Ex-dependentes químicos relatam histórias de superação

Silvino Alves Neto e César da Silva relembram o histórico de vício e os desafios do retorno ao convívio social

REGIÃO - GABRIEL BUOSI

Data 07/11/2019
Horário 15:07
José Reis - Silvino diz que o primeiro contato com a bebida foi aos cinco anos
José Reis - Silvino diz que o primeiro contato com a bebida foi aos cinco anos

Não é de hoje que a dependência química em álcool e drogas é considerada como um problema de saúde pública no Brasil. Além dos efeitos prejudiciais causados na vida daqueles que enfrentam a doença, a dependência traz ainda reflexos no dia a dia dos familiares, amigos e pessoas preocupadas em salvar essas vidas.

O professor Silvino Alves Neto, 60 anos, comenta que o primeiro contato com a bebida alcóolica surgiu ainda criança, com cinco anos, quando, durante festas de família, esperava as pessoas dormirem para procurar pela casa garrafas e bebidas que pudessem o satisfazer. A experiência perdurou até próximo dos 18 anos, muitas vezes de forma controlada, mas foi na maioridade que ele percebeu que o consumo poderia se tornar um vício. E, de fato, se tornou. “Há pouco mais de oito anos a minha vida mudou, pois eu perdi o controle, mas inicialmente fiz um tratamento em casa. Ocorre que, anos depois, em 2018, tive uma recaída e fui internado”, comenta.

Os motivos que o levaram a esse momento de fraqueza foram diversos, como dívidas, alunos “desinteressados”, como ele mesmo classifica, um processo de separação e um possível quadro de depressão. “Eu já não queria mais me esforçar. Chegava em casa sem saber como, fazia coisas que não me lembro. Foi quando conversei com minha filha e decidimos pela minha internação, pois naquele momento meu corpo tremia, eu suava frio, sabia que estava doente e não respondia por mim”, lembra.

Silvino ressalta que foi no Lar São Miguel Arcanjo na Providência de Deus, na cidade de Pirapozinho, que por sete meses encontrou uma saída. Atualmente, há três meses de volta ao convívio social, ele expõe que o pós-tratamento depende muito de cada indivíduo, já que o esforço se faz essencial neste período. “Muitos são os dedos apontados para nós e está sendo muito difícil a socialização. No entanto, estou indo devagar com as coisas, frequentando a Igreja, algo que antigamente não fazia, e sei que não será fácil, mas acredito que será mais uma etapa vencida na minha vida”, finaliza.

Jornal O Imparcial

Foto: José Reis - César: “A recuperação é diária, o tratamento nunca acaba”

Volta por cima!

César da Silva, 57 anos, aos 12 anos começou a fazer o uso da bebida alcóolica. O consumo, que seguiu até os 52 anos, foi um dos fatores que o fez perder a esposa, o trabalho e momentos que não voltam mais. “Aquilo estava acabando com a minha vida. Por muitos anos ignorei os problemas, pois achava que bebida alcoólica não era droga e não causava dependência, mas depois aceitei por causa da minha família e decidi me internar”, rememora.

A ajuda veio por meio da Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, que, após a internação, ofereceu a ele um emprego no Lar Nossa Senhora do Carmo na Providência de Deus, em Álvares Machado, como monitor, para expandir a experiência e ajudar novos assistidos. “Foi onde conheci o caminho do amor. Me sinto um homem novo, recuperado física, mental e moralmente. A recuperação é diária, o tratamento nunca acaba, mas somos capazes de recusar as vontades que temos e sempre surgem”, finaliza.

 

Videodocumentário

A história de ambos faz parte do videodocumentário “Quatro Sinais”, produzido pela TV Facopp e a Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus. Três unidades foram documentadas e tiveram suas histórias reunidas em um filme, que serve para abordar a questão da dependência química. As comunidades terapêuticas escolhidas são lugares que viabilizam o tratamento e recuperação de pessoas toxicodependentes e por isso possuem papel fundamental na sociedade. O documentário pode ser assistido aqui.

“Quatro Sinais”, conforme os idealizadores, representa o total de ciclos que os assistidos passam durante o tratamento de recuperação e também os quatro pilares (família, religião, grupo de apoio e trabalho) usados como alicerce na reintegração do paciente enquanto ser humano. A palavra “Sinais” remete ao “Tau”, última letra do alfabeto hebraico, usado com valor simbólico de representação de salvação e determinação de Deus. O “Tau” é representado também por uma cruz em forma de “T”, muito utilizada pelos franciscanos.

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