Endocrinologista explica diferenças entre tipos de diabetes

Conforme especialista, uma das formas da doença é mais rara e acomete crianças e adolescentes; já a outra atinge prioritariamente adultos

PRUDENTE - SANDRA PRATA

Data 05/07/2018
Horário 06:11
Marcio Oliveira - Rodrigo: "Se uma pessoa chega aos 60 anos com diabetes, tem 6 anos a menos de vida"
Marcio Oliveira - Rodrigo: "Se uma pessoa chega aos 60 anos com diabetes, tem 6 anos a menos de vida"

Em Presidente Prudente, de acordo o endocrinologista Rodrigo Bastos, a estimativa é de que cerca de 10% da população – de 207.610 pessoas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – tenha diabetes. Isso resulta em 200 atendimentos mensais em seu consultório. Em âmbito nacional, segundo pesquisa realizada em 2016 pela Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde, o número de brasileiros com diabetes cresceu 61,8% entre 2006 e 2016. O índice equivale a 8,9% da população do país. Mas, afinal, o que é diabetes? Quais suas causas, tipos, sintomas e tratamentos? Como é viver e controlar a rotina com esta doença?

De acordo com Rodrigo, a diabetes é, de maneira simplificada, uma doença na qual se constata o aumento dos níveis de glicose no sangue ultrapassando o normal. “Isso ocorre porque o pâncreas, órgão responsável pela produção de insulina, começa a apresentar problemas e diminui a produção, fazendo com que os níveis de glicose se elevem”, explica. Insulina é o hormônio responsável por “pegar” o açúcar do sangue, ou seja, glicose. É deste processo que surgem as diabetes 1 e 2, mas, qual a diferença entre elas?

“O tipo 1 é o mais raro e o alvo mais comum são crianças e adolescentes, se estendendo até 20 anos. Já o tipo 2 é o mais comum e atinge prioritariamente adultos”, pontua o especialista. Conforme ele, o primeiro tipo ocorre repentinamente, com parada total de produção de insulina no pâncreas. “A falta absoluta de insulina desenvolve um ácido no sangue que, quando acumulado, pode resultar em parada cardíaca e é a principal fonte de óbito nesses casos. Chamamos isso de cetoacidose diabética”, alerta.

No segundo caso, Rodrigo destaca a obesidade como principal fator que auxilia na propensão da doença. Entretanto, ao contrário do outro, a elevação da glicose do sangue vai subindo devagar e gradativamente. “O excesso de gordura, principalmente na barriga, vai prejudicando o funcionamento do pâncreas, fazendo com que trabalhe forçado e, aos poucos, ele vai morrendo e a glicose subindo”, ressalta. A estimativa é de a cada 10 pessoas, nove sejam vítimas do tipo 2 da doença.

Sintomas e tratamentos

Como diagnosticar? Coleta de sangue na veia. O endocrinologista relata que quando o índice de glicose é igual ou ultrapassa 126 miligramas em jejum significa que se trata de um diabético. “Cerca de 50% das pessoas têm diabetes 2 e não sabem, porque não aparece sintoma nenhum até que o índice de glicose atinja 200 miligramas. Nesse caso, a pessoa começa a ir muitas vezes ao banheiro e tomar líquidos em grande quantidade”, informa. Além disso, nestas situações, o paciente começa a ter perda de gordura, pois o corpo começa a se consumir.

“Apesar do mesmo nome, são doenças diferentes. Uma atinge crianças e adolescentes, independentemente do peso. Já a outra é o reflexo do estilo de vida moderno, da má alimentação e excesso de peso”, relata Rodrigo. Por isso, apesar de ambos os casos, sem o devido cuidado, resultarem em óbito, os tratamentos são diferentes. “No tipo 1 é necessário, além da dieta, fazer aplicação de insulina na pele pelo resto da vida. No caso do 2, a dieta atua como essencial para perda de peso, além de medicamentos para melhorar a funcionalidade do pâncreas. Muitas pessoas, quando perdem quilos, conseguem alterar o quadro e até diminuir a quantidade de remédios”, ressalta.

Vivendo com diabetes

Glaúcia Regina de Carvalho tem uma rotina “constantemente controlada” com o filho Leonardo, de 8 anos, que foi diagnosticado como diabético tipo 1 há 10 meses. Ela conta que percebeu a doença com o excesso de ingestão de líquido e as constantes idas ao banheiro de madrugada, fatores que resultaram em noites mal dormidas. “Ele também começou a fazer xixi na cama, coisa que não costumava fazer, e emagreceu muito, não era uma magreza natural”, expõe. Para ela, o principal problema em viver com a doença é o constante controle ao qual o menino tem que se submeter. “Picada no dedo toda hora é pior que dar insulina. Isso faz com que o dedo fique descamando, resseca a pele, esse é o pior da doença, é o controle para se sentir seguro o tempo todo de manhã, tarde, noite e madrugada”, expõe.

Em relação à alimentação e aos gastos com tratamento, Gláucia explica que por já exercerem o costume de ingerir alimentos integrais e saudáveis, as mudanças não foram tão radicais, tendo em vista que o filho não tem queda por doces. Em contraponto, os gastos com tratamentos são difíceis, já que a soma alimentação de qualidade, remédios e equipamentos de controle sai cara no fim do mês. “Insulina o governo fornece, nunca tive problema. Mas em questão de medicamentos, não são oferecidos os melhores, e quando você tem um filho com diabetes sempre quer dar o melhor para que ele não sofra tanto”, explana.

Como prevenir

Se não tratada, Rodrigo informa que a doença pode comprometer grandes e pequenos vasos sanguíneos, ou seja, prejudica a visão – causando até cegueira -, os rins, a sensibilidade e os nervos de pernas e braços. “A pessoa pisa em objetos pontiagudos e não percebe, começa a ter dor nos nervos”, explana. A principal forma de prevenir a diabetes 2 é cuidar do peso, não chegar ao excesso, e realizar exercícios. “A maioria das pessoas acha que está ligado à ingestão de açúcar, mas o que impacta mesmo é o peso”, explica o profissional.

SAIBA MAIS

Segundo o endocrinologista, se uma pessoa chega aos 60 anos com diabetes, tem seis anos a menos de vida, tendo em vista que a expectativa no Brasil é de 80 anos. Além disso, ele afirma que a diabetes tipo 2 potencializa a propensão de doenças cardiovasculares. “As principais mortes são por infarto ou AVC [acidente vascular cerebral]”, frisa. 

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