Fechamento de empresas cresce 92,5% no 1º semestre

Nos primeiros seis meses de 2017, Sedepp registrou 324 encerramentos, enquanto neste ano foram 624; setor de serviços foi o mais atingido

PRUDENTE - THIAGO MORELLO

Data 15/09/2018
Horário 04:02
Marcio Oliveira - Na contramão, Mundo Verde abriu a segunda loja em Prudente neste ano
Marcio Oliveira - Na contramão, Mundo Verde abriu a segunda loja em Prudente neste ano

Ao longo de sua formação acadêmica como administrador, o prudentino Lucas Bosso Querubim sempre pensou em abrir seu próprio negócio. Em março deste ano ele conseguiu realizar o sonho, e com outros dois sócios, montou um restaurante. Entretanto, o cenário geral de Presidente Prudente vai na contramão da realidade de Lucas. Isso porque a Sedepp (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico) registrou 624 fechamentos de empresas no primeiro semestre deste ano. O número é 92,59% maior que no mesmo período de 2017, quando foram 324. Para especialista, além da crise econômica, cenário pode ser fomentado pela guerra fiscal.

A nomenclatura é dada para a disputa entre cidades e Estados, a fim de ver quem oferece melhores incentivos para que as empresas se instalem em seus territórios. E em nível tributário, o Estado de São Paulo ainda é um dos entes que lideram o ranking com os maiores valores, como analisado pelo economista Eder Canziani. “No caso da nossa região, a situação é mais concorrida, diretamente com Mato Grosso do Sul e Paraná, que são fronteiras próximas”, pontua.

Pensando na história dessa guerra fiscal, o especialista lembra que algumas empresas que eram tradicionais por aqui se deslocaram para outros municípios, de outros Estados, em vista da diferença paga pelos tributos. “Uma história em nível de São Paulo é a própria indústria Ford, que ficou naquela ciranda, vai para o sul ou para outro local, mas, de qualquer forma, decidiu migrar. É preciso rever o ICMS [Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços]”. O imposto citado, no patamar federal, é o mesmo para todos.

E a compensação do pagamento de imposto, quanto maior for, é descontada do cliente, que lida com o encarecimento dos produtos e serviços, analisa Eder. Aliado ao período de colapso financeiro, ele compreende que quando a empresa precisa lidar com muitos tributos, principalmente as menores, a tendência é mesmo fechar, em vista dos gastos incompatíveis com os lucros. “Se abaixar haveria uma concorrência maior. E em termos de localização, nesse ponto a vantagem é um pouco melhor, já que o Estado de São Paulo tem uma população maior, e isso quer dizer mais mão de obra disponível, além de mais pessoas comprando”, analisa.

Desempenho

Os mesmo dados da Sedepp que apontam um número maior de fechamentos também elenca os setores. E nesse quesito, a categoria de serviços foi a que mais fechou portas. No período analisado de 2018 são 339 encerramentos, o que representa 54,32% de todas as oclusões e supera o número do ano passado, levando em conta o primeiro semestre. Na sequência do desempenho negativo, vem o comércio.

Mas de volta ao setor mais crítico, o diretor regional do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), José Carlos Cavalcante, avalia que isso é resultado de um despreparo, uma vez que a maioria das pessoas que empreendem, o faz por necessidade. “É na verdade o empregadorismo, que é gerar um emprego para si próprio, do que o empreendedorismo”, explica. Para ele, falta planejamento, recursos e boa gestão.

Na contramão

É válido lembrar que a Sedepp também dispõe da quantidade de empresas que abriram nesse meio tempo. E por mais que o número seja menor que 2017, foram 1.154 pessoas que se aventuraram a viver do empreendedorismo. E por aí, a categoria de serviços também lidera, desta vez positivamente, seguida, novamente, pelo comércio.

E dentre esse público empreendedor está Lucas, mencionado no início da reportagem. Hoje ele é sócio do Santô Açaí Food, especializado em “natural food” (comida natural/saudável), mas também abrangendo pratos gerais. E sob a análise de quem está no mercado, ele destaca que “falar que o meio está totalmente favorável é mentira”, mas as oportunidades ainda existem. “A crise afeta, mas acreditamos que quanto mais trabalho, mais para frente a coisa vai”, completa.

Ou seja, o empresário procura dizer que a crise existe, mas com aplicação e planeamento as coisas acontecem. “Investindo não só financeiramente. Aqui, por exemplo, a gente busca ter um bom atendimento, fazer pesquisas de qualificação, desenvolver e reciclar cardápios, enfim, se adequar conforme o mercado anda”, pondera.

Para Lucas, essas são dicas e orientações que vão fazer com que “o cenário seja um pouco mais positivo”, quando o período de crise bater na porta. “Isso faz com que a gente forme um conceito, cative clientes e os fidelize. Se a intenção é abrir um negócio e deixar pra lá não vai adiantar nada. Tem que vestir a camisa e trabalhar”, destaca. Ele também ressalta que, antes de mais nada, se a pessoa pensa em ser empreendedora, tem de estar ciente do que realmente quer, e estudar o ramo.

Essas mesmas dicas foram ofertadas por Natalia Afonso Cancian, gerente da unidade do Mundo Verde Parque do Povo. A loja, conhecida por vender produtos naturais, também foi inaugurada no primeiro semestre de 2018. Nessa contramão dos fechamentos, ela conta que isso foi possível através de uma própria percepção da loja, diante do crescimento da cidade. “Nós identificamos pelos nossos clientes, a dificuldade, às vezes, em estacionar no centro [local da loja 1], o que fez com que a gente precisasse expandir”, enfatiza. Sem falar que ela ainda comenta o crescimento no número de clientes interessados por esses produtos específicos.

E isso faz com que a orientação de Natalia, de conhecer o produto que vai vender, faça sentido. À reportagem, ela lembra que, antes de abrir qualquer negócio, é preciso identificar essa mercadoria ou serviço a ser oferecido, “pois nem sempre o que gostamos é também o que os outros consomem”; determinar o público, conhecer a região e também a viabilidade financeira. “Principalmente no começo, quando tudo é mais difícil e o crédito disponível não é alto. Então, tem que haver planejamento, colocar no papel. Empreender é legal, mas tem que por na balança”, pontua.

ABERTURA E FECHAMENTO DE EMPRESAS NO 1º SEMESTRE

Setores

Abertura

Fechamento

2017

2018

2017

2018

Indústrias

10

6

8

15

Comércio

327

232

123

242

Prestação de serviços

795

818

162

339

Diversão pública

33

36

27

21

Feiras livres

46

58

4

6

Comércio eventual ou ambulante

6

4

0

1

Total

1.217

1.154

324

624

Fonte: Sedepp

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