Cooperados lamentam perda do local de trabalho

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 17/07/2018
Horário 04:03
José Reis - Eva afirma que tentou ajudar a conter fogo, mas sem êxito
José Reis - Eva afirma que tentou ajudar a conter fogo, mas sem êxito

A Cooperlix (Cooperativa de Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente) foi fundada em 2003 com o objetivo de organizar os catadores de material reciclável, que até então precisavam se deslocar ao aterro municipal, a fim de tentar extrair, em meio aos resíduos ali dispostos, o sustento do lar e de suas famílias. Dentro da cooperativa, os colaboradores não só puderam garantir uma melhor qualidade de vida, como também tiveram acesso a um salário fixo, com uma carga horária de acordo com a legislação trabalhista, além de benefícios como alimentação, transporte e INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). No entanto, os mesmos que viram o trabalho crescer e se expandir foram os que encontraram a sede em ruínas no último fim de semana.

Mesmo com o incêndio que danificou quase 100% da estrutura e maquinário na noite de sábado e deixou 90 cooperados temporariamente sem geração de renda, funcionários não permitiram que a tristeza pelo abalo sofrido fosse maior do que a força de vontade para recomeçar. Sentados em frente à sede da cooperativa, localizada no Distrito Industrial Antonio Crepaldi, eles se apoiam e já mantêm reuniões para discutir alternativas visando retomar a coleta seletiva no município.

A cooperada Vânia Aparecida Vilela, 59 anos, afirma que viu a Cooperlix nascer como se fosse um filho, portanto, vê-la destruída lhe parte o coração. Acredita, contudo, que a determinação dos cooperados, somada à fé em Deus, será mais do que suficiente para reerguer a cooperativa. Desconfiada de que o desastre tenha origem criminosa, ela relata não sentir rancor pelo autor. “Não vamos criticá-lo nem jogar praga, mas pedir a Deus que lhe mostre o erro de ter feito isso. Juntos, vamos provar a ele que podemos conseguir algo até melhor do que aquilo que perdemos”, expõe.

Tijolo por tijolo

A cooperada Eva de Assis dos Santos, 54 anos, também faz parte do quadro de funcionários desde 2003 e, ao longo do caminho, já foi presidente do local por três vezes. Ela relembra que a sede foi alvo de incêndio em três diferentes episódios, mas que, desta vez, o fogo foi incontrolável. No momento dos fatos, estava com visitas em casa, porém, junto ao filho, correu até o local para tentar ajudar – sem muito êxito. “Quando chegamos aqui, os bombeiros não nos deixaram entrar, porque as chamas já tinham tomado conta de tudo”, rememora. “É um espaço onde vimos o primeiro tijolo ser assentado, sempre com muita luta”, completa.

Enquanto um local provisório para a continuidade dos trabalhos não é encontrado, Eva registra um apelo para a população: pede que, por ora, não coloque o material reciclável nas ruas e espere os caminhões voltarem a circular a fim de que possam recolhê-lo. “Porque agora, mais do que nunca, é o momento em que mais precisamos”, denota.

O cooperado Henrique Tadeu de Carvalho, 59 anos, já deixou a Cooperlix uma vez, mas decidiu retornar após a empresa onde trabalhava decretar falência. O apego pelo local fez com que recebesse a notícia sobre o incêndio com surpresa e choque. “Como eu estava sem transporte, só consegui ver a situação da cooperativa agora e estou muito triste. Tanto eu quanto todos que trabalham aqui dependemos da Cooperlix e não temos outro ganho por fora”, salienta.

As cooperadas Milaine Soares da Silva, 31 anos, e Marta Aparecida Souza, 50 anos, contam que estão há três anos ali, mas, em pouco tempo, desenvolveram um “vínculo especial” com a cooperativa. “Migramos para cá a partir da fusão entre a Cooperlix e outra cooperativa de material reciclável e tivemos a oportunidade de crescer. Uma segunda-feira que era para ser de alegria foi transformada em tristeza em meio a tanta destruição”, comentam. Além de contarem com o apoio da população e da Prefeitura, destacam que é, principalmente, a força de Deus que permitirá seguir em frente. “Certamente, será uma etapa difícil, já que teremos que começar novamente do zero, mas venceremos”, pontuam.

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