Recentemente o ministro da Justiça, Torquato Jardim, deu uma declaração que irritou alguns representantes públicos dos municípios e, inclusive, gerou uma resposta por parte da CNM (Confederação Nacional de Municípios). Segundo ele, em palestra durante o Fórum Econômico Mundial da América Latina, realizado em março, em São Paulo, “a Operação Lava Jato apura apenas 10% da corrupção do país”. Para o ministro, a corrupção que apareceu com a Operação Lava Jato, considerada a maior investigação do mundo sobre essa questão, “é pequena quando comparada às fraudes que ocorrem nos municípios brasileiros”.
“Nós estamos controlando algumas facetas, de algumas ações ilegais, em algumas capitais”, disse ele. “O resto do Brasil está fora. O problema é muito mais numeroso nos Estados. Nos municípios, nem se fala. O Brasil tem 5.570 municípios. Dos 3,5 mil municípios que foram auditados pelo Ministério da Transparência para saber do uso da verba federal, dois terços somem com dinheiro da merenda escolar, do material escolar e da saúde. Isso é muito mais sério que a Lava Jato. Estão destruindo o futuro do Brasil, estão destruindo as crianças brasileiras”.
As afirmações são graves, sérias, tristes, mas infelizmente verdadeiras. A corrupção que se vê lá em cima começa aqui embaixo, e não apenas entre os agentes públicos, mas naquele “jeitinho” que se dá pra tudo no Brasil diariamente. Mas é evidente que, quanto mais poder, maior a tentação para se corromper, por isso que a corrupção é mais perceptível no meio público.
Na manhã de anteontem quatro agentes públicos ligados ao Poder Legislativo de Sandovalina acordaram com um “bom dia” de policiais civis, promotores e auditores do TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo). O quarteto foi preso acusado de desvio de bens que pode alcançar o montante de até R$ 200 mil. As acusações envolvem os crimes de supressão de documentos públicos, peculato, inserção de dados falsos em sistema, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Obviamente que as investigações estão em curso e a culpabilidade ou não dos acusados deverá ser discutida em juízo, porém o caso é mais um dentre tantos outros que enfatiza a corrupção enraizada em solo tupiniquim. Na própria Sandovalina, recentemente, já tivemos operações semelhantes e com acusações ainda mais graves, envolvendo até os chefes do Executivo. São exemplos de que Torquato Jardim não estava tão errado assim quando disse o que disse, sobretudo quando afirmou que “estão destruindo o futuro do Brasil, estão destruindo as crianças brasileiras”.
