Limites éticos

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 11/12/2018
Horário 04:05

Trans, prefixo de origem latina que significa “para além de”. Transumanismo é um movimento internacional da modernidade que visa transformar o ser humano com manipulação genética e/ou formar o homem-máquina para aumentar suas capacidades intelectuais, físicas, emocionais, sensitivas, psicológicas, intuitivas. A transumanidade pensa em criar seres humanos próximos à perfeição. Mas quais serão as consequências?  

Pesquisadores chineses realizaram pela primeira vez na história, experimentos com modificação de genes de embriões humanos, fazendo assim voltar a controvérsia de questões éticas. “Considerados cautelosos” temem que a modificação de embriões humanos, mesmo que com o objetivo de curar doenças genéticas, tenha consequências imprevisíveis sobre as gerações futuras, podendo ser irreversível! Há também questionamento de seu uso em iniciativas de eugenia, que prega a “melhoria” das populações e eliminação ou esterilização dos “indesejados”, por não corresponder a embriões superiores ao humano atual. O chinês Huang procura driblar os questionamentos éticas dizendo que usa nos experimentos embriões humanos que não resultariam em nascimentos, e eles são obtidos em clínicas de fertilidade.

Outro pesquisador chinês, He Jiankui, diz ter ajudado a criar os primeiros bebês editados do mundo. São as meninas gêmeas - Lulu e Nana - cujo DNA foi alterado com uma nova ferramenta capaz de reescrever o projeto da vida. O pesquisador disse também que alterou os embriões para sete casais durante os tratamentos de fertilidade, mas somente uma única gravidez chegou ao final com o nascimento das gêmeas Lulu e Nana. Não revela o nome dos pais e disse que seu objetivo é oferecer aos embriões característica que poucas pessoas têm. Deseja, por exemplo, uma capacidade especial de resistência a uma possível infecção como HIV, o vírus da aids, etc. Mas será que seu trabalho é fiscalizado? Veja, leitor, o risco que a humanidade pode adentrar. Vivemos numa época em que os cientistas são tão enaltecemos como fora enaltecida a religião na idade média.  Só mudou o foco da adoração. Outro fato curioso é que esse cientista é especialista em física e não tem experiência com experimentos humanos.

Sem bola de cristal, não podemos prever o futuro da nascente transumanidade. A pergunta que não se cala é se o desenvolvimento científico e tecnológico constituem evolução que torna o mundo melhor. A ciência e a tecnologia não são moralmente neutras, porque elas expressam condições de mudanças para o bem ou para o mal, porque o progresso científico e tecnológico também colocar a vida da terra em risco como, por exemplo, o caso das bombas atômicas e de hidrogênio.

Assim, as teorias científicas e as inovações tecnológicas devem ser avaliadas em suas implicações através de constante controle crítico que deve ocorrer não somente por cientistas, mas também por não cientistas e por toda a sociedade, já que somos todos nós, nossos descendentes e os que estão ainda para nascer os que serão beneficiados, prejudicados ou mesmo vitimados pela loucura tecnológica. Ensinou Charles Chaplin: “Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade, mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes tudo será perdido”.

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