Ensino médio pode ter até 30% de aulas à distância

Em Prudente, especialistas da área apresentam prós e contras sobre a medida; proposta ainda passará por aprovação do MEC

PRUDENTE - IZABELLY FERNANDES

Data 16/11/2018
Horário 09:54
Marcio Oliveira - Onaide fala que proposta pode gerar “precarização” do ensino
Marcio Oliveira - Onaide fala que proposta pode gerar “precarização” do ensino

Uma nova proposta está circulando no cenário educacional do Brasil. Ela consiste na possibilidade de estudantes do ensino médio regular terem até 20% das aulas à distância e, na modalidade noturna, até 30% das aulas. Aprovada pelo CNE (Conselho Nacional da Educação), a proposta faz parte das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Atualmente, o texto ainda passa por uma revisão e, após este processo, será encaminhado para o MEC (Ministério da Educação) - responsável pela homologação do documento. Em Presidente Prudente, especialistas da área apresentam prós e contras sobre a medida.

De acordo com a “Agência Brasil”, a proposta é fundamentada na intenção de que em cinco horas de aula no ensino médio, os alunos da modalidade regular poderão ter uma hora por dia à distância. No ensino noturno, com quatro horas por dia, 1h12 de aula poderá ser feita à distância. Isso tudo faz parte da proposta do novo ensino médio, aprovado no ano passado, a qual propõe que os estudantes passem por uma formação comum, definida pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), e por uma formação específica, podendo ser linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico.

Pensando nisso, a medida propõe que as aulas à distância sejam trabalhadas de preferência na formação específica, mas, quando necessário, poderão também ser aplicadas na formação comum. Para isso, de acordo com a “Agência Brasil”, será necessário um suporte tecnológico e pedagógico, assim como acompanhamento e coordenação de um professor na unidade escolar.

Só depois da aprovação do MEC, o projeto entrará em vigor no país. Por meio de nota, o órgão informou que “após a aprovação do parecer do CNE, o ministro da Educação irá analisar e homologar ou não o documento”, mas comunicou que ainda não há como antecipar uma decisão. Além disso, o novo ensino médio também está em fase de implementação, e qualquer mudança realizada no currículo de todo país deverá ser feita em até dois anos após a aprovação da BNCC, que ainda está em discussão.

Opiniões

A professora do curso de Pedagogia da FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista), Onaide Schwartz Mendonça, acredita que, para que a proposta seja eficaz no ensino, a consciência do aluno sobre o estudo é fundamental. “Ter um bom aproveitamento do ensino fundamental é uma das condições para a efetivação da medida. Mas, considerando que educação básica está péssima, seria um tiro no escuro”, considera.

A educadora afirma que a proposta para o ensino regular pode gerar uma “precarização” do ensino, pois fará com que o governo economize na contratação de docentes. “O ideal seria que o ensino médio regular tivesse ótimos professores e um material de ponta, e isso geralmente não acontece”. Já no ensino noturno, Onaide fala que a maioria dos estudantes já trabalha, pois isso, o sistema iria facilitar. “Com isso, teriam esse espaço para diminuir tempo de se locomover até a escola”, comenta.

Para o sociólogo e professor de Filosofia da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), Wagner Aparecido Caetano, a rede de internet traz inúmeras contribuições nos dias atuais e tem se tornado referencial para a busca de conhecimento. Porém, ele avalia que o processo educativo mais complexo deve levar em conta variáveis como estrutura e autonomia. “A educação à distância para o ensino médio pode ser eficaz, mas necessita de um trabalho longo e árduo, de um investimento na educação base para que, no futuro, quando chegarem ao ensino médio, os alunos estejam aptos a construir e produzir conhecimentos à distância”, explica.

Outro ponto que o sociólogo destaca é sobre a possibilidade do acesso à internet por toda a população brasileira. “Seria ingenuidade pensar que o acesso à internet e a computadores se dá de maneira hegemônica neste enorme país. Penso que existem outras prioridades, como preparar a estrutura física e pedagógica das escolas, investir e formar melhor os professores”, acrescenta.

Wagner afirma que, embora as estratégias de EAD sejam pensadas com tutoriais e polos, para estimular e motivar os alunos, a desistência e o abandono ainda são um problema para as instituições que adotam esse ensino. “Tornar o ambiente escolar interessante não é adaptá-lo a modismos ou forçosamente inserir tecnologias. A meu ver é formar cidadãos pensantes, autônomos, reflexivos, argumentativos, dialógicos, já na primeira infância. Temos problemas na base e temos que pensar em algo diferente, pois sem melhorar essa base, o esforço é irrelevante”, pontua.

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