Liberdade espiritual

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 02/12/2018
Horário 05:01

O ano passou, dezembro chegou e logo findará. As pessoas que procuram dar (encontrar) sentido à sua vida investem tempo e outros meios disponíveis naquilo que lhes fará alcançar a meta pretendida. “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”, foi a frase filosófica usada pelo fundador da logoterapia, Viktor Frankl –sobrevivente de “Auschwitz”, durante a 2ª guerra mundial–, para de algum modo expressar a necessidade de termos um para onde encaminhar a vida, encontrando no sofrimento um sentido. Se sei onde quero chegar, o como faço para alcançar esse fim é (não no sentido moral) menos importante. Suporto demoras e desvios porque sei onde quero chegar; interromper o caminho seria pior.

Como tema central do existencialismo, temos que “a vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar sentido na dor. Se há, de algum modo, um propósito na vida, deve havê-lo também na dor e na morte. Mas pessoa alguma pode dizer à outra o que é este propósito. Cada um deve descobri-lo por si mesmo, e aceitar a responsabilidade que sua resposta implica. Se tiver êxito, continuará a crescer apesar de todas as indignidades” (G. Allport). “A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se lhe pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar a sua vida de modo que tenha sentido. Pois não somente uma vida ativa tem sentido (...) Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá”.

Hoje, iniciamos na Igreja Católica (e naquelas que adotam e adaptam o calendário litúrgico), o advento, um tempo de expectativa, de espera, de esperança. Na liturgia, é tempo de recordar o nascimento de Jesus (a encarnação do Verbo de Deus na história da humanidade) naquele cenário palestino e do presépio franciscano. Também, tempo de preparação para a “Parusia”, isto é, a segunda vinda do Senhor. Ele voltará em glória. Caminhamos ao seu encontro. O profeta Isaías, o precursor João Batista, José e Maria destacam-se. Com eles aprendemos a ouvir a voz de Deus, a esperar o cumprimento da promessa e a dar ao mundo o salvador. Este tempo nos prepara para o Natal.

A época natalina põe a lume um bocado de desajustes psicológicos e psiquiátricos. Muita gente entra em crise, se deprime, angustia, agride, vicia e até atenta contra a própria vida. Como sabemos, o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia para outro, de uma hora para outra –importa o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento–. Não se deveria procurar um sentido abstrato da vida. Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida; cada um precisa executar uma tarefa concreta, que está a exigir realização. Tarefa e oportunidade de realizá-la são singulares. Cada pessoa é questionada pela vida; poderá somente responder à vida respondendo por sua própria vida; à vida ela somente pode responder sendo responsável.

Dias atrás as pessoas estavam eufóricas com a “Black Friday”. Procurando sentido para a sua existência no consumo de coisas (nem todas necessárias). Muito empenho e sacrifício para adquirir um produto que lhes desse valor e estima... sentido. Numa missa de semana, o papa Francisco, foi ao ponto: há uma doença contra a generosidade (o socorro aos pobres): “a séria doença do consumismo” que consiste em “comprar sempre coisas, gastar mais do que precisamos”, “uma falta de austeridade de vida”. Essa doença nos fecha os olhos e o coração, estreita os horizontes da existência e nos faz apenas sofrer, sem sentido, pois o coração humano não foi feito para acumular coisas.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

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