Cirurgias bariátricas crescem 6 vezes em Prudente

De 2012 para 2017, número de procedimentos feitos no Hospital Regional saltou de 6 para 34; médico diz que cenário acompanha alta da obesidade

PRUDENTE - ANDRÉ ESTEVES

Data 21/07/2018
Horário 04:01
José Reis - Luiz Fabiano diz que cálculo de IMC é requisito para cirurgia
José Reis - Luiz Fabiano diz que cálculo de IMC é requisito para cirurgia

Desde 2012, cresceu quase seis vezes o número de cirurgias bariátricas realizadas pelo HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, em Presidente Prudente, por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). Naquele ano, foram feitos seis procedimentos, enquanto 2017 contou com 34 operações, conforme dados disponibilizados pelo hospital. Uma vez que as informações são fechadas somente ao final de cada ano, a instituição ainda não dispõe de um balanço referente ao ano de 2018. De acordo com o gastroenterologista Luiz Fabiano de Oliveira Lima, a maior quantidade de cirurgias acompanha o aumento de pessoas com sobrepeso e obesidade na região. Nesse sentido, o Estado entende que a realização de cirurgias é, em grande parte dos casos, menos onerosas do que o tratamento de doenças associadas, como diabetes, hipertensões e cânceres e até mesmo internações na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

O profissional explica que, a fim de ser considerado elegível para uma cirurgia bariátrica, o paciente precisa apresentar IMC (Índice de Massa Corporal) igual ou acima de 40 ou, em situação de comorbidade, equivalente a 35. Isso não significa que, apresentando este resultado, ele será submetido de imediato ao procedimento. Considerando que a redução de estômago é uma intervenção cirúrgica delicada, a primeira tentativa dos especialistas é o emagrecimento por vias naturais, ou seja, com a adoção de dietas e hábitos de vida saudáveis. Para tanto, o HR, em parceria com a atenção básica de saúde, obedece a um fluxo externo e interno, implantado pelo DRS-11 (Departamento Regional de Saúde) em junho de 2016.

O departamento preconiza que, caso as unidades de saúde esgotem as possibilidades de tratamento da obesidade em um período de 6 a 24 meses, este paciente deve ser direcionado ao setor de alta complexidade – ou seja, o HR. No hospital, ele é encaminhado para um profissional endocrinologista, que o avalia por até oito meses. A partir disso, recebe o acompanhamento de um nutricionista e um psicólogo, o qual fica responsável por “preparar a cabeça” do candidato. Se aprovado para a cirurgia, o indivíduo passa por uma série de exames que visam identificar se ele está apto para o procedimento. O cirurgião complementa esta avaliação e, se estiver de acordo, autoriza a operação.

Luiz Fabiano aponta que, não raro, há pessoas que chegam ao hospital com IMC inferior ao estipulado e passam a engordar propositalmente com o objetivo de ser enquadradas na cirurgia. O médico destaca que tal situação é facilmente detectada durante as consultas com o nutricionista ou o psicólogo e, quando isso ocorre, estes candidatos são obrigados a retornar para a atenção básica. Todo esse cuidado é voltado justamente para evitar que a redução de estômago seja realizada sem fundamento. Isso porque, segundo o especialista, é um procedimento que oferece riscos e exige um pré-operatório rigoroso para anular o índice de mortalidade e complicações. “Quando o paciente está bem preparado, os resultados são muito efetivos”, comenta.

O gastroenterologista pontua que os cuidados não terminam após a cirurgia. Assim que o indivíduo recebe alta, ele permanece em acompanhamento a fim de evitar que apresente complicações ou, no futuro, volte a engordar. Luiz Fabiano completa que, via de regra, o obeso mórbido é normalmente um paciente sedentário e que não possui uma alimentação saudável ou regrada. Desta forma, é necessário que, desde o início, todo o preparo seja dedicado a garantir que este indivíduo não tenha mais uma “cabeça de gordo”.

70 quilos a menos

Morador de Pirapozinho, Luiz Fernando Theotônio Filho, 29 anos, realizou a redução de estômago em agosto do ano passado. Ao entrar no centro cirúrgico, ele acumulava 158 quilos. Desde então, perdeu 70. Embora seu médico recomende a perda de mais oito quilos, o auxiliar de enfermagem já se sente plenamente satisfeito com o seu corpo atual. A decisão de recorrer ao procedimento surgiu após inúmeras tentativas de emagrecimento. Apesar de conseguir reduzir seu peso na maioria das vezes, o “efeito sanfona” sempre fazia com que recuperasse os quilos perdidos.

Para Luiz Fernando, a etapa mais difícil foi “mudar a sua cabeça”, considerando que o pós-operatório exige mudanças drásticas. “A partir do momento em que você recebe alta, não há escapatória: ou faz a dieta ou faz a dieta, pois seu organismo não aceita mais que você pense como um gordo”, relata. Por conta deste desequilíbrio entre mente e corpo, ele chegou a ser reprovado duas vezes nas avaliações psicológicas antes da cirurgia. Mesmo depois, a cabeça ainda era relutante. “Quando comecei a comprar roupa nova, tive muitos problemas. Eu não aceitava uma roupa mais apertada ou menor, pois estava acostumado com meu antigo corpo”, relembra.

Ao sair na rua, os comentários são unânimes: “você parece outra pessoa”. “E, de fato, eu me vejo como outra pessoa. Hoje, estou muito feliz, minha autoestima está lá em cima e, quando me olho no espelho, não tenho preocupação com a roupa que vou vestir ou o que as pessoas pensarão a respeito da minha aparência”, pontua o auxiliar de enfermagem.

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