Dessocialização dos presos favorece retorno ao crime

EDITORIAL -

Data 16/04/2018
Horário 08:21

“Não foi o sistema prisional que fez algo por mim”. A frase que abriu a seção Personalidades da edição de ontem deste periódico foi proferida pelo professor de Arte Itamar Xavier de Camargo, 38 anos, que diz ser egresso de um sistema carcerário mais punitivo do que reabilitador. Embora tenha vencido a desigualdade social e hoje concentre esforços em transmitir valores e aprendizados para alunos da rede municipal de ensino de Presidente Prudente, a fim de evitar que essas crianças e jovens façam escolhas semelhantes às suas durante a infância e juventude, o educador não atribui sua transformação ao período em que cumpriu pena. Pelo contrário, se não tivesse encontrado outras referências éticas além de sua experiência na prisão, a libertação de Itamar do mundo do crime poderia ter sido incerta.

Itamar é, portanto, uma exceção em meio a um contingente de homens e mulheres que são mantidos reféns do sistema prisional. Mesmo após cumprirem suas penas, estas pessoas, muitas vezes, retornam para o lugar onde ficaram estagnadas por uma porção de anos, uma vez que, ao deixarem as penitenciárias, não encontram oportunidades de trabalho e nem foram preparadas o suficiente para a reintegração em sociedade. Ao pararmos para analisar o que justifica a reincidência de uma pena, percebemos que há falhas em todos os setores da sociedade, que vão desde as políticas governamentais voltadas para a população exposta à criminalidade até o atendimento prestado dentro do cárcere. Não há aqui um incentivo para que o sistema “passe a mão” na cabeça do preso, mas ofereça a ele caminhos a fim de que encontre, dentro da prisão, outras perspectivas além da punição.

E estes caminhos envolvem, principalmente, o fomento à educação, capacitação profissional e ressocialização dos sentenciados. Ao serem submetidos a uma estrutura predial que opera acima de sua capacidade, em condições insalubres e sem a preservação de sua integridade física e psíquica, estes indivíduos ficam ainda mais expostos ao sentimento de ódio e abandono estatal, que os levam a se revoltar contra o sistema e promover organizações criminais. Sem a ressocialização adequada, retornam para a civilização ainda piores do que antes. Consequentemente, o crime e a violência voltam a ser resposta, o que prejudica a sociedade de forma geral. Enquanto não houver trabalhos efetivos que possibilitem a construção de novas perspectivas e possibilidades de recomeço e uma vida digna para a população carcerária, principalmente àquela oriunda da extrema pobreza, estaremos, todos nós, presos no círculo vicioso do crime, que não condena apenas o culpado, mas sobretudo o inocente.

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