A promessa de que Presidente Prudente seria a cidade ideal para a venda de artesanatos foi um atrativo para uma comunidade indígena do Paraná, que se instalou em uma praça localizada no Jardim Bongiovani, entre as ruas Capitão Alberto Mendes Júnior e Viriato Valete de Almeida. O local, desde então, ganhou um colorido diferente e que vai além do verde gramado, já que são inúmeros os balaios que estão disponíveis para o comércio ao ar livre e dão uma nova cara ao bairro. As quatro famílias que estão na praça devem seguir na cidade até quarta-feira que vem e esperam que o movimento aumente até lá, já que a realidade, de fato, não tem sido de vendas constantes.
De acordo com um dos índios integrantes da comunidade, Lídio Francisco, 39 anos, são 12 pessoas ao todo no local, sendo nove adultos e três crianças. O grupo faz parte da etnia Kaingang e está dividido entre índios da comunidade de Tamarana (PR) e da Reserva Apucaraninha, que fica em Londrina (PR). Com uma pequena dificuldade para entender e falar o português, já que a tribo tem uma língua nativa, Lídio afirma que todos os balaios comercializados foram produzidos em suas respectivas cidades natais, sendo que a intenção da vinda ao oeste paulista foi a promessa de um bom local para vendas de artesanatos.
“O interior de São Paulo costuma ser bom para nós, mas temos enfrentado dificuldades, pois estão fracas as vendas. Eu, por exemplo, trouxe 30 unidades e só vendi 13 até o momento”, conta. O índio afirma que são diversos os tamanhos, pequeno, médio e grande, dos produtos, sendo que os valores variam de R$ 20 a R$ 50. Com a baixa procura, a solução tem sido bater de porta em porta pela cidade e buscar o faturamento estimado. Sobre a recepção do município, Lídio afirma que as pessoas são “educadas”, sendo que o único problema é o “calor intenso”. O grupo deve retornar ao Paraná na quarta-feira
A presença da tribo na praça não tem sido alvo de críticas ou reclamações dos moradores do bairro. Pelo menos foi o que relatou a estudante, Mariana Hernandes, 21 anos. Conforme a jovem, a movimentação e comércio dos produtos não tem sido um problema, visto que o trabalho tem sido desempenhado de forma honesta. “Minha única preocupação é com o bem-estar deles. Como estão alojados em uma praça, talvez não tenham as condições adequadas para se manterem aqui”, informa.
O vizinho e autônomo, Felipe Peres Silvério, 29 anos, concorda com a jovem e, inclusive, auxilia os índios duas vezes ao dia, quando o grupo aproveita a presença do dono da residência para pedir água e abastecer as garrafas. “É a única coisa que os vi pedindo até agora, e não vejo problemas com isso. Não me atrapalha”, ressalta.
Poder público
De acordo com a Secretaria de Assistência Social, a Prefeitura não foi procurada pelo grupo indígena, sendo que a informação recebida é de que eles estariam na praça vendendo artesanatos. “Eles estão trabalhando e são protegidos por uma legislação específica, portanto, são autorizados a permanecer por lá”. A pasta informa ainda que uma equipe do Conselho Tutelar enviou representantes ao local para verificar a presença de crianças entre o grupo, o que não foi constatado. “Estamos fazendo uma nova visita hoje [ontem]”.
SAIBA MAIS
KAINGANG
De acordo com o Portal Kaingang, o grupo está entre os mais numerosos povos indígenas do Brasil, sendo que falam uma língua que pertence à família linguística Jê e junto com os Xokleng, integram o ramo Jê Meridionais. Sua cultura desenvolveu-se à sombra dos pinheirais, ocupando a região Sudeste/Sul do atual território brasileiro e há pelo menos dois séculos sua extensão territorial compreende a zona entre o Rio Tietê (SP) e o Rio Ijuí (RS). No século 19, seus domínios se estendiam, para oeste, até San Pedro, na província argentina de Misiones.
Atualmente, conforme o portal, os Kaingang ocupam pouco mais de 30 áreas reduzidas, distribuídas sobre seu antigo território, nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com uma população aproximada de 34 mil pessoas.