Estiagem atrasa plantio de grãos na região

Ano mais seco desde 1991 atrapalha a produção de culturas como soja e amendoim, e impacta a safrinha de 2020

REGIÃO - MARCO VINICIUS ROPELLI

Data 30/10/2019
Horário 04:01
Paulo Miguel - Alexandre Casaca, agrônomo, afirma que os impactos na produtividade da safrinha são inevitáveis
Paulo Miguel - Alexandre Casaca, agrônomo, afirma que os impactos na produtividade da safrinha são inevitáveis

Rancharia, Iepê e Nantes figuram no oeste paulista como algumas das mais importantes cidades produtoras de soja e amendoim da região. Rancharia se destaca. A previsão mais recente, divulgada pelo IEA (Instituto de Economia Agrícola), é que o município abrigue na safra de verão 20 mil hectares de soja, ou seja, pouco mais de 25% da produção estimada nas regionais de Presidente Prudente, Dracena e Presidente Venceslau juntas (aproximadamente 76 mil hectares [ha]). O mesmo destaque se repete no amendoim, no qual Rancharia atinge a previsão de representar quase 40% da safra, 8,5 mil hectares frente aos 21 mil ha de toda a região. Entretanto, neste ano, os agricultores têm enfrentado um problema relevante, a estiagem, que já promete prejuízos. Há a possibilidade, inclusive, de alteração das próximas estimativas, com redução da produção.

O engenheiro agrônomo e assistente agropecuário, Alexandre Aparecido Casaca, 43 anos, destaca que o maior impacto da estiagem é sobre a safrinha, tendo em vista que o atraso da primeira safra, de verão, empurra o plantio, em especial do milho safrinha, para o período no qual as chuvas cessam devido à chegada do inverno, entre março e abril, o que aumenta o risco de perda da produtividade.

O produtor de soja em Rancharia, Alfredo Braum, 59 anos, enfatiza que no mesmo período do ano passado, 70% da lavoura do grão já estavam plantadas, enquanto, neste ano, as terras continuam sem uma semente sequer.

“Se continuar assim, na safrinha, muitos vão ter que arriscar o plantio no pó e torcer para chover”, salienta Alfredo, e explica que plantar a pó é plantar na terra seca, com esperanças de que venha a tão esperada chuva. Ele ressalta, também, que o impacto econômico é certo, já que a safrinha, especialmente, estará sujeita à menor produtividade, devido ao clima seco e até as geadas do inverno. “Atrapalha de forma geral, prejudica a produtividade e reduz a oferta. Os preços sobem, é algo que impacta produtores e consumidores”, completa o engenheiro agrônomo.

METEOROLOGISTA

EXPLICA O CLIMA

O meteorologista Vagner Camarini Alves explica que a estiagem enfrentada pela região está relacionada à presença de uma grande massa de ar seco, que tem dificultado a chegada de frentes frias, o que traria chuvas à região, e, principalmente, pela influência do fenômeno "La Niña", que está atuando em todo sul do continente.

Reflexo disso são os números registrados em todo ano. O acumulado de chuvas em 2019 está em 689 milímetros, ou seja, chove 30% abaixo da média histórica: 988 milímetros. “Desde 1991 não temos um período tão seco como este”, enfatiza Camarini. Mesmo com algumas pancadas de chuva registradas no fim de semana, a situação continua crítica e o plantio, arriscado, tendo em vista o pequeno volume de precipitações, explicita o agrônomo Alexandre Casaca.

Nada fácil para os agricultores. Uma saída comum para a redução do prejuízo, explica o especialista, é a reforma das áreas de pastagem após a primeira colheita, entre janeiro e fevereiro, para a criação de gado. “Mas a estiagem é tão grande, que corre o risco de faltar umidade para o capim”, pontua.

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