Uma nova proposta está circulando no cenário educacional do Brasil. Ela consiste na possibilidade de estudantes do ensino médio regular terem até 20% das aulas à distância e, na modalidade noturna, até 30% das aulas. Aprovada pelo CNE (Conselho Nacional da Educação), a proposta faz parte das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Atualmente, o texto ainda passa por uma revisão e, após este processo, será encaminhado para o MEC (Ministério da Educação) - responsável pela homologação do documento. Em Presidente Prudente, especialistas da área apresentam prós e contras sobre a medida.
De acordo com a “Agência Brasil”, a proposta é fundamentada na intenção de que em cinco horas de aula no ensino médio, os alunos da modalidade regular poderão ter uma hora por dia à distância. No ensino noturno, com quatro horas por dia, 1h12 de aula poderá ser feita à distância. Isso tudo faz parte da proposta do novo ensino médio, aprovado no ano passado, a qual propõe que os estudantes passem por uma formação comum, definida pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), e por uma formação específica, podendo ser linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico.
Pensando nisso, a medida propõe que as aulas à distância sejam trabalhadas de preferência na formação específica, mas, quando necessário, poderão também ser aplicadas na formação comum. Para isso, de acordo com a “Agência Brasil”, será necessário um suporte tecnológico e pedagógico, assim como acompanhamento e coordenação de um professor na unidade escolar.
Só depois da aprovação do MEC, o projeto entrará em vigor no país. Por meio de nota, o órgão informou que “após a aprovação do parecer do CNE, o ministro da Educação irá analisar e homologar ou não o documento”, mas comunicou que ainda não há como antecipar uma decisão. Além disso, o novo ensino médio também está em fase de implementação, e qualquer mudança realizada no currículo de todo país deverá ser feita em até dois anos após a aprovação da BNCC, que ainda está em discussão.
Opiniões
A professora do curso de Pedagogia da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), Onaide Schwartz Mendonça, acredita que, para que a proposta seja eficaz no ensino, a consciência do aluno sobre o estudo é fundamental. “Ter um bom aproveitamento do ensino fundamental é uma das condições para a efetivação da medida. Mas, considerando que educação básica está péssima, seria um tiro no escuro”, considera.
A educadora afirma que a proposta para o ensino regular pode gerar uma “precarização” do ensino, pois fará com que o governo economize na contratação de docentes. “O ideal seria que o ensino médio regular tivesse ótimos professores e um material de ponta, e isso geralmente não acontece”. Já no ensino noturno, Onaide fala que a maioria dos estudantes já trabalha, pois isso, o sistema iria facilitar. “Com isso, teriam esse espaço para diminuir tempo de se locomover até a escola”, comenta.
Para o sociólogo e professor de Filosofia da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Wagner Aparecido Caetano, a rede de internet traz inúmeras contribuições nos dias atuais e tem se tornado referencial para a busca de conhecimento. Porém, ele avalia que o processo educativo mais complexo deve levar em conta variáveis como estrutura e autonomia. “A educação à distância para o ensino médio pode ser eficaz, mas necessita de um trabalho longo e árduo, de um investimento na educação base para que, no futuro, quando chegarem ao ensino médio, os alunos estejam aptos a construir e produzir conhecimentos à distância”, explica.
Outro ponto que o sociólogo destaca é sobre a possibilidade do acesso à internet por toda a população brasileira. “Seria ingenuidade pensar que o acesso à internet e a computadores se dá de maneira hegemônica neste enorme país. Penso que existem outras prioridades, como preparar a estrutura física e pedagógica das escolas, investir e formar melhor os professores”, acrescenta.
Wagner afirma que, embora as estratégias de EAD sejam pensadas com tutoriais e polos, para estimular e motivar os alunos, a desistência e o abandono ainda são um problema para as instituições que adotam esse ensino. “Tornar o ambiente escolar interessante não é adaptá-lo a modismos ou forçosamente inserir tecnologias. A meu ver é formar cidadãos pensantes, autônomos, reflexivos, argumentativos, dialógicos, já na primeira infância. Temos problemas na base e temos que pensar em algo diferente, pois sem melhorar essa base, o esforço é irrelevante”, pontua.