Dois Brasis

OPINIÃO - Arlette Piai

Data 25/09/2018
Horário 05:00

As vésperas das eleições, o Brasil treme. Estamos cada vez menos unidos, a esquerda consolidada no nordeste, com 27% do eleitorado, e o outro extremo, da direita, no sul, com 15% dos votos para presidente da República e governadores. Jair Bolsonaro (PSL) disparou de vez e chega em quase todas as regiões. Assim, a chamada direita está consolidada no Sul e Centro-oeste e esquerda orquestrando o Nordeste. Seria essa polarização saudável? A história da humanidade, que é uma grande mestra, nos deixa claro que grandes crises geralmente criam grandes monstros. Como exemplo foi a depressão e a hiperinflação na Alemanha que produziu o nazismo na Alemanha, com Hitler, o fascismo na Itália, com Mussolini. 

A União Soviética Stalinista, a China comunista, a Alemanha nazista. Todas elas se utilizaram da técnica do paternalismo do Estado para conduzir à infantilização das massas. E não me refiro só ao passado; temos frente aos nossos olhos imagens atuais de infantilização na Coreia do Norte, cujo povo ama seu ídolo e a ele se submete, obedece, reverencia, endeusa. Eles não conseguem ter consciência da fome, da miséria a que estão submetidos, como galinhas em granjas, reses em estábulos aguardando o momento final. 

Ao contrário da formação de massas como instrumento político-populista para infantilizar seu povo, é necessário cultivar a coletividade composta por cidadãos autônomos e críticos, que não abrem mão dos seus direitos e responsabilidades e que exijam o mesmo dos seus representantes. Ademais, os riscos de massificação são sutis e subliminares, os meios de comunicação comprados por marqueteiros inescrupulosos enganam multidões e possibilitam a instalação de fenômenos regressivos. Vendo televisão, o telespectador, muitas vezes, não tem plena consciência de fazer parte, naquele exato momento, de uma grande massa e reage sem crítica aos ditames que lhe são impostos e que não se encontram em âmbito consciente. Nesse contexto, passam a desejar o controle autoritário e a obediência. Seria como que uma regressão à infância com aceitação similar a dos pais que agiam e decidiam pelos seus filhos. A política paternalista é expert na estratégia de massificar e infantilizar. Os conduzidos são presos sem liberdade, sem autonomia e sem responsabilidade.

Assim, há a privação dos parâmetros da forma como cada cidadão vê a si próprio e a realidade externa. Há risco de abdicar-se de si mesmo projetando-se no líder populista e carismático. Nesse caso pode ocorrer a isenção da responsabilidade pessoal, delegando-a, assim como também as próprias decisões ao líder que representa a figura paterna a quem segue sem reflexão. No estado regressivo, muitos são conduzidos à falsa sensação de autonomia e liberdade; condição essa que dá livre curso à irracionalidade destrutiva. Finalizo este artigo, tão próximo às eleições, pedindo a Deus que ilumine a todos e nos livre dos riscos de um Brasil virar, um dia, dois Brasis.

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