Hábito na casa dos brasileiros, desperdício deve ser combatido

Principais fatores que causam o descarte equivocado de comida são a desinformação e o preconceito, aponta nutricionista

PRUDENTE - SANDRA PRATA

Data 10/10/2018
Horário 09:06
José Reis - Juliana faz reuniões com hipertensos e diabéticos para ensinar a reutilizar alimentos e melhorar a saúde
José Reis - Juliana faz reuniões com hipertensos e diabéticos para ensinar a reutilizar alimentos e melhorar a saúde

Uma casca pode virar sucos, chás, doces e o que mais a criatividade mandar. Só não precisa, na maioria das vezes, virar resíduo orgânico na lata de lixo. Destino comum já que, segundo dados de 2018 da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o desperdício é hábito na casa das famílias brasileiras. Além disso, o arroz e o feijão são os mais descartados, somando 38% em um contexto de 1.764 famílias ouvidas. Em seguida, as mais desperdiçadas são as carnes de boi e de aves, com 20% e 15%, respectivamente. Nesse contexto, a nutricionista Juliana Santiago Santos diz que os números demonstram uma necessidade de maior disseminação de informações nutricionais e melhor planejamento na hora de ir ao mercado.

De acordo com a especialista, o que transforma o arroz e o feijão nas “maiores vítimas” das lixeiras é a falta de controle no volume de preparo diário. “Cozinham muito e requentam por dias, isso diminui o sabor e possibilita o descarte”, relata. Entretanto, é possível resgatar esses alimentos e transformá-los em novas opções gastronômicas, como bolinhos de arroz, sopas, canjas e até mesmo tortas. Para esse último, “basta substituir a farinha pelo arroz”, explica.

Para Juliana, a não reutilização de alimentos já é algo cultural no Brasil. Afinal, conforme expõe, existe um preconceito e hábito de não consumir alimentos com cascas ou que já tenham passado de um dia para o outro. “As pessoas têm o costume de achar que cascas são sujas, mas basta fazer uma higienização correta, pois o gosto, na maioria das vezes, é o mesmo do alimento”, ressalta. Para levar esse tipo de informação até o alcance das pessoas que Juliana trabalha, ela leciona nos cursos de Nutrição e Gastronomia da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), é supervisora de nutrição da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) edesenvolve, com seus alunos, reuniões nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da cidade. A ideia é ensinar a reutilizar os alimentos por meio de receitas simples. “Tenho uma cartilha que sempre levo, principalmente para ajudar pessoas com diabetes, hipertensão e doenças crônicas que necessitam de uma alimentação mais cuidadosa e saudável”, pontua.

Benefícios

Juliana denota que a reutilização de alimentos proporciona um aumento de ingestão de fibras e sais minerais, que auxiliam na saúde intestinal. Esta está ligada a diversas outras funções do organismo e pode agir na prevenção e doenças, aumento da imunidade e controlar doenças crônicas. “E de quebra dá um alívio no bolso, porque quando você começa a consumir alimentos integralmente, acaba comprando menos e gastando menos no mercado”, expõe.

Sobre os alimentos mais ricos em qualidade alimentícia, a especialista destaca talos e cascas de cenoura e beterraba. Porém, reforça que todo legume e vegetal é necessário. “Cada um tem seus nutrientes específicos”, acentua. Além disso, frisa que sementes de mamão, melancia e melão podem e devem ser consumidas. 

Reutilização solidária

Esperança. Esse é o nome do projeto idealizado pelo prudentino Luiz Abel Trindade Baldez. Realizado há 30 anos em Presidente Prudente, a iniciativa atende cerca de 100 famílias carentes com a distribuição de alimentos arrecadados. Segundo o idealizador, todas as doações são feitas por supermercados parceiros, feirantes e pessoas que, ao invés de descartar os alimentos, os direcionam para quem precisa.

Luiz denota que, embora sejam fruto de descartes, os alimentos distribuídos estão em perfeito estado de consumo. “Muitas vezes, um mercado, por exemplo, está com estoque bem próximo do vencimento e vai descartar tudo. Nós vamos lá, pegamos, e damos para quem precisa. Coisas que parecem sem valor para alguns podem salvar a alimentação do dia de alguém”, pontua.

Entre as imperfeições mais presentes nos produtos arrecadados pelo projeto, Luiz destaca pequenos problemas como embalagens defeituosas e furadas. “Coisas que uso na minha própria mesa, fico triste em ver o desperdício sabendo que existem tantas pessoas que passam fome”, expõe.

Realidade essa que marca. De acordo com Luiz, uma das cenas mais marcantes que presenciou durante a distribuição de alimentos foi a de uma criança que “chegou, pegou um pacote de pão e começou a chorar de felicidade”, acentua.

DICAS

- Procurar alimentos em feiras, pois no mercado os alimentos já vêm cortados sem talos, por exemplo;

- Quando chegar em casa, já faça a higienização, com uma colher de água sanitária por litro de água;

- Usar cascas e talos junto com alimento de preferência.

Fonte: Juliana Santiago Santos

SAIBA MAIS

Segundo pesquisa da Embrapa, no Brasil, são cerca de 350 gramas desperdiçadas por dia em residências. Já por pessoa, a quantia de descarte é de 144 gramas diariamente. Além disso, 61% das famílias ouvidas priorizam a realização de uma compra mensal ao invés de compras semanais.

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