Estilo de vida e fé levam idosos aos 100 anos

Thereza e Augusto moram em Álvares Machado, ela com um século de vida e ele com 103 anos; ambos compartilham a vontade de viver

REGIÃO - GABRIEL BUOSI

Data 09/08/2018
Horário 08:59
Marcio Oliveira - Thereza, aos 100 anos, se considera uma mulher feliz e, inclusive, antenada nas redes sociais
Marcio Oliveira - Thereza, aos 100 anos, se considera uma mulher feliz e, inclusive, antenada nas redes sociais

As limitações causadas pela idade, pelo menos no caso de dois idosos de Álvares Machado, não são nada perto da vontade de viver, da alegria, vitalidade e pureza no coração. De um lado está Thereza Parros Moretti, uma simpática, vaidosa e amada senhora de 100 anos, completos no último dia 1º de janeiro. Imigrante da Itália, ela vive no município há 25 anos e se sente privilegiada em entrar na casa do centenário. Do outro lado está o amante de poesias, centrado e religioso Augusto Henklain, de 103 anos. Em comum, eles possuem a vontade de viver e uma história inspiradora. Para muitos, eles são raridade e sequer foram vistos, mas a região prudentina, conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgados no início do mês, conta com 354 pessoas que possuem 100 ou mais anos, e que estão aptas a participar das Eleições Gerais de 2018, sendo 60 apenas em Álvares Machado.

Thereza conta que nasceu na Itália e veio junto com os pais, imigrantes, ao Brasil. Na ocasião, o destino escolhido foi Ribeirão Preto, no interior paulista, quando ela tinha aproximadamente três anos, fato que faz com que as memórias desta época sejam raras. Pouco tempo depois, a família se mudou para o bairro rural Noite Negra, próximo de Anhumas, e, já com 11 anos, Thereza se mudou para Santo Anastácio e depois de um período para Presidente Prudente. Em Álvares Machado, ela está há 25 anos, local que escolheu para viver ao lado de duas filhas, que lá residem, após ficar viúva.

Questionada sobre o segredo da longevidade, Thereza foge às regras imagináveis e não hesita em dizer que o motivo é a alimentação, que no seu caso é composta por alimentos cozidos com banha, pele de galinha e gordura de porco, pratos que “são com ela mesma”. “Além disso, costumo beber uma taça de vinho todos os dias no horário do almoço. Já sobre as condições físicas, penso que é porque trabalhei muito na roça, colhi algodão, café, plantei milho, feijão e isso pode ter ajudado a me manter sempre na ativa”, esclarece. Com quatro filhos, 13 netos, 18 bisnetos e um tataraneto a caminho, ela afirma que sempre gostou de viajar, como ao nordeste, e se considera uma pessoa feliz por tudo o que viveu. “Realizei muitos sonhos e amo a minha família. Sou antenada, inclusive, em celulares, e me sinto privilegiada em ter alcançado os 100 anos. Quero muitos outros, conforme me for permitido”, diz.

Já o senhor de 103 anos, Augusto, nascido em Guariba (SP), mudou-se para Álvares Machado quando tinha oito anos, por escolha do pai, que gostava das “matas” presentes na região, e que iniciou a vida no oeste paulista vendendo terrenos. “Meu pai queria uma cidade ainda mais no interior e menor do que estávamos”. Questionado sobre os 103 anos, ele não hesita em dizer que atribui, sem dúvidas, à sua fé e por ter Deus no coração, mas lembra que ainda tem muito a viver. “Deus me permite ficar aqui, pois tenho muito a falar sobre Ele. Me sinto muito jovem e sei que tenho muito a viver”. Ele exerceu as funções de comerciante, caminhoneiro, alfaiate, gosta muito de cavalos e não dispensa uma montaria. Neste ano, inclusive, participou da cavalgada em Santo Expedito. “Tenha Deus no coração e não tenha inimigos. Seja feliz e conviva sem mágoas, esse é o segredo”. Augusto se orgulha do livro que escreveu com poemas e poesias.

Cuidados devidos

De acordo com a geriatra Giovana Beatriz Artoni, um conjunto de fatores pode ser a causa da longevidade, cuidados que, inclusive, devem ser iniciados ainda jovens. “É preciso ser feliz, ter amigos, se preocupar com a alimentação, atividade física e não deixar de realizar as suas atividades. Há uma mudança perceptível no perfil dos idosos de antigamente para hoje em dia e isso pode ser um reflexo da elevada idade”, esclarece. Ela lembra que hoje este público é ativo em redes sociais, academias e que, de fato, devem continuar.

Sobre os cuidados, Giovana lembra ser fundamental evitar o excesso de carne vermelha e o foco em uma dieta sem excessos e rica em peixes, verduras e legumes. “Vale lembrar que os familiares devem estar atentos às quedas e infecções, que podem trazer complicações ao idoso. Que os filhos não privem seus pais idosos e permitam que eles realizem as atividades, pois a superproteção é ruim e limita”.

Número curioso

O secretário da Aceam (Associação Cultural, Esportiva e Agrícola Nipo-Brasileira de Álvares Machado), Alberto Yokio Nakada, vê com surpresa o número de 60 idosos com mais de 100 anos no município, e afirma que, possivelmente, muitos deles podem pertencer à colônia japonesa, mesmo não estando na associação. “Este é um público que tem uma alimentação e uma cultura muito saudável, e conhecida já pela longevidade. Outro fator importante é a prática de esportes, muito fomentada na comunidade nipônica”. Vale lembrar que, conforme noticiado por este diário, em Machado há o tradicional Shokonsai, que apresentou neste ano a sua 98ª edição, e comemorou, inclusive, os 100 anos do grupo no município, já que o primeiro sepultamento no cemitério japonês do local teria ocorrido em 1918, mesmo ano da chegada deles na região.

SAIBA MAIS

Conforme dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), das 53 cidades da região de Presidente Prudente, 32 possuem idosos com pelo menos 100 anos e que, juntos, somam 354 pessoas. Presidente Prudente, até por causa do tamanho, lidera com 112 idosos, seguida de Álvares Machado, com 60 pessoas.

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