Estudantes transformam cinzas do bagaço da cana em tijolos

Ideia é fruto do TCC de dois alunos de Engenharia Civil e pode virar um novo produto no mercado

REGIÃO - SANDRA PRATA

Data 22/06/2018
Horário 08:54
Marcio Oliveira - Alunos visam criar plano de negócio para implantar tijolo sustentável no mercado
Marcio Oliveira - Alunos visam criar plano de negócio para implantar tijolo sustentável no mercado

O fim da graduação chega para todos e com ele planos para entrar no mercado de trabalho e o temido TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Portanto, por que não juntar os dois em uma única coisa e ainda ajudar na sustentabilidade regional? Essa foi a ideia de dois alunos do 10º semestre de Engenharia Civil da Fapepe/Uniesp (Faculdade de Presidente Prudente), Paula Renata Palmeira dos Santos e Magno Luiz de Almeida Brito, quando começaram a desenvolver a pesquisa Incorporação das cinzas do bagaço de cana de açúcar no tijolo de solo cimento. O projeto tem duração de um ano e, entre pesquisas, testes e ensaios, os estudantes, com o auxílio do professor orientador Murilo Mendes de Ângelo, têm planos com os resultados.

Segundo o professor, que deu a sugestão da pesquisa, o ponto de partida foi o fato de que na região existem muitas usinas de açúcar e álcool e isso gera grande quantidade desses resíduos de cana-de-açúcar. “A ideia é dar um novo destino para esse material, que é prejudicial ao ambiente”, explica. Quando o assunto é descarte sustentável, Paula concorda com Murilo e destaca esse como um dos principais itens de relevância social do trabalho. “Desde o começo da faculdade tínhamos interesse nesse assunto e hoje o mundo precisa de mais pesquisas nessa área de sustentabilidade”, considera.

Dando vida ao produto

De acordo com Magno, o início de tudo foram estudos para escolha do tipo de solo que iriam utilizar como base. “Cada solo exige que o tijolo tenha uma porcentagem diferente de cimento”, pontua. Após a escolha do solo, tipo arenoso, foram feitos ensaios para descobrir qual seria a quantidade necessária de inserção de cinzas de bagaços de cana para suprir a porcentagem que foi retirada de cimento sem prejudicar a resistência. “Usamos cinco modelos diferentes de tijolo, um com 100% de cimento que é convencional e serviria de comparativo, e outros quatro com 5%, 10%, 15% e 20% de cinzas em cada”.

Conforme o estudante, a porcentagem de cinzas estabelecida foi 15% e 85% de cimento. Com esse índice, a dupla pode observar que o produto criado estava acima do exigido para um padrão de resistência. “Ele já estava com 4,5 mpa [média Paschoal] e a norma exige que tijolos de vedação, que é o que propomos, tenha, em média, 2 mpa”, frisa.

Vantagens e diferencial

Apesar de ainda ser um tipo de material pouco conhecido e pouco aceito por “existir um certo preconceito com novas tecnologias”, Magno ressalta que esse tipo de produto ganha em praticidade e em custo-benefício. “O tijolo tem dois furos que servem para criar um encaixe tipo um lego. Isso deixa a parede mais firme e com um acabamento melhor”. Ademais, conforme ele, os furos proporcionam a possibilidade de fazer toda a tubulação e fiação de uma casa sem precisar, como no modo convencional, furar a parede. “Com o tijolo convencional é preciso quebrar a parede para fazer o encanamento e isso gera mais custo e mais entulho no ambiente”, reforça.

Por falar em custos, essa é a principal vantagem do tijolo a base de cinzas de cana. De acordo com o pesquisador, ele é mais barato que o comum. Isso devido à redução na quantidade de cimento como matéria-prima. “O que ajuda também é a etapa de finalização, visto que ele não é como o tijolo comum, em que é necessário queimá-lo. Nosso produto seca no ambiente e isso já dá uma boa diferença no custo final. Essa é a ideia. Uma unidade que hoje custa R$ 0,70 ficar ainda mais barata”, conta. No geral, em termos de aparência, de nada difere do convencional. Em questão de resistência, dependendo do solo, se torna até mais consistente.

Planos

“Queremos criar um plano de negócio para implantar esse tijolo no mercado”, informa Magno. Os estudantes pretendem criar uma pequena fábrica do produto na cidade. Segundo ele, o objetivo é tirar o preconceito das pessoas com essa tecnologia. “Além disso, queremos mostrar um produto diferente e com menos custo que o comum que causa prejuízo ao meio ambiente”, explana.

Na pesquisa também existem ideia futuras, conforme o estudante. Aderindo uma sugestão do orientador, a dupla pretende aprofundar os estudos com cinzas de cana-de-açúcar. “Vamos analisar a influência da cinza no aumento ainda maior que o previsto na resistência do tijolo”.

SAIBA MAIS

Com uma vertente de orientação voltada exclusivamente a pesquisas ambientais e sustentáveis, Murilo conta que esse TCC é “pioneiro” no assunto em âmbito regional. “São ótimos resultados e mostram que existe capacidade de resolver os problemas existentes na região, como o do descarte incorreto”, frisa. Conforme o docente, a pesquisa serviu como porta de entrada para novas ideias, ao passo que já existem planos de orientação em outros projetos com outros tipos de materiais.

 

Marcio Oliveira

700

Atualmente os jovens utilizam o laboratório da faculdade e uma máquina manual para a produção

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