Decorar é insuficiente

OPINIÃO - José Renato Nalini

Data 16/04/2018
Horário 08:17

Difícil convencer cultura consolidada no sentido de que educar não é fazer com que o educando memorize informações e saiba localizá-las quando necessário. O conhecimento está disponível e acessível a quem tiver curiosidade. Por isso, educar é ensinar a ter curiosidade, a saber procurar, a se servir adequadamente do imenso acervo de dados que dobra a cada dezoito meses.

Essa verdade é conhecida do brasileiro há muito tempo. No final do século 19, Rui Barbosa já assinalava: “não foi lendo, que a humanidade começou a orientar-se no meio do universo; nem é decifrando caracteres, sílabas, nomes e frases que o menino se há de pôr nessa comunicação direta com a natureza, de que depende todo o conhecimento, toda instrução real. Observando imediatamente as coisas, exercendo-se em ver, em discernir as formas, em avaliar a relatividade das distâncias e das extensões, em apanhar os sons, em lhes discriminar a intensidade, o timbre, a direção, a procedência, em apreciar pelo tato as superfícies, em diferençar as sensações do paladar e do olfato é que se acenderá, se apurará, se ativará na infância o instinto da observação, origem de toda a atividade intelectual e alimento de todo o amor do estudo no homem”.

Um ensino impositivo, que obrigue a criança a decorar, não é o mais adequado a produzir adultos equilibrados, sensatos e, sobretudo, felizes com o privilégio de fruir a dádiva da existência. “A aplicação da memória aos compêndios e a introdução mecânica, no entendimento infantil, de palavras correspondentes a realidades estranhas à observação dos alunos, asfixiam, na primeira infância, ou debilitam para sempre, as faculdades criadoras da inteligência humana”, continua Rui.

Se o aprendizado não for direcionado a despertar engenho e arte, curiosidade e entusiasmo no aluno, “o efeito inevitável do sistema puramente mnemônico é o mais extravagante, o mais tumultuário, o mais desastrado atropelo de fórmulas e palavras no cérebro da criança”. É o que sentencia Rui, em 1892. O que mudou desde então?

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