Maior dificuldade é permanência no emprego, diz estudo

Pesquisa realizada pela Toledo Prudente Centro Universitário ouviu 30 deficientes e interpretou principais entraves no mercado de trabalho

PRUDENTE - SANDRA PRATA

Data 05/12/2018
Horário 05:32
José Reis - Deficiente visual, Mara acredita que sociedade mantém preconceito velado
José Reis - Deficiente visual, Mara acredita que sociedade mantém preconceito velado

Deficiente visual desde que nasceu, Mara Fabiana Coutinho tem 40 anos e há dois trabalha como telefonista em uma empresa de Presidente Prudente. A história de Mara e de outros 29 deficientes foram ouvidas e apresentadas em forma de pesquisa, na noite de ontem, pelo curso de Serviço Social da Toledo Prudente Centro Universitário. O Seminário sobre pessoa com deficiência e o mercado de trabalho está inserido na programação da Semana da Pessoa com Deficiência realizada pela Prefeitura de Presidente Prudente até 10 de dezembro.  O objetivo do estudo é entender o cenário e as dificuldades da inserção dos deficientes no mercado de trabalho. Dos ouvidos, 21 estão empregados, assim como Mara, e nove seguem em busca de uma oportunidade. De acordo com a professora idealizadora da iniciativa, Silvana Trevisan Batista, com base no perfil e nos relatos dos entrevistados, foi possível chegar à conclusão de que o maior problema não é a inserção no mercado de trabalho, mas sim a permanência.

“As empresas, por lei, são obrigadas a contratar ao menos uma quantidade de pessoas com deficiência, mas isso não significa que elas estão preparadas para recebê-los”, explica. Com isso, revela que o objetivo do estudo é ampliar a visão da sociedade para esse público e, principalmente, promover a reflexão em busca da mudança de atitudes. Mara concorda que a ação se faz necessária. Ela conta que se mudou para Prudente em 2015 e demorou oito meses até conseguir seu primeiro emprego na cidade. “É perceptível que as pessoas te acham inferior por ser deficiente visual. As empresas te contratam devido às cotas, mas ficamos esquecidos lá”, expõe.

Hoje, a telefonista revela que, embora tenha um emprego estável, se sente discriminada por não ter a chance de mudar e evoluir de cargo dentro da empresa. “Já fiz diversos processos de seleção e, mesmo passando em todas as etapas, não consegui nenhuma promoção”, conta. Em seu ponto de vista, isso é o reflexo de preconceito velado da sociedade. “Te dão a chance, mas não acreditam em você de verdade”, lamenta.

Indicadores

Conforme Silvana, a pesquisa partiu de alguns indicadores. Destes, o primeiro se refere à falta de crença dos empresários. De acordo com a docente, os deficientes ouvidos, em sua maioria, se sentem desconfortáveis no ambiente em que trabalham. “É preciso ser feita uma reeducação para abrir espaços que, de fato, sejam suficientes e ofereçam condições de trabalho como qualquer outro”, pontua.

O segundo indicador apontado pela professora é a questão do preconceito devido a cotas empregatícias. Segundo explica, todos relatam já terem sido vítimas de olhares de discriminação por estarem exercendo a vaga de cotas para deficientes. “Existem aqueles comentários de achar que eles só estão ali porque existe uma lei e não porque de fato são capazes”, explana.

O terceiro e quarto indicador se complementam. De acordo com Silvana, muitos se culpam por não se sentirem preparados para um trabalho, enquanto outros sofrem porque não possuem estrutura necessária para trabalhar, como falta de rampas de acesso e até mesmo de comunicação com o restante do quadro de funcionários daquela empresa. “A solução é desenvolver políticas públicas, a fim de capacitar essas pessoas e equalizá-las com a concorrência no mercado, oferecer cursos técnicos, são políticas inclusivas que dão resultados e podem ajudar a reverter o cenário”, expõe.

Exceção

Danilo Aurélio dos Santos Fernandes, 31 anos, é deficiente físico desde os três anos de idade, quando sofreu um acidente de carro. Ele conta que trabalha desde os 14 anos e não se lembra de ter passado por alguma dificuldade quando o assunto é arrumar um emprego. “Claro que no começo sempre existem olhares meio atravessados, as pessoas ficam receosas de te passar tarefas e você não conseguir executá-las”, relata. No entanto, para ele, isso nunca o afetou. “Não me acho inferior nem superior a ninguém, realizo meu trabalho e sempre foi tudo tranquilo, graças a Deus”, ressalta.

Todavia, Danilo reconhece que seu caso é uma exceção. Em seu ponto de vista, a sociedade ainda “tem muito o que aprender” quando se trata de convívio e respeito coletivo. Para ele, o ambiente em que trabalha hoje faz com que se sinta acolhido e confortável. “Às vezes, me sinto um pouco excluído por conta da agilidade em digitar [trabalha com computador], porque só consigo utilizar uma mão, então, me sinto um pouco atrasado em relação aos outros, mas nada que tire o meu sono [risos]”, diz.

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