Indústria da felicidade aprisiona e controla emoções dos brasileiros

EDITORIAL -

Data 16/02/2018
Horário 13:50

O carnaval acabou, os confetes e serpentinas foram varridos, a euforia causada pelas músicas e pelos estimulantes cessou, as máscaras caíram, e agora quem somos? O que nos restou depois da folia? Depois que o trio passou e, com ele, toda alegria ocasionada pelo universo paralelo chamado carnaval? Será que realmente somos aquilo que fomos durante os quatro dias de festa? Será que temos estrutura interna para conservar, ao longo do ano, o sorriso estampado nas selfies publicadas nas redes sociais durante o carnaval? Ou com os blocos e as escolas de samba também se foi toda mentira que há em nós, restando apenas aquilo que somos, de fato? Vale a reflexão, já que o ano não é feito de carnaval e, por isso, nossa identidade não pode ser resumida a esse curto período de tempo.

Há tempos o Brasil é tido e estereotipado como o “país da alegria”, cantado em verso e prosa e propagado por todo mundo. Mas até que ponto essa felicidade, como a vista nos últimos dias, é de fato verdadeira? Será que, como afirma William Daves, autor do livro “A Indústria da Felicidade: Como o Governo e a Empresas nos Venceram o Bem-Estar”, nossas emoções não têm sido manipuladas e comercializadas por aqueles que detêm o poder – políticos e organizações?

No carnaval essa tendência se mostra muito evidente. Governos e empresas, sobretudo as de bebidas alcoólicas, mas também as de comunicação, telefonia e mídia, se unem para promover festas em todos os cantos, com o pretexto de celebrar o carnaval. No entanto, por trás da folia estão suas marcas, que lucram – e muito – com a data. Os governos, por sua vez, lucram com os impostos gerados pela movimentação de capital. E a conta, quem paga é o folião. Não é à toa que as emoções das pessoas são encaradas pela “indústria da felicidade” como commodities, com valor de compra e venda.

Mas o carnaval passou e agora vem a Páscoa, que apesar do significado, também ganhou apelo comercial e sentimental. Depois vêm os dias das mães, dos pais, dos namorados, das crianças e o Natal, datas condicionadas pelos poderosos para moldar e comercializar o comportamento da população. “Trabalhem, ganhem dinheiro, façam dívidas, mas consumam e sejam felizes!”, dizem eles. E, enquanto isso, sem esboçar reação, o brasileiro segue o coro: “Ê, ô, ô, vida de gado, povo marcado ê! Povo feliz!”.

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