Conectados, mas sozinhos

Com a criação da internet, em meados da década de 1980, o modo de pensar, sentir e agir da humanidade vem mudando, a ponto de ficarmos fascinados com um site de busca onde, muitas vezes, se coloca como nosso “guru supremo” que tudo nos responde, desde que saibamos como fazer a pergunta certa.

O sociólogo profícuo da contemporaneidade, Zygmunt Bauman, que nos deixou em 2017, levantou uma reflexão de que nossa sociedade trata as relações interpessoais com superficialidade e fluidez. Mas, como assim superficiais? E por que isso importa? Para que precisamos nos aprofundar em uma informação se ela vai expirar em 5 minutos? E tem mais, hoje somos “várias gerações” coexistindo, como a X, Y (Millennials), sucedida pela geração Z. Sejam quantas letras do alfabeto tivermos, estamos todos juntos e misturados, conectados.

Eu as chamaria com um único nome: “Geração tenho que”. Tenho que ser feliz; competente; jovem; linda; alta (alta?); famosa; rica; inteligente; bom papo. Bom papo? O que seria isso? Não importa. Existem as redes sociais para nos aliviar de tanta pressão. Contudo, quando nos deparamos com outras pessoas nas redes sociais, sentimos um vazio, um sentimento de solidão e inadequação que nunca o ser humano vivenciou antes. Entramos em contato com personalidades perfeitas, das quais nunca conseguiremos nos igualar. E isso pode sim estar nos levando a sentimentos mais profundos de vazio, de solidão.

Não seria engano dizer que toda essa conectividade também ajuda a compor a lista de “ingredientes de um bolo” chamado depressão e ansiedade. Depressão quando mais ligada a fatores de perda, abandono, fracasso, desejos que não podemos alcançar; ou ainda quando temos uma visão negativa de nós mesmos, dos outros e do mundo. E é fácil hoje termos uma visão negativa, não é? Afinal, nossos “amigos” nas redes sociais estão sempre “melhores” que nós.

A ansiedade aparece por medo de um futuro catastrófico, onde não sabemos como será o dia de amanhã, em um mundo que muda de um segundo para outro, somado com uma autoavaliação de baixa capacidade, de incompetência (claro, nosso amigo é melhor que nós), e que muitas vezes está distorcida, mas o suficiente para tirar nosso sono. Nunca estivemos tão conectados e tão sozinhos ao mesmo tempo.

Tudo perdido? Não sabemos, mas acredito que o caminho para uma melhor qualidade de vida passa por continuarmos nessa “odisseia” maravilhosa da internet, sem deixarmos de lado a importância de um abraço presencial, de mais apoio social, tolerância e respeito mútuo. Que nossa evolução continue, mas com mais equilíbrio entre o número de fotos que tiramos, e o número de abraços que damos e recebemos.

Publicidade

Veja também