Jovens apostam em cosplay para dar vida aos personagens favoritos

- ANDRÉ ESTEVES

Data 15/08/2018
Horário 08:31

Entre os jovens da nova geração, pode ser complicado encontrar alguém que nunca imaginou como seria reunir as sete esferas do dragão ou captar um Pokémon por meio de uma pokebola. Produzidos por estúdios japoneses, os animes se consolidaram como parte do imaginário infantil e engana-se quem pensa que os cartuns ficaram restritos a esta fase da vida. Lançado em meados de 2016, o jogo Pokémon Go se tornou febre no Brasil após oportunizar, a partir da realidade aumentada, que seus jogadores finalmente conquistassem e treinassem as criaturinhas como se elas estivessem no mundo real.

A tecnologia é mais recente, no entanto, a prática de vivenciar as aventuras reproduzidas pelas animações já vem de longa data. Oriunda do Japão, a cultura de se vestir como personagens fictícios dos mangás e animes se espalhou rapidamente pelo mundo e, até hoje, reúne milhares de fãs em convenções voltadas a este universo.

UM LUGAR PARA OS OTAKUS

Em Presidente Prudente, o comerciante Pedro Leonelli, 35 anos, comanda há oito anos a loja Gibilândia, que nasceu justamente com o objetivo de atender os apaixonados por este meio – os chamados otakus. No estabelecimento, é possível encontrar toda a sorte de revistas, vestuários e acessórios, que vão desde os mangás, passando pelas camisetas, até os acessórios para cosplay, como foi denominada a prática em que o adepto se fantasia como os personagens dos cartuns. “Para muitos, o interesse por esse mundo vai além de comprar os quadrinhos e consumi-los. É preciso vestir a camisa e mostrar que são fãs”, expõe.

COSPLAY E “COSPOBRE”

O sucesso do empreendimento justificou até mesmo a criação do Gibifesta, anteriormente chamado de Otakontro, que visa reunir os interessados para que troquem ideias sobre o assunto. Realizado até três vezes por ano, o encontro viabiliza ainda um concurso de cosplay que, para tornar a competição justa, premia os participantes em duas categorias: o melhor cosplay e o melhor “cospobre”, direcionado àqueles que não têm tantos recursos para elaborar seu figurino e utilizam a criatividade para improvisá-lo.

CHANCE DE AUTODESCOBERTA

Há quem leve a sério a confecção dos visuais. É o caso da estudante de Educação Física, Sarah Alves Gomes da Silva, 19 anos, que faz produtos sob encomenda para aqueles que desejam se vestir igual ao personagem favorito. A ideia de transformar o hobby em negócio surgiu depois que a jovem viu no cosplay a oportunidade de superar suas próprias inseguranças. Ela conta que, assim como qualquer criança, teve problemas na infância que interferiram em sua autoestima. A princípio, queria vestir uma máscara que a fizesse se sentir outra pessoa. Chegou um momento, contudo, em que percebeu que não recorria ao cosplay a fim de se esconder, mas para ser ela mesma. “É como se, quando eu estivesse vestida, tivesse mais coragem para ser feliz”, argumenta.

CARAVANAS FORMAM AMIGOS

A social mídia Isabelle Garzo, 24 anos, não só se tornou adepta deste universo, como toda a sua vida já gira em torno disso. Além de assistir animes, ler mangás e dedicar seu tempo para jogos eletrônicos, ela também organiza eventos de otakus e realiza caravanas para levar os interessados para convenções na capital paulista e outras cidades dentro ou fora do Estado.

O comerciante Pedro acrescenta que não gosta de ver o cosplay como uma “fuga da realidade”, uma vez que isso pode ser considerado alienação, mas uma forma de entretenimento e diversão. “Seja em eventos ou caravanas, a prática é um modo de formar um grupo que goste das mesmas coisas e possa não só discuti-las, como construir novas amizades”, pontua.

PERFIL

                                      Cedida/Mariana da Silva Santos

Nome completo: Mariana da Silva Santos

Idade: 20 anos

Curso: Jornalismo

Faculdade: Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)

O Imparcial: Mariana, quais as diferenças entre um otaku e um cosplayer?

Mariana: Na verdade, não há muita diferença. Quando essa cultura começou no Japão, os adeptos faziam mais cosplays de personagens de mangás e animes. O otaku é um amante desse universo, por consequência, podemos dizer que o cosplayer é um otaku na maior parte das vezes. Hoje, isso mudou um pouco, pois há cosplayers que só se fantasiam como personagens de histórias em quadrinhos ou super-heróis.

E como você se interessou por essa cultura?

Desde criança, sempre fui fã de animes. Então, naquela graça de imitar o personagem que mais gosta, você acaba procurando mais sobre ele e encontra fotos de gente fantasiada. Posso dizer que a internet foi a minha janela para ver esse mundo super divertido.

Antes de se descobrir cosplayer, você já tinha o interesse pela cultura japonesa. Como isso começou?

Até hoje, isso também é um mistério para mim. Eu tive bastante convívio com pessoas descendentes de japoneses e achava legal a forma como elas se comportavam, bem como o seu idioma. Foi aí que pedi para estudar japonês e pude conhecer a Acae [Associação Cultural, Agrícola e Esportiva] de Presidente Prudente. Entrei no grupo de jovens e virei voluntária nos eventos que eles realizam. Fui de somente otaku a uma japa de coração. Sempre brinco com os meus amigos que adotei a cultura deles.

Você já se interessava por animes nesse período?

Sim, eu já assistia há bastante tempo, desde a época em que eram exibidos Sailor Moon, Saint Seiya [Os Cavaleiros do Zodíaco] e Sakura Card Captors. Os animes estão comigo desde criança.

Quando passou a ser cosplayer, você assumiu um personagem específico ou gosta de se fantasiar de forma diferente a cada evento?

Eu sou muito fã de Super Mario Bros, então, criei a minha versão dele. É a que mais uso. No entanto, faço outros personagens. Tem algum tempo que não mexo mais com os meus cosplays, pois comecei a trabalhar na organização de eventos desse meio. Não dá para fazer os dois, competir e organizar.

Em Prudente, os interessados podem encontrar eventos voltados a essa cultura?

Sim, há bastante. Seguindo uma ordem no calendário, temos o Nikkei Fest e o Geek Etec em maio. Por volta do meio do ano, a loja Gibilândia sempre promove o Gibi Festa [antes, Otakontro]. E em outubro, há o Haru Anime. Esses eventos oferecem atrações e lojas de acessórios para cosplay, mas o que mais atrai são os concursos, que visam premiar os melhores cosplays, seja com brindes ou dinheiro.

Em sua opinião, o que leva uma pessoa a investir tempo e dinheiro nesse tipo de iniciativa?

O amor. É gratificante ver pronto o personagem por quem você tem carinho e poder mostrar para todos o quanto gosta dele.

Normalmente, quais são os personagens mais homenageados?

Ultimamente, ando vendo muitos cosplays de League of Legends [jogo eletrônico] e de personagens da Marvel. No Anime Friends, fui a trabalho e me deparei com muitos cosplays da D.Va de Overwatch [jogo eletrônico], de Homem Aranha e da Ahri do League of Legends. O pessoal varia bastante, mas sempre há um que está na moda do momento.

Há requisitos para ser um cosplayer ou qualquer um é livre para vivenciar essa cultura?

Que nada! Todo mundo pode ser cosplayer e gostar de animes e mangás. É uma coisa livre. Basta uma pesquisa rápida na internet para você encontrar mil coisas diferentes. Quando se der conta, já está planejando um cosplay.

DICA DE FILME

O Túmulo dos Vagalumes (1988)

                                                                     Divulgação

Relacionada ao tema desta edição, a indicação da semana é a animação japonesa “O Túmulo dos Vagalumes”, que acompanha a luta de dois irmãos pela sobrevivência em meio a um cenário de guerra. Órfãos em decorrência do conflito, os dois conseguem hospedagem na casa de parentes, mas decidem viver em um abrigo no meio do mato após se sentirem um “incômodo” para os familiares. Quando a caçula adoece, o irmão mais velho precisa se esforçar para encontrar ajuda e comida para a menina, o que se torna difícil em um país lidando com a destruição de seu povo e a escassez de alimentos.

AGENDA

SÁBADO E DOMINGO (18 e 19)

Vivência de Muay Thai

Local: Bosque do Sesc Thermas de Presidente Prudente

Endereço: Rua Alberto Peters, 111 – Jardim das Rosas

Telefone: 3226-0400

Horário: Das 9h30 às 11h e das 14h às 17h

Preço: Gratuito

Atividade: Arte marcial tailandesa com mais de 2 mil anos de história, atualmente é praticada como esporte em vários países e caracteriza-se pelo uso combinado de punhos, cotovelos, joelhos, canelas e pés. Nesta vivência, os participantes têm o primeiro contato com os movimentos da modalidade, visando à prática saudável.

SÁBADO E DOMINGO (18 e 19)

Lian Gong em 18 Terapias

Local: Bosque do Sesc Thermas de Presidente Prudente

Endereço: Rua Alberto Peters, 111 – Jardim das Rosas

Telefone: 3226-0400

Horário: Das 10h às 11h30

Preço: Gratuito

Atividade: Um dos primeiros sistemas de prática corporal oriental que integra a tradição milenar chinesa aos modernos conhecimentos da medicina ocidental. É uma técnica de exercícios para prevenir e tratar de dores no corpo e restaurar a movimentação natural.

NAS CONVENÇÕES

                              Cedida/Sarah Alves Gomes da Silva

Sarah Alves Gomes da Silva e Lawana Macedo

                                      Cedida/Mariana da Silva Santos

Equipe do Cosplay World Masters

                                                   Cedida/Izabelle Garzo

Izabelle Garzo e Andreza Siqueira

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