Educadores defendem participação ativa das crianças

Profissionais apontam que o público infantil pode e deve opinar a respeito de questões que interferem em sua vida cotidiana

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 19/07/2018
Horário 05:16
Marcos Sanches/Secom - Ambientes lúdicos garantem desenvolvimento motor na infância
Marcos Sanches/Secom - Ambientes lúdicos garantem desenvolvimento motor na infância

Ao ingressar no ensino infantil, a criança é, muitas vezes, submetida a uma grade curricular que não corresponde às suas expectativas sobre o que é estar em um ambiente educacional. Embora a concepção comum de escola recaia sobre o aluno sentado em uma carteira e aprendendo os algarismos ou o abecedário, pesquisadores da área da educação defendem que o contato com os números e as letras nem sempre é a real necessidade da primeira infância, mas, sim, algo que foi decidido pelos adultos sem antes considerar os interesses dos pequenos. Justamente com o propósito de reverter este cenário e garantir o protagonismo do público infantil, estudiosos têm deixado para trás a pesquisa sobre crianças para dar espaço a uma metodologia mais inclusiva: a pesquisa com crianças. O tema foi discutido durante o 2º Congresso Nacional da Primeira Infância pelo Direito de Ser Criança, realizado na manhã de ontem, em Presidente Prudente.

De acordo com a coordenadora do evento e do Forpedi (Fórum Regional Permanente de Educação da Infância), Cinthia Magda Fernandes Ariosi, a diferença entre a denominação de uma pesquisa e outra vai além da preposição. Enquanto a “sobre crianças” refere-se à visão do adulto sobre as realidades que envolvem a primeira infância, a “com crianças” está voltada ao que elas realmente pensam sobre tais realidades. Convidado do congresso, o professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Cleriston Izidro dos Anjos, completa que a ideia deste segundo método consiste em abandonar a premissa de que os adultos têm autoridade para decidir sobre a vida das crianças e considerar que as mesmas podem e devem opinar a respeito das questões que interferem em sua rotina, passando de alunas ou filhas para sujeitos de direitos.

À procura da felicidade

Questionados sobre o que os pequenos realmente querem a partir do momento em que são ouvidos, Cleriston e Cinthia são precisos. O docente destaca que, se pudesse resumir em uma frase, seria a seguinte: “eles procuram ser felizes”. Já a coordenadora denota que, em um estudo elaborado junto a crianças do bairro Morada do Sol, em Prudente, ficou constatado que os pedidos são mais humildes do que se poderia imaginar. “A gente pensa que elas querem direitos sociais, mas, na maioria das vezes, só esperam a oportunidade de brincar e terem uma atenção maior dos pais. Ou, então, estão preocupadas com os desafios que a família enfrenta”, expõe. Para Cinthia, a criança tem o coração muito voltado ao coletivo e seu desejo é estar junto ao próximo e, de forma muito inocente, que o professor não brigue com ela.

O professor da Ufal destaca que ler e escrever também são direitos dos pequenos, mas que podem ser promovidos a partir do brincar – atividade humana fundamental em todas as etapas da vida, porém, estruturante na infância e decisiva para as fases posteriores. Cinthia esclarece que a primeira infância é o período marcado pelo desenvolvimento motor, que é a base do desenvolvimento cerebral. Logo, se as crianças não brincam e ficam mais tempo sentadas, esse processo não ocorre. “Sendo assim, os conhecimentos cognitivos não encontram suporte e não se solidificam. Por isso, há tantos problemas de aprendizagem no ensino fundamental, visto que o ensino infantil não cumpre o papel de possibilitar ao aluno a percepção de espaço e de como seu corpo age dentro dele”, explana.

Dever coletivo

Cleriston argumenta que a garantia da participação ativa do público infantil não é responsabilidade apenas da educação, mas de toda a sociedade, que deve pensar em uma cidade direcionada para as crianças. Segundo o alagoano, quando há serviços de saúde que buscam uma perspectiva preventiva já nos primeiros anos de vida, por exemplo, a chance de haver adultos mais saudáveis é muito maior. Já em termos de segurança, se os filhos têm a possibilidade de brincar em ruas e praças sem que sua integridade seja ameaçada, isso significa um município seguro para todo e qualquer cidadão. “Todos os setores de uma sociedade são cruciais para o desenvolvimento de uma população mais plena e feliz”, pontua.

SERVIÇO

O 2º Congresso Nacional da Primeira Infância pelo Direito de Ser Criança segue até sexta-feira em Prudente. Para participar, os interessados devem acessar o site do evento (congressodaprimeirainfancia.com), clicar no link “Inscrição” e abrir o formulário para o preenchimento de dados. Os valores variam de R$ 78 a R$ 90. Para mais informações, a comissão organizadora atende pelo e-mail congressodaprimeirainfancia@gmail.com. As atividades ocorrem de forma paralela no Centro Cultural Matarazzo, FCT/Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista) e Sesc (Serviço Social do Comércio) Thermas, e podem ser acompanhadas no link “Programação”, na página do congresso.

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