Nenhum time de futebol passa batido por problemas administrativos, nem mesmo aqueles que estão no topo dos maiores campeonatos nacionais. Assim como, não fogem de denúncias quando o jogador já está fora do clube. Se tudo isso ocorre em grandes times, não seria diferente nas equipes do interior. Na tarde de quinta-feira, no programa Comercial Esportes, da Rádio Comercial, jogadores recém-demitidos do Grêmio Prudente falaram sobre alguns problemas que estavam acontecendo no clube e fizeram. A reportagem de O Imparcial também foi atrás dos jogadores, que pediram para não serem nomeados na matéria, para entender o lado deles e também do clube, sobre problemas que passaram no alojamento após serem liberados.
Os jogadores fizeram denúncias sobre o tratamento dado aos atletas após serem dispensados, alegando a falta de condições básicas. A confusão, de acordo com eles e confirmado pelo próprio clube, ocorreu por problemas de transferências que um dos investidores do elenco não fez e prejudicou o início do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Pelo desligamento do investidor, o time decidiu dispensar os jogadores que ele havia apresentado ao clube. “Um investidor nos trouxe, escolheram a gente a dedo, depois de problemas, arranjaram outro investidor e o clube mandou a gente embora. Deixaram claro que não era por questão técnica, mas pelos problemas que aconteceram”, afirma um dos atletas.
Alegando falta de condições básicas, como higiene, alimentação, transporte e moradia, os jogadores contaram que, devido a demissão deles e a procura por outros jogadores para compor o elenco, o alojamento, uma casa com três quartos e dois banheiros, passou a abrigar em torno de 30 pessoas. Por conta da superlotação, muitos citaram a dificuldade em dormir. “Tivemos que dormir três em dois colchões para os que chegassem tivessem conforto”, contam.
Nenhum dos jogadores que fizeram as denúncias é da região de Presidente Prudente, mas de Estados distantes. E eles afirmam que tiveram problemas também no momento de deixar a cidade. “Tentamos conversar e eles não aceitaram, queriam pagar só 38 reais para a gente. Aonde a gente chega com 38 reais de fundo de garantia? Não adianta falar que o problema é do investidor, quem assinou com a gente foi o Grêmio”, destacam. De acordo com eles, 11 dos 28 jogadores contratados deixaram o clube, mas não por ajuda da diretoria, mas porque recorreram aos pais. “Meu pai está pra pegar dinheiro e mandar pra eu ir embora, pra pagar a passagem de volta”, afirma um deles. “Disseram que vão dar baixa na carteira e vamos esperar resolver tudo, quero meus direitos, porque estão falando que não querem pagar nada”, completa.
Sem condições de ir embora, já que os custos são altos, outro problema é a alimentação. De acordo com eles, o clube não queria que aqueles que foram desligados do elenco tivessem acesso a alimentação no alojamento. “Alimentação é questão do clube, ontem mesmo falaram que não ia ter janta, tivemos que comprar a briga para que todos jantassem, porque senão iam deixar sem comer”. Desde ontem, três dos jogadores que participaram da reportagem passaram a morar de favor em uma casa, aguardando que tudo se ajeite.
No clube
Em contato com a diretoria gremista, José Clóvis da Silva, Zé Clóvis, disse que o caso dos atletas está acontecendo por causa de um investidor que não teve o nome revelado, que pagaria o salário dos jogadores, mas teria sumido. “Por conta do Grêmio era alimentação, transporte e alojamento, fizemos esse acordo de boca, por isso está dando esse rolo todo”, afirma. Segundo ele, o acordo de pagamentos foi feito em contato direto dos jogadores com o investidor. “Ele (investidor) disse que pagaria no próximo dia 5 e eles aceitaram, mas ele sumiu, não atende mais ninguém”, relata.
A dispensa ocorreu por conta de que o custo seria alto para o clube bancar os jogadores. Segundo ele, o clube tentou pagar a passagem de volta de cada um, mas não aceitaram e queriam mais. Disse ainda que muitos dos que ficaram escolheram permanecer na cidade por conta própria.
Sobre a superlotação, o diretor afirmou que o estado atual é precário. “O lugar é para 18, ou 24 pessoas, não sei ao certo, mas tivemos que colocar jogadores a mais ali, já que os outros não aceitaram ir embora”, confirma. E para ele, o clube errou ao assinar o contrato e fechar conversa apenas por boca com o tal investidor, e diz que o Grêmio foi enganado, assim como os jogadores. “Fomos enganados, eles também foram, mas tem que ir embora, é um caso de rescisão como em qualquer outra empresa”, declara.
Ministério Público
A reportagem entrou em contato com o MPT (Ministério Público do Trabalho) para repercutir sobre a situação dos ex-jogadores gremistas. Conforme a procuradora do Trabalho, Renata Aparecida Crema Botasso, o órgão não havia recebido nenhuma denúncia sobre o caso até a tarde de ontem, porém ele afirma que irá “abrir uma investigação a partir das denúncias dos atletas feitas através da imprensa”.
Além disso, como na carteira de trabalho dos ex-jogadores há o registro do Grêmio Prudente, de acordo com a procuradora do Trabalho, a diretoria do clube teria o dever de contribuir com todos os direitos. “Em tese, é o Grêmio que tem a obrigação de pagar a rescisória, o deslocamento e tudo o que tiverem direito”, afirma.