Hora do debate plural

OPINIÃO - Gaudêncio Torquato

Data 23/10/2019
Horário 04:44

É possível aferir avanços do processo civilizatório por meio de diversos elementos: tecnologia, expansão do conhecimento, aumento do tempo de vida do ser humano, grau de conscientização da sociedade, entre outros. E um dos aspectos mais evidentes no seio das democracias, para medir seu grau de eficácia, é a racionalidade.

Ao atingir uma boa pontuação no capítulo da racionalidade, um povo mostra que seu sistema de decisão ganha lógica, densidade, justiça. É quando o voto sufragado nas urnas, por exemplo, sai do coração e sobe à cabeça.  Nesse caso, o eleitor evita a síndrome do touro, que pensa com o coração e arremete com a cabeça.

Esse intróito convida-nos a imaginar que grau civilizatório retrata a atualidade brasileira. De pronto, pode-se garantir que ainda não somos uma sociedade racional, eis que nossa cultura é intensamente banhada por torrentes de emoção. A gente brasileira é calorosa, vibrante, toma partido em tudo, e costuma decidir mais pelo coração do que pela cabeça.

A sociedade brasileira, desde o final de 80, sob a égide de uma Constituição garantidora de direitos individuais e sociais, avançou na trilha da pressão sobre os Poderes, passou a criticar e a cobrar providências de dirigentes até chegar ao estágio mais recente - a mobilização social -, fenômeno que adquiriu força nos idos de 2013.

Chegamos, assim, ao atual momento, em que o país, dividido e polarizado, escancara a locução, quebra paradigmas, elege dirigentes sem usar as regras do velho jogo, enquanto contingentes agem de forma autônoma, não mais parecendo manadas de bois correndo no pasto. Concordem ou não, o país dá alguns passos na direção da racionalidade.

Por isso mesmo, não há mais condição de adotar práticas carcomidas: negociatas por baixo do pano, planos e projetos feitos a portas trancadas, burocratas plasmando reformas dentro de quatro paredes. A hora é do debate plural. A hora é de abertura das redomas. O ciclo que o Brasil atravessa exige total transparência.

A reforma política, pelo menos no que diz respeito ao sistema de voto, precisa definir a melhor metodologia para encarnar a vontade popular. E todos esses ajustes não podem acontecer sem o crivo do cidadão. Afinal, ele é o verdadeiro dono do mandato dos representantes. Todo poder emana do povo. E em seu nome deve ser exercido.

 

 

 

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