Interesse em doar órgãos deve ser manifestado em vida aos familiares

EDITORIAL -

Data 26/04/2019
Horário 04:00

Em menos de duas semanas, duas notícias trouxeram esperança para diferentes famílias brasileiras, que poderão retomar suas vidas ao lado de entes queridos graças às captações de órgãos realizadas pela Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente. No dia 13 de abril, o hospital realizou a primeira destinação de múltiplos órgãos do ano, sendo fígado, rins e córneas, doados por uma mulher de 50 anos que sofreu um AVCH (acidente vascular cerebral hemorrágico). Já na quarta-feira, a família de um homem de 57 anos, vítima das mesmas circunstâncias, autorizou a doação de dois rins e um fígado.

É impossível prever e identificar os pacientes que serão contemplados e salvos por esses gestos de solidariedade, uma vez que a definição obedece a exames de compatibilidade e a uma lista de espera estadual. No entanto, somente a consciência de que um ato tão singelo será capaz de prolongar a vida de terceiros já é suficiente para assegurar que a morte de um familiar querido não foi em vão. Para que situações como essa se tornem rotineiras, é preciso, portanto, desconstruir mitos e incentivar o diálogo sobre o assunto dentro do ambiente doméstico, já que é este o espaço propício para que um indivíduo, em vida, sinalize o seu desejo de ser um doador de órgãos na eventualidade de morte inesperada.

Não há o que temer quanto a isso. Conforme garantido pelo hospital, nenhum paciente terá a sua vida abreviada apenas para fornecer órgãos a outro. Como já noticiado por este diário, é necessário que seja constatada uma situação muito particular – a morte cerebral –, que ocorre quando as atividades cerebrais entraram em inatividade. Como os médicos dispõem de um prazo curto após o diagnóstico para realizar a captação de órgãos, a abordagem à família deve ser feita de forma imediata e num momento extremamente delicado. Nesse sentido, se os familiares não estão preparados para decidir sobre isso naquele momento, as chances de recusa são maiores.

É, por esta razão, que verbalizar o interesse de doar órgãos é tão importante. Após o término de nossas vidas, cabe somente aos nossos familiares consentir a captação de órgãos, e esse processo será facilitado se eles tiverem conhecimento da vontade do doador em potencial. Isso não só possibilitará que outras pessoas ganhem a oportunidade de recomeço, como permitirá a extensão da vida de quem se foi. Pratiquemos.

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