A vereadora Marielle Franco (PSOL), do Rio de Janeiro, foi assassinada a tiros no bairro Estácio, região central da capital carioca, na noite de quarta-feira. De acordo com a Agência Brasil, ela teria sido atingida por pelo menos quatro disparos na cabeça quando voltava de um evento na Lapa. Para a empresária, Larissa Dutra, que era amiga da vereadora e vive há cerca de um mês em Presidente Prudente, Marielle era considerada um “fenômeno”, com uma capacidade “enorme” de mexer com as conjunturas sociais. A violência, que para ela pode ser considerada como uma execução, será motivo de uma mobilização amanhã, em Prudente, na Praça Monsenhor Sarrion, a partir das 9h. “Queremos honrar a memória dela”.
Além da vereadora, conforme a Agência Brasil, também morreu no ataque Anderson Gomes, que trabalhava como motorista e prestava serviços eventuais para Marielle. Uma assessora que também estava no carro sobreviveu ao ataque. A vítima voltava de um evento chamado “Jovens negras movendo as estruturas”, na Lapa, quando foi assassinada. Há duas semanas, Marielle havia assumido a relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio, criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro e vinha se posicionando publicamente contra a medida.
“A parlamentar também chegou a denunciar, em suas redes sociais, no fim de semana, uma ação de policiais militares na favela do Acari. ‘O 41º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. (…) Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior’, escreveu”, diz a agência de noticias.
“Ela batia de frente”
Larissa era amiga de Marielle e se mudou para Prudente há cerca de um mês, vinda do Rio de Janeiro na busca por uma “estrutura mais calma” no interior, tanto para a empresa que comanda, quando para a vida pessoal, além de ser uma forma de refúgio para a situação “crítica” que o Estado carioca enfrenta. Questionada sobre os momentos que viveu ao lado da vereadora, ela diz ter boas recordações. “A gente era companheira de luta, participei, de certa forma, da campanha dela e tínhamos a mesma linha de raciocínio no que diz respeito à militância. Ela era um fenômeno”, expõe.
A empresária comenta ainda da garra de Marielle para ser eleita, quando mesmo vindo de favela e sendo uma mulher e negra, conseguiu na “boca a boa” a quantidade de votos necessária, e se mostrou presente na política que visava muito além dos interesses comuns. “Ela começou, então, a bater de frente com muita gente grande, como, por exemplo, a Polícia Militar do Estado. A postura firme e de militância voltada aos jovens negros levou visibilidade para ela e pouco tempo depois vemos essa notícia, de que ela foi brutalmente assassinada. Para mim é execução, não há o que discutir. Só precisamos saber de quem partiu”.
Em memória da amiga e também como uma forma de protestar contra a violência, uma mobilização está prevista para amanhã de manhã, em Prudente, na Praça Monsenhor Sarrion a partir da 9h. “Queremos falar sobre tudo isso que vem ocorrendo”.
Sâmia Bomfim nasceu em Prudente, é vereadora em São Paulo e foi eleita pelo partido PSOL. Em uma carta aberta na rede social Facebook¸ Sâmia diz que a legenda “exigirá investigação rigorosa” do caso, além de mostrar solidariedade para a família da vítima. “Nossa equipe está estarrecida com o brutal assassinato. Ao que tudo indica trata-se de uma execução de uma mulher negra, jovem, da favela e militante ativa pelos direitos humanos que não se calava frente às injustiças”, expõe.
SAIBA MAIS
Conforme dados disponibilizados pelo site Mapa da Violência, de 2015, o homicídio contra mulheres negras aumentou 54% em dez anos. O estudo, elaborado pela Flasco (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), aponta o aumento ao mostrar que passaram de 1.864 casos em 2003, para 2.875, em 2013. No mesmo período, no entanto, a quantidade anual de homicídios de mulheres brancas caiu 9,8%, saindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013. Conforme o Mapa da Violência, o país tem uma taxa de 4,8 homicídios por cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo, conforme dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), que avaliou um grupo de 83 países.