Laudério Botigelli: Mão na massa

Empresário de Presidente Prudente está envolvido na produção de 200 toneladas por dia de macarrão e 40 de biscoito, que são comercializadas em todo território nacional

PRUDENTE - Homéro Ferreira

Data 13/10/2019
Horário 04:12
Paulo Miguel - Perante produção de 200 t/dia de macarrão, Laudério Botigelli projeta PP para o Brasil
Paulo Miguel - Perante produção de 200 t/dia de macarrão, Laudério Botigelli projeta PP para o Brasil

Mesmo avesso à exposição pública, o empresário Laudério Leonardo Botigelli aceitou falar à reportagem de O Imparcial sobre sua trajetória. História com origem na imigração italiana e que passa pela lavoura de café no interior paulista e a venda de secos e molhados no nordeste paranaense, para chegar a Presidente Prudente em meados dos anos 1960, como sócio de pequena fábrica de macarrão. Hoje, as Indústrias Alimentícias Liane produzem 200 toneladas/dia de macarrão e 40 de biscoito. Produtos encontrados em gôndolas de supermercados em todo território nacional.

Entre os anos 1870 e 1930, pelo menos 7 milhões de italianos deixaram o seu país depois do Risorgimento, movimento de unificação que provocou guerras em 1870, para que a Itália chegasse à condição de estado-nação ao ajuntar pequenos reinos, a maioria sob o domínio dos austríacos.  Com a economia enfraquecida, faltando trabalho nos campos e nas cidades, o governo estimulou a imigração subvencionada. O Brasil esteve entre os países de destino. Época em que surgia o povoado de São Sebastião do Pouso Alegre, na região de Bauru (SP), que inaugurava a Ferrovia Noroeste do Brasil.

Os avós paternos de Botigelli e os filhos pequenos viajaram 20 dias de navio para chegarem ao Porto de Santos e de trem foram para São Paulo. Pela Estrada de Ferro Sorocabana, com entroncamento em Bauru, seguiram para Pirajuí que teve origem no povoado com o nome de santo. Trabalharam como colonos em fazenda de café, no bairro rural Água Quente, onde nasceu Botigelli e seus sete irmãos, sendo seis mulheres. Era com sua irmã mais velha que caminhava 11 km para irem à escola.

Em busca de vida melhor, em terras mais férteis e com as oportunidades que Londrina (PR) oferecia, os pais de Botigelli trocaram de Estado. Naquela época, com 14 anos, foi trabalhar como office-boy no Instituto do Pinho, órgão que cuidava dos interesses de produtores, indústrias e exportadores de madeira. Quando jovem, foi ser vendedor viajante de secos e molhados da Casa Vila Real, empresa de atacado e varejo com matriz em Londrina e filais em São Paulo, Arapongas e Maringá.

Botigelli abriu a filial de Arapongas, que se tornou a mais importante do grupo, sendo a que mais vendia. Bem relacionado com a classe empresarial de Arapongas, aceitou o convite para ser sócio de Pio Lobato na compra de fábrica de macarrão em Prudente, da família Peretti. Como Lobato já tinha uma fábrica em Arapongas, contrataram gerentes para tocar a empresa que ficava na avenida Brasil, em frente as Casas Moreira, onde hoje está o Supermercado Nagai. Já com família constituída, Botigelli comprou a parte do sócio e assumiu a fábrica em 1966, dois anos após a compra em sociedade.

Novos ares

Prudente já era maior que Arapongas e a família gostou da mudança. Em 1957, em Londrina, Botigelli casou-se com Tilda, moça de família piracicabana. Os quatro filhos nasceram no Paraná: Laudério Jr, Luís Antonio, Liane e Lorival. A fábrica era pequena, com uma máquina que produzia 170 kg/hora. Hoje, equipamento para o mesmo tipo de macarrão produz 6 mil kg/hora. Uma das lembranças de Botigelli era a de ir com a esposa na fábrica, nas manhãs de domingo, de fusca bege, para vistoriar “a frota” de dois caminhões utilizados nas entregas nos Estados do Paraná e Mato Grosso, quando ainda não havia sido desmembrado o Mato Grosso do Sul.

A organização já fazia parte das características dos negócios de Botigelli e nisso havia a contribuição de sua esposa, que costurava os uniformes dos funcionários.  A marca Liane surgiu no final dos anos 1960. A escolha do nome da filha para os produtos ocorreu em concurso pelo rádio. O prêmio foi um fogão a gás, ganho por morador de Presidente Epitácio. O prédio próprio surgiu com a compra de dois alqueires à margem da rodovia Assis Chateaubriand (SP-425). Em 1974, a fábrica e o escritório foram para o novo endereço, onde estão até hoje, mas em ambientes bem maiores.

Crescimento contínuo, aliado à expansão dos negócios, que incluem duas lojas de materiais de construção, das quais o início foi a Madeireira Liane. Os caminhões levavam macarrão e traziam madeira de Mato Grosso do Sul. Foi neste segmento que surgiu outra ação expansionista: a construção civil, com prédios de apartamentos. Também fazem parte do grupo as concessionárias Volkswagen, em Prudente e Presidente Venceslau; fazendas em Tarabai e no Mato Grosso do Sul.

A distribuição dos produtos é com 80 caminhões próprios. Parte do Brasil é abastecida pelo centro de distribuição em Goiânia (GO), com transporte terceirizado. A terceirização total do setor é medida a ser tomada em breve. Maior parte da farinha é comprada no Paraná e Rio Grande do Sul, Estados que produzem trigo com a qualidade exigida pelos produtos Liane. Também é uma questão de nacionalismo, assim como ocorrem com equipamentos que são fabricados no Brasil. Com produções em três turnos, são empregados 800 funcionários.

Família

Filhos, genro e netos estão envolvidos nos negócios. Vários funcionários são antigos; alguns com mais de 40 anos. A valorização de pessoal tem o foco em trabalhar com pessoas sérias, preocupadas com o trabalho e que zelam pelo emprego.  No setor econômico a regra é utilizar capital próprio, sem nenhum centavo de financiamento. Nestes tempos tecnológicos, manter o vendedor viajante tem a ver com humanização da relação direta com o cliente. Produzir macarrão tem para Botigelli forte relação com sua origem italiana. Ainda que o produto seja invenção chinesa, a Itália é a referência em bons pratos e no consumo médio de 40kg/ano por pessoa, ante 4 kg/ano no Brasil.

Embora disposto a servir a comunidade em causas sociais, Botigelli tem recusado convites para ser prefeito. Prefere a condição de eleitor comprometido, que vota em gente honesta, sem pensamento voltado para corrupção. Em Arapongas foi dirigente esportivo e tem na lembrança a seguinte manchete da Folha de Londrina: “O Real Madrid de Arapongas comprou Gígio e Silvano”, referindo-se à contratação que fez de dois jogadores junto ao São Bento de Marília.

Em Prudente, integrou a comissão de construção do Estádio Paulo Constantino, Prudentão (1982). Foi diretor de patrimônio da Prudentina e do Tênis Clube. Construiu a Colônia Tilda Botigelli para recuperação de dependentes químicos. Tem contribuído com a Santa Casa e o Hospital do Câncer. Em seu recente aniversário de 90 anos, a filha Liane reuniu os amigos numa festa com o cantor Daniel e seu pai José Camillo. Até há alguns anos, às noites de terças-feiras de Botigelli eram reservadas para jogos de futebol, substituídos por jantar com amigos no Aruá Hotel. Botigelli leva uma vida tranquila. Ficou viúvo há 25 anos.

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