país numa sortida coleção de becos aparentemente sem saída, juízo do qual a governança ambiental não pode ser dissociada.

Pois então, urge pensar outros caminhos. Um plano B ambiental para o país sugere que o meio ambiente passe a ser uma prática firmada na realidade nacional, brasileira na forma e na essência, pondo em questão fórmulas prontas que tem dado no que deu. Precisamos de soluções e não de reclamações. Precisamos de um ideal que seja real, potencializando o que o país tem de melhor. Por isso mesmo, precisamos debater as ideias e as práticas de Lester Brown.

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