CRIS PASQUINI: REFERÊNCIA NACIONAL

Homéro Ferreira

Arquiteta prudentina que acredita na produção coletiva, na aprendizagem continuada e na racionalização de material, se alegra com de três prêmios do Instituto de Arquitetos do Brasil

COLUNA - Homéro Ferreira

Data 08/12/2019
Horário 05:18
Jean Ramalho - Premiações de Cris Pasquini representam Prudente no mapa nacional de obras de referência
Jean Ramalho - Premiações de Cris Pasquini representam Prudente no mapa nacional de obras de referência

A menina que, junto com seus irmãos, podia desenhar na casa toda; que tinha como brincadeira preferida criar objetos em dobraduras de papel; e que o brincar ia além das quatro paredes ou mesmo do espaço intramuros de sua casa; hoje mantém no seu emocional de mulher vencedora essas doces e ricas lembranças presentes em sua profissão. Ao que se soma curtir as ruas nas quais morou: 15 de Novembro e José Tarifa Conde, em bairros da zona norte de Presidente Prudente. Também explorava o entorno e todo espaço aberto era um convite para brincar, inclusive as casas em construções.

Já havia relações com a composição bidimensional (linhas, pontos e formas) dos desenhos; com a engenhosidade da tridimensionalidade (altura, profundidade e largura) das dobraduras; e com a vivência da cidade em suas ruas. Já construía o caminho de sua vocação profissional: a arquitetura. A opção de Cristiana Pasquini se tornou vitoriosa, incluindo projetos premiados com status de referência nacional. O que acaba de acontecer pela terceira vez, agora na Premiação IABSP 2019, promovida pelo Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento de São Paulo.

A prudentina mais conhecida como Cris Pasquini recebeu os outros prêmios em 2012 e 2018, respectivamente por projeto cenográfico de peça teatral do produtor cultural Denilson Biguete e por projeto de escola publicado na Revista aU - Arquitetura e Urbanismo, com fotos de Pedro Kok. O projeto do cenário foi exposto no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.  O projeto da Escola Aberta do Galpão foi publicado em revistas da Argentina, Coreia do Sul, China e Holanda. Mantido pela arquiteta, o Galpão é uma escola aberta de compartilhamento e construção do espírito crítico sobre arquitetura, urbanismo, geografia, cinema e outras artes.

NOVO PRÊMIO

O projeto recém-premiado é de estúdio em clínica de fisioterapia no Jardim Paulista, bairro da zona norte, que já foi o metro quadrado mais caro de Prudente e é identificado pelas mansões construídas entre os anos 1970 e 1990, antes do surgimento dos condomínios fechados. Projeto premiado em duas categorias: (1) edificação comercial e industrial e (2) estrutura mista. Na ficha técnica consta autoria de Cristiana Pasquini, colaboração de Lana Mika Ota, estagiários Leandro Mendes e Jayme Lopes Moura, estrutura Alfredo Penha, projeto elétrico Antônio Alves, consulta sobre elementos vasados Evandro Fiorin e fotografia Pedro Kok. 

A premiação contempla os avanços e desafios na produção da arquitetura e urbanismo contemporâneos nacionais. Oferece reconhecimento às propostas engenhosas e significativas para o desenvolvimento da técnica, do conhecimento e do ambiente construído em diálogo com a natureza, a sociedade, a economia e a cultura. Elementos explorados pela personagem desta reportagem desde os tempos de criança, nas questões técnicas, do aprender brincando; das ambientais, de vivências nas ruas e construções; e das culturais, iniciadas com os desenhos na parede de casa e com a produção de objetos em dobraduras de papel.

A excelente formação resultou em múltiplas possibilidades de ir bem mais longe. É o que tem ocorrido em mais de 20 anos de carreira. A filha do meio do servidor público federal aposentado pelo IBC (Instituto Brasileiro do Café), Lázaro José Pasquini, e da professora e artista plástica Zenilda Pasquini, fez o ensino fundamental na Escola Estadual Professor Hugo Miele e o ensino médio no Colégio Anglo. Formando em engenharia civil, seu irmão Márcio mora em Prudente. A irmã mais nova, Andreia, é médica veterinária em São Paulo. Cris Paquini fez o ensino superior na UEL (Universidade Estadual de Londrina).

Viveu em Londrina no começo dos anos 1990, quando foi elaborado o 1º Plano Diretor da cidade que se consolidou como polo regional de bens e serviços, sendo atualmente a segunda maior do Paraná, com 569 mil habitantes. A vida conspirou favoravelmente para que a jovem prudentina vivesse um grande momento do desenvolvimento londrinense. Atuou como estagiária no IPPUL (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), órgão voltado para organizar o crescimento do município de forma integrada, através do dialogo de todos os segmentos, públicos e privados.

MERCADO E DOCÊNCIA

Formada em 1996, ficou três anos e meio em Prudente e voltou à UEL para fazer especialização em projeto de arquitetura. Antes, havia estagiado no escritório da arquiteta Agueda de Pádua, no final de sua graduação. Na pausa dos estudos, trabalhou no escritório do engenheiro Jorge Guazzi, lembrado por Cris Pasquini como discípulo do arquiteto alemão radicado no Brasil Hans Broos (1921-2011) e como o seu professor prático de representação gráfica e desenho, de processos licitatórios e orçamentos. Guazzi fez várias obras públicas, entre as quais escolas e agências dos Correios em Manaus (AM) e Bauru (SP).

Foi com o título de especialista que começou a dar aulas de desenho na Faclepp (Faculdade de Artes, Ciência e Letras de Presidente Prudente), antes lecionadas por sua mãe. Foi o início de rica jornada na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), onde contribuiu com as instalações dos cursos de Design e de Arquitetura e Urbanismo, no qual lecionou de 2004 até o final do primeiro semestre de 2019. Entre 2008 e 2011 obteve o título de mestre em projeto de arquitetura na FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo), período iniciado como gestante e conduzido como mãe de Maitê. A sua relação com escola e academia vem de referência do arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985).

Para o profissional nascido em Curitiba (PR), que fez para do movimento arquitetônico Escola Paulista e que, entre outras obras, projetou o Estádio do Morumbi, o arquiteto precisa transitar em duas áreas: o mercado e a docência. Na Escola Aberta do Galpão, na Vila Santa Helena, Cris Paquini tem reunido profissionais e estudantes em encontros com renomados arquitetos, tais como: Ciro Pirondi, Marcos Acayba, Marta Moreira, Anália Amorim, Roberto Pompeia, Luís Felipe Abud, Francisco Fanucci, Márcio Catelan, Arlete Francisco, João Sodré e Álvaro Puntoni que teve obra sua no salão principal da Bienal de Veneza, na Itália.

Cris Pasquini é defensora da produção coletiva, tem satisfação com a premiação de projetos de sua autoria como obras de referência nacional, mantém em seus projetos compromisso com a racionalização de material, entende que prefeituras em cidade do porte de Prudente deveriam ter uma equipe de pelo dez arquitetos e promover concursos de projetos públicos, e acredita que a cidade tem muita possibilidade em promover qualidade de urbanidade em toda sua perspectiva espacial.

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