Então é Natal

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 24/12/2018
Horário 05:02

Shoppings lotados, lojas abarrotadas, propaganda na televisão, no celular, na internet, no outdoor. O noticiário questiona: “como serão as vendas do comércio esse ano em relação ao ano passado”? O Natal pode ser diferente, tanto para as famílias quanto para o Planeta Terra. Se questionarmos o verdadeiro espírito do Natal podemos nos libertar do risco do consumo exagerado que viola o equilíbrio também em plano individual como do planeta que está saturado do contínuo descarte advindo do consumismo exacerbado.  

Prezemos por um Natal mais consciente e mais verde, abandonando de vez a ditadura do consumismo que nos escraviza para a da lógica do mercado e do lucro que tem como mensagem subliminar: consumir é felicidade. Dessa forma, o que deveria ser uma celebração cristã, representando o nascimento de Jesus Cristo, foi camuflado e encoberto pela figura sedutora velhinho de barbas brancas e roupa vermelha que propõe a adultos e crianças a felicidade em forma de pacotes. 

É então impossível não se perguntar, parar e refletir: até que ponto vale a pena tudo isso? Para muitos, o Natal passou mesmo a significar momentos de insatisfação e aborrecimento. Mas até onde a mídia é responsável por transformar a essência pela aparência e pelo artificialismo tornando momentos que poderiam ser tão íntimos e significativos em celebração puramente mercadológico

O Natal vinculado ao consumo nega ponto a ponto os valores originários do cristianismo: o altruísmo, e não a cobiça; a sobriedade, e não a ostentação; a felicidade imaterial gerada pelo amor como renúncia e não como prazer material; a comunidade fraterna, e não o individualismo e a concorrência selvagem.  Para o psicanalista Dunker, a solução para tanto consumo não está em demonizar os objetos em si como se eles fossem a fonte da corrupção moral, dessa forma, estaríamos colocando-os no lugar de “outros deuses”. “Não é a posse de nenhum objeto que vai nos tornar virtuosos ou maus, mas apenas a autonomia, a liberdade e a separação que conseguirmos criar diante deles”.

Nada mais significativo neste m momento que o “religare”, vocábulo do latim que significa ligar novamente no sentido de retornar às origens da justiça e atos de dignidade que em última instância é retornar a si mesmo, ao cosmo, ao bem, em suma: a Deus. Dimensão que, à primeira vista, parece vaga, indeterminada; mas é de uma gigantesca realidade por ser de uma realidade anterior a nós mesmos. Uma dimensão que é mais real do que todas as nossas objetividades e subjetividades. Desejo assim a mim mesma, e a você leitor, a mensagem das palavras de Carlos Drummond de Andrade “O Natal poderá renascer da poesia. Haverá dois jardins para cada habitante: um exterior e outro interior, comunicando-se por um atalho invisível de grandeza”.

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