Com saldo negativo de 783 vagas, comércio lidera demissões

Nos últimos oito meses, somente em agosto o setor fechou em superávit; em contrapartida, categoria de serviços possui maior representatividade

REGIÃO - THIAGO MORELLO

Data 13/10/2018
Horário 05:09
Marcio Oliveira - Atuante no setor de serviços, escritório Líder evoluiu no quadro de funcionários
Marcio Oliveira - Atuante no setor de serviços, escritório Líder evoluiu no quadro de funcionários

A matemática ensina que menos com menos é mais, e apesar de muita gente achar que a operação não é utilizada no dia a dia, ela pode sim ser percebida no cotidiano, mas nem sempre de forma positiva. Menos com menos é realmente mais, e foi nessa equação que o setor do comércio chegou ao saldo negativo de 783 vagas de trabalho, resultado de uma média sequencial de baixas presenciadas de janeiro a julho, ou seja, maior quantidade de desemprego. Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que analisa mensalmente o mercado de trabalho nos municípios da 10ª RA (Região Administrativa) do Estado de São Paulo, cuja sede é em Presidente Prudente, e mostra também uma elevação no setor somente em agosto.

Na ponta do lápis, o valor não representa nem 1% dos 12,8 milhões de desempregados no país todo, conforme estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de agosto. Mas se trata sim de um reflexo que vem desde abril do ano passado, quando o órgão estatístico registrou o recorde de inativos, que chegou a 14,2 milhões no Brasil, algo jamais contabilizado.

Contudo, ao pensar em nível regional, o saldo dos quatro principais pilares do mercado de trabalho: agricultura, indústria, serviços e comércio, somente este último fechou as contas dos oito meses em negativo. E a incerteza de melhora atinge até mesmo quem cuida do setor. À frente do Sincomércio (Sindicato do Comércio Varejista de Presidente Prudente), Vitalino Crellis não consegue visualizar uma “luz no fim do túnel tão cedo”.

A crise financeira aliada à instabilidade no preço do dólar é vista por ele como o principal causador do cenário, que gera recesso na economia, firmeza na população que corta gastos e não compra ou compra menos, que, por sua vez, vai estagnar o mercado consumidor, analisa Vitalino. A partir deste mês, ele até arrisca palpitar um aumento no consumo e, consequentemente, novas vagas, mas que é causada pela sazonalidade do fim de ano. “Nesse jogo todo, a indústria e o comércio são os que mais sentem”, expõe.

Só não mais que aquele indivíduo que está loucamente atrás de um emprego. Louco pode até ser um adjetivo pejorativo, mas é desta forma que Isaque Elias Silva Costa se sente desde quando o desespero bateu, consequência da falta de emprego. Em busca de uma oportunidade desde março, quando foi demitido, sua carga de trabalho diária é, agora, percorrer ruas em busca de um verdadeiro trabalho.

E se antes a exigência de uma primeira experiência sempre foi algo destacado e para muitos até um empecilho, hoje nem isso é uma garantia para convocação. Isaque, por exemplo, tem formação técnica em contabilidade, já fez estágios em escritórios, trabalhou como operador de empilhadeira, outra vez em lanchonete, outra em cartório, Correios, motoboy e por aí vai, mas, mesmo assim, segue sem garantia de um cargo. “Hoje em dia, as empresas buscam mais por estágios. E quando não, os requisitos mínimos para contratação são mais dificultosos”, enfatiza.

Por ora, nesses seis meses pela busca de um posto de trabalho, Isaque tem apenas o saldo de 14 entrevistas feitas, o celular cheio de aplicativos que auxiliam na busca por vagas de emprego, como Indeed e Solutudo, e a frustração de até agora não ter conseguido se encaixar.

Saldo positivo

O que é válido ressaltar é o superávit, de modo geral, no mercado de trabalho. Apesar das dificuldades, os números do Caged mostram que a região está com o saldo de 3.194 vagas de emprego de janeiro a agosto, ocasionada pelas 5.949 admissões contra 2.755 demissões. O cadastro analisa oito setores e até o momento apenas dois estão na média negativa: ao lado do comércio, anteriormente exposto, vem a construção civil, também em déficit.

Na contracorrente desse cenário ruim, vem a categoria de serviços, com o melhor desempenho: saldo positivo de 2.024 vagas. “O setor hoje é o mais representativo na região, depois do comércio e indústria, logo, é o que mais necessita de vagas”, explica o gerente regional do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), José Carlos Cavalcante, que não deixa de dizer que, apesar de tudo, a classe também enfrentou crise, mas depende muito do processo manufaturado, dos recursos humanos, diferente da indústria, por exemplo.

Uma amostra clara dessa situação de quem opera nesse setor, é o caso do Escritório Líder Contabilidade, de Prudente, que constata uma estabilidade no mercado, no entanto, uma crescente ao longo dos anos. Isso é perceptível, segundo a encarregada do Departamento Pessoal, Cristiane Cruz, pelo número de profissionais existentes na empresa, que hoje é de 46 e nunca foi menor. “O que explica bastante é também a readequação salarial, no qual, muitas vezes, deixamos de pagar x por uma pessoa, e pagando y para outras duas, mas que vai estar na mesma equivalência, porém, com mais pessoal”, afirma.

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