Ecologia Humana

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 03/02/2019
Horário 05:33

O papa Francisco esteve no Panamá (23 a 28 de janeiro) durante a JMJ (Jornada Mundial da Juventude). Um magnífico encontro de jovens dos quatro pontos cardeais. Como tem sido, o santo padre encantou a juventude e não deixou de se manifestar sobre os mais variados temas do espectro religioso, social e cultural cujas mudanças estão em andamento. Os jovens, mesmo crendo, não são os mais frequentes aos serviços litúrgicos oferecidos pela igreja. Ainda que tenhamos uma realidade razoavelmente distinta disso, aqui em Presidente Prudente, é fácil encontrar juventude na igreja, mas não tão regular quanto a encontramos nos ‘points’ juvenis (universidade e baladas por exemplo).

Muito se tem debatido e escrito sobre tal fenômeno – que não é o objeto desse artigo. Na coluna Diocese InForma, publicada no caderno 2 deste jornal na edição de hoje, há uma espécie de balanço da JMJ. Na sua volta a Roma, Francisco concedeu uma entrevista aos jornalistas que cobrem o quotidiano do Vaticano, bem como de todas as questões de Igreja, e que estavam no evento. Com eloquência e bom senso de humor, o papa (de 84 anos de idade) se disse “destruído” (de tão cansado!) após intensa e exitosa agenda de atividades naquele país da América central.

Os jornalistas perguntaram sobre a missão dos jovens na JMJ, as expectativas e o resultado do evento, o distanciamento dos jovens da igreja, o aborto, a Venezuela [“tenho medo de um derramamento de sangue; peço que sejam grandes aqueles que podem ajudar a resolver o problema”], os abusos (de poder, de autoridade e sexual) por parte de membros do clero, a exigência do celibato clerical [“é um dom para a Igreja. Não concordo em permitir o celibato opcional, não. Minha decisão é: celibato opcional antes do diaconato não”], a ‘oposição’ da igreja à educação sexual [“Nas escolas, é preciso dar educação sexual, o sexo é um dom de Deus, não é um monstro, é um dom de Deus para amar... Porém, que seja uma educação sexual objetiva, sem colonização ideológica... que destrói a pessoa”].

Ao final da entrevista, o papa quis acrescentar outro ponto. Como na Colômbia (em setembro/2017), viu no Panamá “que levantavam as crianças como que dizendo ‘este é o meu orgulho, a minha riqueza’. No inverno demográfico que estamos vivendo na Europa (na Itália, o índice está abaixo de zero), qual é o orgulho? O turismo, a casa, o cachorrinho? Ou levantar uma criança? Pensemos nisto”. Esse tópico me remeteu ao tema da ecologia humana. Cuidar da criação. Cuidar do ser humano. O descuido do humano é visto no descuido pela criação. Com palavras muito fortes, numa catequese, ilustrou a “cultura do descartável”:

“Se em uma noite de inverno, aqui próximo na rua Ottaviano [Roma], por exemplo, morre uma pessoa, isto não é notícia. Se em tantas partes do mundo há crianças que não têm o que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! No entanto essas coisas entram na normalidade: que algumas pessoas sem teto morram de frio pelas ruas não é notícia. Ao contrário, a queda de dez pontos na bolsa de valores de uma cidade constitui uma tragédia. Um que morre não é uma notícia, mas se caem dez pontos na bolsa é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem resíduos” [5/6/2013].

Se não conseguimos cuidar das pessoas, que dirá do meio ambiente onde estas vivem. Seguimos nós “neste vale de lágrimas”, ansiando pelo encontro entre as pessoas, no respeito pelo diferente, no socorro ao mais frágil. Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

 

 

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