Cresce percentual de homens que realizam tarefas de casa

Pesquisa, divulgada recentemente pelo IBGE, mostra que em 2017, 80,9% dos entrevistados, de 25 a 49 anos, colaboraram com atividades domésticas; estatísticas não cresciam desde 2016

PRUDENTE - SANDRA PRATA

Data 05/05/2018
Horário 12:29
Marcio Oliveira - Ricardo e Nanci compartilham atividades domésticas desde o início do casamento, há 20 anos
Marcio Oliveira - Ricardo e Nanci compartilham atividades domésticas desde o início do casamento, há 20 anos

Casado com Nanci há 20 anos e pais de duas filhas, na casa de Ricardo Lala a distribuição de tarefas foi um processo natural desde o início da união. “Não me lembro de termos combinado isso, sempre fui criado assim, minha mãe me ensinava os afazeres de casa, talvez seja um reflexo da minha criação”, relata. Conforme conta, cada um realiza os serviços de acordo com a disponibilidade de tempo e as filhas, de 16 e 18 anos, também ajudam como podem.

Ele é o retrato de uma realidade demonstrada por uma pesquisa divulgada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a qual revela que a participação dos homens nas tarefas domésticas aumentou no país no ano passado. De acordo com o estudo, 63,5% dos participantes, com idade entre 14 e 24 anos, realizam serviços domésticos. Na faixa etária de 25 a 49 anos, este percentual sobe para 80,9%. Já com relação aos homens de 50 anos ou mais, o percentual é de 79,3%.

Vale frisar que essa estatística não apresentava crescimento desde 2016, ano em que foi registrado um aumento significativo na taxa masculina. Entre esses ajudantes do lar, estão Ricardo Lala e Wellington Camuci.

Um fica grato ao outro e não sobrecarrega ninguém”, afirma Ricardo. Entretanto, Nanci trabalha fora enquanto ele atua em casa e dispõe de mais tempo para algumas atividades, como lavar roupas e preparar o almoço no tempo em que a esposa busca as filhas na escola ao sair do serviço.

Sobre o antigo padrão familiar de que mulher é dona de casa e o marido responsável pelas finanças, Ricardo avalia como “puro preconceito e falta de evolução individual”. “A sociedade foi construída em cima do ponto de que o homem é forte e a mulher mais frágil, mas prefiro o tratamento igual, no qual a base é o respeito, a mulher tem seu valor e não pode haver descriminações”, finaliza.

Outro casal que divide desde as contas até o serviço em casa é Elisângela e Wellington Camuci. Casados há dez anos e pais de três filhos, estão sempre lado a lado quando o assunto é companheirismo. E assim como Ricardo, Wellington acredita que esse comportamento é uma herança da criação materna.

De acordo com ele, a participação do homem no lar mostra que hoje a mulher não é só a pessoa que nasceu para casar e ter filhos. “Ela também nasceu para trabalhar, ter a vida dela e ter as escolhas dela não é obrigada a nada”, pontua. Além disso, ele frisa que apesar dos homens estarem mais participativos, precisam melhorar ainda mais.

 

Bastidores do aumento

Segundo o pesquisador e sociólogo, Luiz Antonio Cabrera, um dos principais fatores que influenciam nessa quebra de paradigmas é o fato da mulher sair das funções antigas e procurar espaços no mercado de trabalho. Fora isso, destaca como relevantes nessa mudança os movimentos sociais, entre eles, o feminismo.

A mulher sai da exclusividade de realizar afazeres domésticos e começa a participar do mercado de trabalho, hoje o sistema capitalista agrega homens e mulheres”. Todavia, frisa que infelizmente os postos de lideranças em empresas ainda têm predominância masculina.

Outros motivos que podem influenciar esse aumento da participação masculina é a educação e a religião. De acordo com Luiz, hoje o sistema educacional tem promovido uma postura mais participativa entre ambos e a religião incentiva uma super valorização da mulher e um novo papel para o homem.

No mais, avalia esse novo cenário como a adoção de uma nova postura social e isso gera uma nova demanda que faz com que exista uma mescla entre homens e mulheres e uma maior aproximação entre ambos, tornando um coletivo mais participativo.

 

Reflexo social

Luiz, que tem 30 anos de experiência na área social, conta que existe uma mudança evidente no comportamento de homens e mulheres, conforme a modernização da sociedade.

Para ele, essa aproximação do homem com as atividades domésticas traz uma nova configuração para a sociedade e isso transforma o modo de vida e pontos de vistas. “Se o tecido social está se transformado, é certo que as pessoas incorporem as mudanças e criem uma realidade diferente”, conta.

Todavia, embora essas novas perspectivas estejam se consolidando ainda existem muitos ambientes e contextos que acentuam o machismo e a velha divisão de marido provedor da casa e mulher cuidadora.

Em âmbito regional e relacionado a Presidente Prudente, o sociólogo afirma não haver um estudo que diga precisamente se as taxas de participação masculinas estão em crescimento ou não, porém, no geral, tem acompanhado essa evolução constante.

 

Com a adoção de uma nova postura, cria-se uma nova configuração social e as pessoas incorporam um novo modo de vida

Luiz Antonio Cabrera

sociólogo

 

NÚMEROS

HOMENS

63.5%

Dos pesquisados com idade entre14 e 24 anos realizam serviços domésticos

80.9%

É o percentual para a faixa etária de 25 a 49 anos que participa das atividades

79.3%

Dos homens de 50 anos ou mais também colaboram com os trabalhos de casa

 

MULHERES

85,2%

Representam a faixa de 14 a 24 anos que realizam atividades domésticas

95,4%

É a porcentagem de 25 a 49 anos presente nos afazeres

90,8%

É o índice de mulheres com 50 anos ou mais que ajudam no lar

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